A Câmara de Castro Verde acaba de criar o Observatório do Cante Alentejano e o Centro de Documentação do Cante Alentejano, por forma a “preservar a memória” e “salvaguardar” esta tradição.
Ambos os projetos, já em execução, são coordenados por José Francisco Colaço Guerreiro, responsável pelo programa “Património” na Rádio Castrense e com vasta experiência no ensaio de grupos corais, e surgem num momento em que os efeitos da pandemia na “vida” dos grupos corais é por demais evidente.
“Receamos que este ano e meio de ausência de ensaios, de afastamento social e de desligamento total da prática do cante tenha consequências muito gravosas para o futuro do cante alentejano”, assume José Francisco Colaço Guerreiro.
O Observatório do Cante Alentejano vai funcionar como um “gabinete de recolha, tratamento e análise estatística dos dados anualmente obtidos junto dos grupos corais”, por forma “a que se possa fazer, de forma sistemática, uma avaliação do estado atual e da evolução do movimento coral”.
“Neste momento não sabemos quantos grupos estão a cantar, quantos elementos têm, qual a sua média etária, quantas crianças, mulheres e homens cantam, quantos grupo mistos ou infantis existem… Esse levantamento não está feito e o Observatório irá proceder à recolha, tratamento, análise estatística dos dados obtidos junto dos próprios grupos corais”, explica o coordenador do projeto.
Segundo Colaço Guerreiro, este “será um trabalho feito anualmente e anualmente atualizado”.
“Não há uma ‘varinha mágica’ para a salvaguarda do cante. […] Temos consciência das nossas limitações, mas a ambição é desmedida.”
Colaço Guerreiro | coordenador do Observatório do Cante Alentejano
A par do Observatório do Cante Alentejano, a Câmara de Castro Verde lançou igualmente o Centro de Documentação do Cante Alentejano, projeto “apostado em preservar a memória e a salvaguarda do movimento coral e do cancioneiro tradicional”.
Esta é uma iniciativa de “grande relevância”, assume o coordenador, explicando que o Centro irá atuar em duas dimensões: “O movimento coral e cancioneiro tradicional”.
Nesse sentido, diz, “será constituída uma base de dados referente ao universo dos grupos corais, organizada por concelhos, com os respetivos historiais, contactos, imagens e registos sonoros”.
“Por outro lado, teremos uma outra base de dados com as modas do cancioneiro, onde queremos juntar o maior número possível de registos audiovisuais das modas tradicionais que existem no cancioneiro do Alentejo, tornando-as disponíveis para quem quiser consultar”, acrescenta.
Ainda no âmbito do Centro de Documentação do Cante Alentejano serão ainda “efetuados e adquiridos trabalhos escritos e audiovisuais sobre o cante, disponíveis para consulta publica na Biblioteca Municipal Manuel da Fonseca”, em Castro Verde, que passará a ter um fundo documental próprio sobre o assunto.
De acordo com José Francisco Colaço Guerreiro, o trabalho do Observatório e do Centro de Documentação do Cante Alentejano abrangerá todos os grupos corais “espalhados pelo mundo”, num contributo da Câmara de Castro Verde “para a salvaguarda do cante”, que é património imaterial da Humanidade da UNESCO desde 2015.
“Não há uma ‘varinha mágica’ para a salvaguarda do cante. Já lá vão seis anos desde que aconteceu a classificação do cante como património da UNESCO e não está feito nem está a ser aplicado um plano de salvaguarda, que era uma das condicionantes da própria classificação. Nós vamos dar o nosso contributo”, vinca Colaço Guerreiro, para logo concluir: “Temos consciência das nossas limitações, mas a ambição é desmedida”.