De Lisboa à Cidade de Macau são milhares de quilómetros de distância. E foi todo este mundo de paisagens, culturas e gentes diversas que está entre o ponto de partida e de chegada que o castrense Jorge Duarte Estêvão acaba de ligar… quase sempre de comboio. “Não existe transporte tão romântico como o comboio. Num avião, raramente se encontram boas histórias para contar”, confidencia ao “CA”.
Jorge Duarte, de 41 anos, iniciou a sua arrojada “empreitada” em Maio último, partindo de Lisboa rumo ao Extremo Oriente precisamente no ano em que assinalam os 20 anos da passagem de Macau para administração chinesa. Acabaram por ser sete meses de viagem e perto de duas dezenas de países que teve de atravessar, com muitas descobertas à mistura.
“Houve locais a que voltei – como Belgrado ou Istambul – onde fiquei mais espantado do que da primeira vez que lá estive. Foi como se nunca tivesse lá estado antes. E depois sítios que me surpreenderam, como a Capadócia, onde passei quase duas semanas a fotografar. E os que me chocaram, sobretudo devido ao excesso de turismo. Pamukkale, na Turquia, foi provavelmente o mais grave nesse aspecto e talvez o Lago Bled, na Eslovénia”, revela o viajante.
Mas passando todas as memórias da viagem em revista, Jorge Duarte não tem dúvidas: “O país que mais me surpreendeu foi a China, as melhores paisagens estão na Geórgia e o mais intenso calor humano senti-o na Turquia e Uzbequistão. Se pudesse escolher apenas um país, o local de eleição seria o Quirguistão. Tendo já visto paisagens fascinantes na Austrália, Nova Zelândia, Islândia ou Montenegro, creio que não vi ainda nenhum outro país com a beleza desta nação da Ásia Central”.
A viagem de Jorge Duarte terminou recentemente e o castrense não se arrepende minimamente de ter optado pelo comboio. “Se viajasse de carro ou caravana – algo que ainda ponderei –, iria ganhar maior autonomia e talvez até fosse mais económico. No entanto, iria perder outros aspectos que, na minha opinião, são mais importantes para um projecto deste género. Por exemplo, não iria conseguir ter tempo para observar de perto as gentes locais e os seus costumes e de, com eles, partilhar histórias. Iria perder, creio, autenticidade”, observa.
Jorge Duarte Estêvão já visitou perto de 60 países nos cinco continentes. Fê-lo por prazer, com vagar e sem a obsessão de passar pelos locais mais mediáticos. “Neste momento, o que mais me interessa é quem conheço, com quem falo, a gastronomia que provo. Igrejas, museus, galerias de arte continuam a interessar-me, mas não troco uma hora de conversa com um estranho na Arménia por uma visita a um templo ou igreja”, garante.
A paixão pelas viagens, confessa, não sabe de onde veio. Mas tem uma suspeita. “Talvez desde que saí de Castro Verde para viver num outro ponto do país e mais tarde viver noutros locais em Portugal e no estrangeiro. Tudo isso permitiu-me conhecer um bocado do mundo e até de mim próprio. Ao mesmo tempo, ia consumindo bastante literatura ligada a viagens e comecei a fotografar, pelo que tudo isso foi fundamental para esta atracção pelos lugares do mundo”, revela.
E de todos os lugares por onde já passou, continua, são muitos os que persistem na memória. De Bagan, em Myanmar, onde assistiu “ao melhor nascer-do-sol do planeta”, ao silêncio do deserto do Namibe, na Namíbia, onde já esteve “mais do que uma vez”, diz, para logo acrescentar: “Marcante foi igualmente o ‘cara-a-cara’ com tubarões, em mar alto, no Belize, sem jaula. Ou o céu mais estrelado que já observei, no Milford Sound, numa noite de Natal na Nova Zelândia, ou o colorido da Aurora Borealis, na Lapónia finlandesa. Mais recentemente, fica-me na memória a viagem à Papua Ocidental, na Indonésia”.
Mas se fosse obrigado a escolher as melhores viagens que já fez, Jorge Duarte não tem dúvidas: “Seriam a travessia independente que fiz entre a Namíbia, Botswana e Zimbabué e uma outra em que atravessei o México, a Guatemala e o Belize”.
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