25 de Abril. Também em crise

Quinta-feira, 17 Setembro, 2020

Carlos Monteverde

Infelizmente, as comemorações do 25 de Abril, que foi a manhã de todas as esperanças, começam a arrastar-se penosamente ano após ano.
Os discursos na Assembleia da República do Presidente da República, aguardados há alguns anos com grande expectativa, provocam agora tédio e sonolência, até pela notória falta de preparação política de Cavaco Silva. A marcha dos militares de Abril na avenida reúne um grupo de nostálgicos de cravo ao peito, onde falta a espontaneidade das massas populares, que há 35 anos saíam à rua para vitoriar a revolução militar. Pelo país fora deitam-se uns foguetes por aqueles para quem a acção política, se resume a encher a rua de pessoas por militância partidária, sem qualquer outro objectivo, até de benefício, para essas pessoas.
Claro que o país mudou e para melhor. Acabou a guerra colonial e as mortes e estropiados da nossa juventude. Temos um país democratizado com a eleição livre dos nossos representantes. Temos um poder autárquico que fez chegar às pessoas o saneamento básico e condições de vida que não tinham antes do 25 de Abril. Mas temos um país mais desigual, em que o poder económico das famílias que mandavam no Portugal de Salazar e Caetano foi substituído pelo poder e ganância dalguns banqueiros e gestores, responsáveis pelas desigualdades e roubalheiras económicas que provocaram a actual crise, e que de mansinho se preparam para subsistir e voltar à sua actividade delapidatória, sem que ninguém os apresente à Justiça e julgue pelos seus crimes.
O grande erro dos portugueses em relação ao 25 de Abril foi pensar que a revolução nos trazia tudo de mão estendida, que tínhamos todos os direitos, esquecendo-nos dos deveres que deram origem aos grandes países. Fomos criando dívidas em vez de riqueza. Começando pelas escolas, onde as regalias dos docentes se multiplicaram mas as reformas pedagógicas para o ensino se atulharam na facilidade e na mediocridade com os resultados visíveis. Curiosamente, hoje a rua serve para tentar perpetuar as primeiras, mesmo com a ameaça de prejudicar um simples olhar sobre as segundas.
Na Justiça, arrastam-se as “Casas Pias” e o crime de “faca e alguidar”, enquanto “triunfam” as Fátimas Felgueiras e os Pintos da Costa. O dr. Isaltino até diz que alguns dos crimes que cometeu são habituais em Portugal e que toda a gente os faz. E neste país, com as leis que temos, e curiosamente não mudamos, esta gente vai voltar a ser eleita. Até porque a incultura gerada nas nossas escolas, vai perpetuando estes “santos populares”, que apesar de condenados, saem em ombros dos tribunais.
A imprensa, talvez pelos atrasos da Justiça, vai-se especializando nos julgamentos populares. O mote terá sido dado pela projecção alcançada pelo servil Luís Delgado à governação de Santana Lopes e Durão Barroso. Hoje debita os seus comentários medíocres em tudo quanto é rádio e televisão. Em Janeiro último, o país assistiu a uma entrevista do jovem Ricardo Costa ao primeiro-ministro, onde o jornalismo foi substituído pela má educação agressiva, e por uma tentativa de se colocar como jornalista em pé de igualdade com o primeiro-ministro do seu país. Está garantida e a acontecer outra ascensão meteórica. E já se vasculham os prédios da mãe do primeiro-ministro, outro compara José Sócrates à Cicciolina, e até uma senhora notária acha que cumpre um dever patriótico, fornecendo todas as escrituras pessoais e privadas a jornalistas sem escrúpulos. Claro que os jornais cada vez vendem menos, outros fecham e as figuras tristes e repugnantes da d. Manuela na TVI, não são certamente o jornalismo do futuro, nem ajudam a recuperar o que terá falhado depois do 25 de Abril.
Já aqui disse que o PS fez mal em não ter apoiado a proposta de João Cravinho sobre a corrupção. Quem não deve não teme e talvez se livrasse o país e José Sócrates deste espectáculo deprimente do Freeport e do pior jornalismo que se faz em Portugal. Em ano de eleições, não é tolerável que se esgrimam argumentos deste teor, que não vão ser resolvidos em tempo útil e que nunca podem ser factor de decisão da avaliação política sobre um primeiro-ministro, que tem tido a maior coragem na implementação de políticas penalizadoras, mas necessárias, em período de crise mundial e nacional.
Enquanto isto, e em lume brando, até Santana Lopes se prepara para voltar à política, sob a mão protectora da d. Manuela. Apesar de felizmente as primeiras sondagens não darem a vitória ao jovem guerreiro, como muitos gostavam e outros temiam, não deixa de ser curiosa a atitude daqueles que acham que são de esquerda, mas não prescindem da sua promoção pessoal, mesmo que isso posta custar entregar a maior câmara do país a uma personagem medíocre como é Santana Lopes e sua entourage.
Quem assistiu na televisão ao debate entre os candidatos às eleições europeias ficou a perceber porque é que as pessoas se abstêm de votar nalguns debates. E quanto a papagaios falantes, desta vez não foi só a d. Ilda a fazer a figura do costume. Esperemos que no que respeita às autárquicas, e particularmente à nossa cidade de Beja, a feliz candidatura apresentada pelo Partido Socialista, possa trazer um debate motivador e sério de que beneficie a cidade. Vamos certamente todos falar sobre isso em tempo útil.
São todos os debates, sobre estes e outros assuntos da vida do nosso país, que se os soubermos fazer com seriedade e competência, num país que é agora melhor que no tempo do Estado Novo, mas que tem de melhorar muito mais em Liberdade, que podem voltar a trazer alegria às pessoas e motivos para comemorar Abril.

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