Com a bola colada aos pés, Maria Augusta tenta a custo chegar à baliza contrária. Depois de um ressalto aqui e um toque ali, a atleta consegue ganhar metros e, finalmente, ensaiar o remate à entrada da área. A “redondinha” até sai ao lado do alvo, mas Maria Augusta não desanima e é de imediato apoiada pelos colegas de equipa… e pelos adversários. Afinal de contas, o resultado é o que menos importa no jogo que acaba de chegar ao fim.
“Isto não é para ganhar, é só um jogo e é para a gente se divertir e para convivermos uns com os outros”, diz pouco depois ao “CA” esta utente da Cercicoa, no descanso entre uma partida e outra.
Maria Augusta é uma das dezenas de participantes na Liga de Futsal Adaptado da Associação de Futebol de Beja (AFBeja), cuja edição de 2022-2023 terminou no passado dia 26 de maio, em Castro Verde. Além da Cercicoa (que tem sede em Almodôvar e abrange igualmente os concelhos de Castro Verde e de Ourique), a edição da prova contou ainda com a participações de equipas da Cercibeja, do Centro de Paralisia Cerebral de Beja, da Associação de Paralisia Cerebral de Odemira (APCO) e da Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental de Moura.
O projeto nasceu na temporada de 2017-2018, pela mão da AFBeja, com o objetivo de promover a saúde e os estilos de vida saudável. A integração e inclusão de pessoas com deficiência, assim como a igualdade e equidade de oportunidades na prática de uma nova modalidade, são outras das metas da iniciativa, retomada na anterior época desportiva, após a paragem causada pela pandemia.
“O objetivo principal desta Liga é a inclusão e transmitirmos ou criarmos a possibilidade de, através do desporto, tornar o desporto inclusivo, que não olhe para problemas ou handicaps a nível físico ou mental”, frisa Rui Baião, coordenador do projeto.
Segundo este técnico da AFBeja, a Liga de Futsal Adaptado é feita a pensar nos seus participantes, sendo o retorno “muito positivo, quer dos atletas quer dos próprios treinadores que os acompanham”. “Sem eles não seria possível”, afiança.
Quem mais satisfeito fica com a Liga de Futsal Adaptado da AFBeja são os próprios atletas, para que os dias de jogo são quase sempre experiências únicas.
“Isto é para a malta se divertir e para estarmos todos distraídos”, conta ao “CA” João Paulo Chaminé, de 24 anos. Para este utente/atleta da Cercicoa/FC Castrense, esta “é uma boa liga”, onde “os colegas são todos bons e os adversários excelentes”. “Mas isto não é para ganhar nem perder, é mesmo só pela desportiva”, acrescenta este admirador de Cristiano Ronaldo.
A mesma opinião tem a colega de equipa Maria Augusta, de 28 anos. “Isto não é para ganhar, é só um jogo e é para a gente se divertir e conviver uns com os outros”, frisa.
Na Liga de Futsal Adaptado da AFBeja todos vencem. Talvez por isso o projeto seja muito acarinhado por todos os participantes, constituindo igualmente uma mais-valia e um complemento ao trabalho diário que é desenvolvido diariamente por cada uma das instituições que nele participam.
“É um projeto muito importante por várias razões. Primeiro pela promoção da atividade física e da vida saudável e depois pela questão do convívio. E, por fim, há a parte da inclusão social, porque as pessoas saem das suas instituições e vão visitar outras localidades”, destaca António Matias, presidente da Cercicoa, que compete na Liga em parceria com o FC Castrense.
Para este responsável, “é fundamental para que as pessoas se sintam atletas ‘a sério’ e percebem que têm condições físicas e intelectuais para praticar uma atividade desportiva competitiva”. “Este é um exemplo muito prático! Vemos aqui pessoas com limitações mais graves ou mais ligeiras, mas todas podem entrar dentro de campo e dar o seu contributo à equipa”, acrescenta.
Por sua vez, Tiago Matos, treinador da equipa da APCO, que entrou na prova em parceria com o Odemirense, destaca a possibilidade que esta Liga tem de proporcionar “momentos de alegria e lazer” aos participantes.
“De certa forma, estamos a incluí-los e a dar-lhes um momento de atividade em que se sentem mais inseridos e mais integrados na comunidade”, reforça o jovem treinador, acrescentando que este projeto permite, em simultâneo, dar aos utentes “algumas valências motoras, seja brincar com a bola, correr ou mexerem-se”.
“Tentamos dar-lhes um momento para eles evoluírem socialmente, cognitivamente e fisicamente, mas também que retirem prazer disto, que é o mais importante”, diz.
Este rol de mais-valias faz com que o projeto da Liga de Futsal Adaptado da AFBeja seja para continuar (e até crescer) na próxima temporada desportiva de 2023-2024.
“Queremos consolidar o projeto e, além destes encontros a nível distrital, queremos, no final da época, fazer um encontro com instituições de outros distritos”, afiança Rui Baião. A par disso, conclui, “queremos também fazer uma seleção distrital e um torneio triangular ou quadrangular com outras associações”.