Valentim Jesus regressou recentemente a Aljustrel, depois de décadas emigrado na Holanda, e deixou-se encantar por algo completamente diferente e inesperado: a robótica. “Parece que estou a regressar à juventude”, confidencia de sorriso largo este antigo tipógrafo, ao mesmo tempo que os movimentos das suas mãos vão “dirigindo” a marcha de um pequeno robô, que ora avança e vira à direita, ora recua e curva à esquerda.
Valentim Jesus tem 67 anos e é um dos alunos que se “aventuraram” em inscrever-se na nova disciplina de Robótica na Universidade Sénior de Aljustrel (USA). Um projecto que nasceu neste ano lectivo de 2019-2020, depois de uma experiência bem-sucedida no Verão, durante as actividades de tempos livres para os mais novos, e que é fruto da parceria que a Câmara Municipal local mantém com a associação Buinho, com sede em Messejana.
“Em Aljustrel, por via do nosso passado e do nosso presente, em que a ciência sempre esteve muito presente, em particular por via da mineração, habituámo-nos a valorizar o conhecimento científico, enquanto motor de desenvolvimento social e individual”, nota ao “CA” o presidente da autarquia, Nelson Brito.
Uma ideia que tanto Marta Campos, coordenadora da USA, como Carlos Alcobia, do Buinho, partilham, ainda para mais porque este projecto abrange pessoas cuja relação com as novas tecnologias vai (muito) pouco além dos telemóveis e das redes sociais.
“As aulas têm-se traduzido numa experiência muito enriquecedora, proporcionando aos alunos mais autonomia na parte tecnológica, combatendo a exclusão digital”, frisa a primeira. “No Alentejo grande parte da população é idosa. E a partir daqui podemos vir a criar uma solução para mais inclusão – inclusão tecnológica, inclusão digital – de alguém que estava ‘esquecido’”, acrescenta o segundo.
As aulas de Robótica na USA decorrem às terças-feiras, de tarde, e na pequena sala de aulas é evidente o interesse dos alunos. As perguntas sucedem-se e as ideias não param de germinar, associando robôs e programação a electricidade e outras questões do dia-a-dia.
“Eles estão cada vez mais exigentes, porque estão mais interessados. Também está a ser uma surpresa para eles, porque estão a ver utilidade nisto”, observa Carlos Alcobia, reconhecendo que as possibilidades são mais que muitas. “Estou a ver a possibilidade de transformarmos o espaço da USA num espaço inteligente, todo automatizado. Ou de fazermos projectos em conjunto com as crianças. Até a possibilidade de um dia termos um ‘Repair Caffe’. Seria uma ‘chapada de luva branca’ nas pessoas”, diz. “A disciplina também tem função de estimular a criatividade, a descoberta e a curiosidade, resultando em mais motivação e confiança por parte dos alunos, promovendo também uma estimulação cognitiva”, acrescenta Marta Campos.
Sentados à secretária, os alunos não escondem o seu fascínio pelo que estão a aprender. Afinal de contas, mexer em robôs é para todas as idades e não apenas coisa de crianças.
“Interessei-me por esta disciplina, porque me começaram a dizer que dava para mexer em robôs e isso. E como sou curioso vim”, revela Carlos Júlio, 71 anos e antigo funcionário da Zona Agrária de Aljustrel, que até já tem algumas ideias para colocar em prática. “O professor falou-me na possibilidade de poder montar uma rega automática no meu quintal, programada para trabalhar uma hora ou duas ou três”, desvenda.
Também Amável Vicente está satisfeito com o que tem vindo a aprender nas aulas de Robótica. “Isto é completamente diferente, mas estou a adorar. Confesso que no início estava um pouco relutante, mas até agora estou muito satisfeito”, garante este antigo comerciante de 72 anos.
“As aulas estão a ser interessantes e também ajudam a passar o tempo. Estou a gostar imenso”, remata Valentim Jesus, ao mesmo tempo que entrega o robô ao professor Carlos. Para a semana há mais!
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