Em política há um tempo. O chamado timing. Por exemplo, quem sabe se o facto do PCP ter demorado tanto tempo a anunciar a recandidatura de Francisco Santos à Câmara de Beja nas última autárquicas, levando à especulação de que haveria quem não visse a sua recandidatura com bons olhos, não foi o principio da derrota comunista no concelho?
Mas há timings políticos ao contrário. Em que não é o atraso, mas a precipitação que pode conduzir a derrotas. Observemos o caso das Presidenciais de Janeiro de 2011: alguém estaria, a um ano de distância, verdadeiramente preocupado com essas eleições? Penso que não. O tempo certo, para que os candidatos se posicionassem, seria depois das férias de Verão, lá para finais de Agosto. Mas não. Manuel Alegre deu o tiro de partida antes de tempo procurando condicionar toda a esquerda, objectivo em que manifestamente falhou.
Conseguiu dividir o PS antes de tempo e cair na armadilha montada pelo Bloco de Esquerda, que consiste em captar futuramente eleitorado de determinados sectores socialistas utilizando Manuel Alegre para o conseguir. Uma espécie de cavalo de Tróia, digamos.
Ora perante este quadro, precipitadamente desenhado por vários artistas, temos a seguinte situação concreta: o prof. Cavaco Silva como candidato da direita. Embora a nova liderança do PSD preferisse claramente outro candidato, lá vai dizendo que o apoia incondicionalmente. O CDS, percebendo este certo mal-estar no PSD, apoia abertamente o actual inquilino de Belém.
Manuel Alegre, grande vulto da cultura nacional, um dos poetas vivos maiores do nosso país, como candidato de determinados sectores da esquerda que vão do PS ao Bloco, passando por comunistas da desaparecida “ala renovadora”. Porém, sem criar uma vaga de fundo – muito longe disso –, onde era necessário criá-la para poder vencer. No PS.
Fernando Nobre, cidadão de grandes causas humanitárias, figura de referência do nosso país, que parecia trazer um ar diferente a esta corrida e que arrasta como seus apoiantes pessoas da esquerda moderada e do centro político, para além de um grande número de pessoas do mundo das artes e do espectáculo. Eu votaria Fernando Nobre sem problemas para qualquer eleição, mas dificilmente o farei para a Presidência da República. Por isso mesmo. Por se tratar da eleição para a Presidência da República e Fernando Nobre ser presidente da Assembleia Geral do Instituto da Democracia Portuguesa que emana, imagine-se, da Causa Monárquica! Ora não é um rei que iremos escolher em Janeiro de 2011.
Falta anunciar o candidato comunista, mas que será a voz do dono, isto é, a voz do partido, e essa já é conhecida desde a revolução bolchevique de 1917.
Nesta complexa tela de várias cores provavelmente votarei sem utilizar caneta. Se nada se alterar, limitar-me-ei a dobrar o boletim. E terei votado em consciência.
E o que deveria fazer o PS, pode perguntar-me o leitor? Na minha modesta opinião não deveria lançar qualquer candidato próprio, até porque já não tem espaço de manobra para isso, nem apoiar oficialmente nenhum dos candidatos já anunciados. Foi isso que o PSD fez quando Mário Soares correu à Presidência com Basílio Horta e não veio daí mal ao mundo.
O tiro de partida da “lebre” Manuel Alegre foi, como se constata, uma má decisão.
Como se constata, o timing é mesmo importante em política.
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