A produção de cereais no Baixo Alentejo teve em 2023 um “dos piores anos de sempre”, com quebras entre os 50% e os 90%, devido à falta de chuva, reconheceram hoje os presidentes de duas associações de agricultores.
Em declarações ao “CA”, o presidente da Cooperativa Agrícola de Beja e Brinches (CABB), Fernando Rosário, não tem dúvidas em afirmar que 2023 “foi um ano péssimo” para a produção de cereais de sequeiro na sua área de influência, que abrange sobretudo os concelhos de Beja e Serpa, devido à seca.
“Foi um ano que começou com alguma precipitação e as pessoas começaram a gastar dinheiro, pensando que ia ser um ano normal. Mas desde o final de dezembro até maio estivemos sem chover uma gota de água”, lamenta.
Segundo este dirigente agrícola, esta realidade fez com que a produção de cereais de sequeiro na região, nomeadamente trigo, cevada, aveia e triticale, tenha registado uma quebra de “mais de metade face a um ano normal”.
“Há muitas explorações onde a produtividade não chegou aos 1.000 quilos por hectare” e, em termos gerais, “este ano talvez não consigamos chegar aos 10 milhões de quilos” de produção de cereais na área da CABB, observou Fernando Rosário.
Por isso, acrescenta o presidente da cooperativa, 2023 “deve ser dos piores anos” para a produção de cereais no Baixo Alentejo. “Não digo que seja o pior, mas é dos piores, seguramente”, frisou.
“Na altura da primavera a água faltou e, se calhar, este foi dos piores anos de sempre”, com quebras “na ordem dos 90%”, assevera o presidente da Associação do Campo Branco, António Aires
“Foi um ano que começou com alguma precipitação e as pessoas começaram a gastar dinheiro, pensando que ia ser um ano normal. Mas desde o final de dezembro até maio estivemos sem chover uma gota de água”, lamenta Fernando Rosário, da Cooperativa Agrícola de Beja e Brinches
Mais a sul, na área do Campo Branco, que abrange os concelhos de Castro Verde, Almodôvar e Ourique e parte dos municípios de Aljustrel e Mértola, a situação é em tudo idêntica.
“Deve ter sido dos piores anos de sempre” para a produção de trigo, cevada e aveia, reconhece ao “CA” António Aires, presidente da Associação de Agricultores do Campo Branco (AACB).
Também nesta zona o ano “começou muito bem”, com chuva em janeiro, o que levou os agricultores a fazerem “um investimento superior em relação aos anos anteriores”. “Mas na altura da primavera a água faltou e, se calhar, este foi dos piores anos de sempre”, com quebras “na ordem dos 90%”.
António Aires acrescenta que houve mesmo agricultores “que nem sequer ceifaram, pois o custo da ceifa era superior ao do cereal, dado terem apenas 200 ou 300 quilos por hectare”.
“E houve explorações que deram 700 ou 800 quilos [por hectare], quando davam 3.000 ou 4.000”, diz.
Para fazer face a este quadro, o presidente da AACB defende que seja revista uma das medidas previstas nos apoios aos ecorregimes, “que previa uma valorização para o produtor na ordem dos 100 euros por hectare”.
De acordo com António Aires, estes apoios pressupõem “um limite mínimo” nas produções, “no caso das aveias de 750 quilos e no caso do trigo de 1.500 quilos” por hectare.
“Mas dado que este foi um dos piores anos de sempre na nossa região, estamos a solicitar que esta medida possa fazer face aos prejuízos dos agricultores”, conclui.