Predadores ameaçam gado e avifauna no Campo Branco

Predadores ameaçam gado

Carlos Contreiras começou a semana da pior forma. Chegado de manhã cedo ao Monte de Pombeiros, perto da vila de Entradas, no concelho de Castro Verde, este agricultor de 62 anos deparou-se com (mais) um borrego morto, vítima de ataque de uma raposa. Pouco depois nova “baixa” no seu rebanho, desta feita com ferimentos na cabeça e no rabo, típicos das investidas de saca-rabos. “Entram por aí fora, comem o que têm a comer e abalam”, lamenta ao “CA”.
Há largos meses que Carlos Contreiras tenta travar os ataques de predadores ao seu rebanho, mas sem sucesso evidente. Uma realidade que se multiplica um pouco por todo o Campo Branco, com os produtores pecuários a desesperar com as cada vez mais constantes incursões de raposas, saca-rabos, texugos, javalis ou até corvos às suas propriedades, dizimando borregos e ovelhas. E nem as aves típicas da região, como a abetarda ou o sisão, escapam ao apetite voraz destes animais selvagens.
“É um autêntico flagelo. Todos os dias nos chegam notícias da acção destes animais selvagens que cada vez mais e em maior número atacam rebanhos de ovinos e assaltam galinheiros”, admite o presidente da Associação de Agricultores do Campo Branco (AACB), José da Luz Pereira. Uma opinião partilhada por aqueles que têm na produção de ovinos uma das suas principais fontes de rendimento.
“A situação é preocupante. Isto está de uma maneira que as pessoas já não sabem o que fazer aos animais. Praticamente têm de os meter em ‘casa’. E o que fica na rua e tudo o que nasce morre”, afirma António Lopes, 57 anos, proprietário do Monte da Barrigoa, perto de Casével, considerando que é a falta de alimentação que faz os predadores investir contra os rebanhos. “A fome é tanta que os animais perdem o medo”, diz.
A uma vintena de quilómetros de distância, as queixas repetem-se. “Isto vem-se a arrastar… Ano após ano é cada vez pior e chega a um ponto em que logo é muito difícil a gente criar aqui nesta zona, especialmente borregos”, nota António Lúcio, 57 anos, que tem a sua exploração agrícola no Monte das Sorraias, na freguesia de Santa Bárbara de Padrões. “São raposas, saca-rabos e corvos! Quando as ovelhas estão a ‘afilhar’, se não estivermos próximos quando a ovelha acaba de ter o borrego, ou se há alguma que fica mais de parte, sem se conseguir levantar, quando lá chegamos já os borregos estão mortos”, reforça.
Os produtores pecuários ouvidos pelo “CA” reconhecem que “sempre houve” raposas, saca-rabos e outros predadores no Campo Branco. Mas nunca como agora, nem a causar tantos prejuízos nas explorações agrícolas.
Esses animais “atacam praticamente todos os dias! E toda a gente se queixa. […] Porque há mais predadores e menos comida”, garante Carlos Contreiras, corroborado por António Lúcio: “Têm vindo a aumentar bastante e até à luz do dia já me atacaram o rebanho. Já nem sequer é só à noite”.
“Há um excesso enorme de predadores. Os borregos nascem e os corvos atacam-nos logo nos olhos e no rabo. Isto está preocupante e qualquer dia as pessoas acabam por reduzir os efectivos, porque não têm condições para aguentar isto”, adverte António Lopes, considerando que tudo se deve a um “desequilíbrio” na natureza. “O único predador destes predadores é o homem. E as proibições que há para abater esses animais são de tal ordem que eles se vão reproduzindo e cada vez há mais”, frisa, continuando: “Existirão sempre raposas e saca-rabos, mas agora chegámos a um ponto em que o desequilíbrio é de tal ordem que só há raposas, saca-rabos e pouco mais. Tem de se actuar rapidamente, para bem das nossas aves protegidas e dos nossos animais”.
António Lúcio concorda. “Este caso é complicado de resolver… Quanto a mim, teriam de permitir deixarmos laços ou armadilhas para tentar apanhar os bichos”, diz, ao que acrescenta Carlos Contreiras: “Tem de se abater uma parte desses predadores. Caso contrário, e se isto continuar assim, é para vender” os rebanhos.

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Correio Alentejo

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