O turismo é cada vez mais um sector fundamental na economia de Mértola. Um facto assumido pelo presidente da Câmara Municipal, que em entrevista ao “CA” fala sobre o presente e o futuro do concelho, não escondendo a expectativa de ver o centro histórico de Mértola classificado como património mundial pela UNESCO. “Este selo dava-nos garantias de que este bem excepcional iria continuar a ser tratado, a ser feita a sua manutenção e não haveria perdas, nomeadamente patrimoniais”, afiança Jorge Rosa.
Em que ponto se encontra a candidatura de Mértola a património mundial da UNESCO?
A candidatura está neste momento submetida, Mértola está na lista indicativa nacional e, possivelmente, dentro de dois ou três anos podemos vir a ser escolhidos. Neste momento estamos a preparar essa candidatura à UNESCO, vamos reunir as comissões que escolhemos para este processo e estamos a preparar a apresentação. Queremos que seja uma candidatura forte, que quem vá avaliar consiga perceber a excepcionalidade de Mértola.
Ou seja, em 2020 ou 2021 poderemos vir a ter Mértola classificada como património mundial?
Possivelmente… Iremos tentar ter a candidatura pronta em 2019, mas sabemos que estes processos por vezes demoram um, dois ou três a ser devidamente avaliados. Por vezes até são avaliados e relegados para um segundo momento de avaliação. Mas era bom que até final deste mandato [2021] tivéssemos essa candidatura em cima da mesa para avaliação e boas indicações de que poderíamos obter esse selo de património mundial da Humanidade.
Sente que esse selo traria – ou trará – um novo fôlego para a vila e para o concelho?
Sem dúvida! Todos os reconhecimentos internacionais são muito bons. Nós já temos alguns e vemos o impacto que isso tem na visitação e no interesse em vir a Mértola. Mas neste caso, este selo dava-nos garantias de que este bem excepcional iria continuar a ser tratado, a ser feita a sua manutenção e não haveria perdas, nomeadamente patrimoniais.
Está em início de novo mandato, desde logo marcado por muitas obras, caso da construção do Lar das 5 Freguesias, em São Miguel do Pinheiro. Em que ponto está a empreitada?
A obra está avançar, ainda que numa fase inicial da execução. Foi um processo muito corajoso por parte da Câmara de Mértola, pois como se sabe há certos investimentos que as câmaras não estão vocacionadas para ter. Normalmente tentam colaborar ou ajudar em parcerias para que eles aconteçam, que foi o que tentámos num primeiro momento. Como isso não surtiu efeito e este equipamento estava identificado na Rede Social como uma necessidade, decidimos criar uma forma financeira para o lançamento do lar. Mas não foi nada fácil, porque era uma obra inicialmente orçamentada em 4,2 milhões de euros. Num primeiro momento tivemos de a “emagrecer”, reduzir a área de construção e conseguimos chegar a um orçamento de 3,1 milhões de euros. Lançámos o concurso por esse valor, que para qualquer câmara é muito pesado e para o qual tivemos de contratar financiamento bancário. Neste momento temos a obra inscrita nas prioridades de investimento do Município dentro da contratualização dos fundos comunitários e temos uma pré-indicação – embora sem certezas – de que poderá ser financiada. E embora não seja financiada na totalidade, poderá ser financiada na ordem dos 55%/60%, o que já é uma grande ajuda. E é talvez o ponto de ganharmos equilíbrio para que a gestão deste equipamento possa fazer o serviço da dívida do empréstimo bancário. Julgo que além da uma forma corajosa de avançar com isto, foi também uma forma que encontramos bastante inteligente de não causarmos um impacto demasiadamente grande nos fundos da Câmara.
Em que medida é esta obra importante para aquela zona do concelho?
É uma obra que vai trazer dinâmica àquela zona. Seja pela resposta social, seja pelos empregos que vai criar – entre 25 a 30 empregos directos com o lar em funcionamento. Há ainda os utentes que vão ficar ali a residir e depois há aquela dinâmica de os familiares os irem ver… Vai criar uma certa dinâmica que aquela zona do concelho precisa, vai criar riqueza por via do emprego e pode também ajudar a fixar pessoas.
Poderá estar a funcionar em 2019?
Não será muito fácil… Temos os 18 meses de obra mais seis para o equipamento, o que dá 24 meses. Iniciámos a obra no final de 2017, portanto iremos concluir todo este processo no final de 2019. Por isso, digo que se estiver a funcionar em meados de 2020 já seria bastante bom.
Já está definido o modelo de gestão do novo espaço?
Estamos a discutir o formato de funcionamento. Ainda não falámos com a Segurança Social aprofundadamente sobre isso e não há ainda um formato escolhido.
Em construção está também o Pavilhão Multiusos. A Feira da Caça de 2018 já será no novo espaço?
Estamos a tentar que sim. Tínhamos intenção de inaugurar a obra em Maio, mas não vai ser possível porque este tipo de obras atrasa-se sempre. Mas queremos que a obra esteja pronta no final de Junho, princípio de Julho. Se conseguirmos que a inauguração seja em final de Julho é bastante bom… Mas tenho a expectativa que o grande evento que vai inaugurar aquele espaço seja a Feira da Caça.
Qual a mais-valia deste espaço para Mértola?
Tendo já diversos eventos consolidados, com maturidade e dimensão nacional, precisávamos de ter um espaço destes. Até para dar resposta a outras ambições que temos relativamente a outro tipo de eventos. Com este equipamento damos resposta aos eventos da Câmara, mas também iremos dar resposta a todas as necessidades que Mértola tem tido de espaços deste género. Penso que vai ficar ali uma resposta para o futuro, que vai enquadrar todas as necessidades do concelho de Mértola.
Está previsto um grande investimento da empresa Águas Públicas do Alentejo (AgdA) no abastecimento de água na margem direita do concelho. Admite, tal como o ministro do Ambiente, que quando tudo estiver terminado, em 2020, Mértola deixa de ter preocupações a este nível?
Totalmente não ficará! Mas essas obras são há muito ansiadas por nós, pois temos sempre muitos problemas de falta de água – e não apenas no Verão. Mesmo que o ano seja chuvoso, quase sempre temos problemas em alguns furos ou captações. A ligação [do Enxoé] a Alqueva veio simplificar isso na margem esquerda, mas toda a margem direita continua a ter os mesmos problemas, pois só existem captações subterrâneas.
Daí a importância deste projecto da AgdA?
O que este projecto da AgdA em parceria com as câmaras vai permitir é que uma parte substancial da margem direita – nomeadamente em percentagem de habitantes – possa ficar servida via Alqueva e via Santa Clara. Essas obras estão lançadas e uma delas já está no terreno a ser executada, que é o aumento da capacidade de transporte de água até à vila de Mértola. Depois daqui irão iniciar-se as outras obras. Uma para a zona norte, até Vale de Açor de Cima. Uma a centro, até Penilhos. E uma a sul, até Diogo Martins e Penedos. Será uma resposta muito importante e se calhar ficaremos com 85% da população abastecida com água superficial, com qualidade e quantidade. Mas restarão os restantes 15%, que terão de continuar a ser alimentados por furos artesianos!
Ao mesmo tempo a autarquia continua a investir no saneamento básico.
Temos tido sempre em curso obras de saneamento básico. Mértola tem quase 120 localidades habitadas e fomos trabalhando por níveis de serviço à população e olhando aos problemas ambientais que essas localidades têm. Neste momento temos uma obra em execução em Montes Altos, estamos a iniciar uma em Alcaria Longa e estamos a preparar os processos para lançar obras em Alves e Picoitos. E quando terminarmos em Alves e Picoitos, só já teremos localidades com 50 ou menos habitantes para resolver. Estas obras são muito importantes, porque estamos a construir uma rede de águas capaz e verdadeiramente nova. E ao fazer estas obras estamos a eliminar quase totalmente as perdas de água, estamos a meter tubagens em condições e estamos a construir redes de esgotos novas, que vão resolver uma série de problemas.
Trata-se de um investimento pesado?
Em média fazemos duas destas obras por ano, investindo cerca de dois milhões de euros por ano. É verdade que depois as candidatamos e estas são financiadas numa parte, mas fazemos sempre um esforço no orçamento da Câmara na ordem dos 500/ 600 mil euros por ano para este tipo de obras. Ou seja, nestes 14 anos, estamos a falar de um investimento na ordem dos 30 milhões de euros.
Todos estes investimentos de que já falámos não colocam em risco saúde financeira da autarquia?
O rigor e a disciplina nas contas é nosso ponto de honra! Vamos investindo, mas sempre na medida das nossas possibilidades. Contratamos empréstimos mas deixamos sempre uma margem grande de endividamento por contratar. E neste momento temos uma situação financeira perfeitamente estável, com um nível de endividamento muito baixo em relação àquilo que poderíamos contratualizar, praticamente sem dívida de curto prazo, com um prazo de pagamento entre os 20 e os 25 dias e com uma dívida de médio e longo prazo que também não é relevante. Portanto, temos uma situação financeira perfeitamente estável, controlada, muito disciplinada, muito rigorosa e que nos dá também a garantia de no futuro continuarmos a investir ao mesmo nível dos últimos anos.
O turismo e a caça são sectores que se complementam. Que peso têm na economia local?
Há algum tempo que temos vindo a apostar fortemente no turismo e, neste momento, é a resposta económica mais importante destes territórios. O turismo cinegético é uma dessas áreas em que Mértola tem uma apetência natural fantástica e o que fizemos foi agarrar nessa apetência natural, potenciá-la, dar-lhe valor e fazer em torno disso este marketing que resultou muito bem e que nos deixa este honroso título de “Capital Nacional da Caça”. Mas também temos trabalhado muito outras áreas do turismo de natureza, com resultados fantásticos. Posso dizer que 50% da ocupação de camas em Mértola é com o turismo de natureza. Mas obviamente que continuamos a trabalhar no turismo arqueológico e patrimonial e sempre vão aparecendo novos vestígios que vão renovando a importância arqueológica que Mértola tem. A gastronomia é outro dos aspectos que faz os turistas virem a Mértola. Por isso em qualquer dos nossos eventos estão presentes a gastronomia e os produtos tradicionais.
O turismo pode ajudar a “combater” um dos maiores problemas de Mértola (e de todo o interior), que é o envelhecimento da população e o despovoamento?
Esse é um problema grave… É por essa razão que procuramos ter este trabalho tão activo e tão dinâmico de conseguir criar sectores para as pessoas se empregarem e terem a sua subsistência. E por via do turismo há uma série de operadores e empresas que estão a funcionar e que, depois, acabam por justificar a existência de outros serviços, nomeadamente serviços públicos. É essa dinâmica que tentamos, com muito esforço, que se mantenha e que queremos que continue por muitos anos.