A empregabilidade e o desenvolvimento económico e social do concelho continuam no topo das prioridades da Câmara de Aljustrel, revela o autarca Nelson Brito em entrevista ao “CA”. “Tenho a visão que a empregabilidade é o fim que temos que alcançar para fazer face a um dos grandes ‘males’ do território, que é precisamente a questão da demografia e da baixa densidade populacional, até mesmo da própria natalidade", diz o edil socialista, revelando igualmente os novos projectos que estão na agenda da autarquia mineira.
A empregabilidade no concelho tem sido sempre uma constante no seu discurso desde 2009, quando assumiu a presidência da Câmara de Aljustrel. Esta é uma preocupação – e uma prioridade – que se tem mantido neste presente mandato?
Tem e continuará a ser! Tenho a visão que a empregabilidade é o fim que temos que alcançar para fazer face a um dos grandes “males” do território, que é precisamente a questão da demografia e da baixa densidade populacional, até mesmo da própria natalidade. Quem tem emprego estável está mais disponível para fazer outro projecto familiar, englobando filhos. Quem tem empregabilidade está mais disponível para se fixar no território. E o território só se torna atractivo para novas pessoas se tiver empregabilidade. Por isso, esta tem sido uma das visões que temos colocado no Município e no território do concelho.
Mas deixe-me dizer que ao nível da empregabilidade – e o concelho de Aljustrel ainda não tem em número preocupante este tipo de problemática – é necessário que a região saiba receber a nova emigração no território. Desde logo porque somos um país que tem fornecido ao longo da sua história, para muitos países, uma comunidade vasta de emigrantes. Por isso, temos uma obrigação moral – enquanto região e enquanto país – de saber receber, socializar e aculturar os outros. E, por outro lado, também me parece muito importante que o próprio país, que necessita desta mão-de-obra, saiba respeitar esta mão-de-obra que vem de fora e, de alguma forma, conseguir familiarizá-la com o território, com as nossas aldeias, com as nossas vilas… Acho que esse é um caminho que temos de fazer na região e também aqui no concelho de Aljustrel.
Como?
Há novas pessoas, novas mentalidades, e elas fazem-nos falta, por isso temos de saber ir ao encontro delas. E o território vai ter essa ‘convulsão’ social de novas culturas, novas crenças, novos hábitos… E não vamos conseguir contrair essa tendência. Temos é que, atempada e o organizadamente, como país de democracia consolidada, saber fazer este percurso de socialização das pessoas que estão a chegar.
Mas estes fenómeno da imigração já se faz notar de forma significativa no concelho de Aljustrel?
Montes Velhos e Ervidel são as freguesias onde isso se nota mais.
E qual tem sido a vossa estratégia no sentido de fazer face a esta nova realidade?
É esse caminho que estamos a traçar, trabalhando em conjunto com as entidades – neste caso, de forma privilegiada, com a Associação de Beneficiários do Roxo –, no sentido de começar a integrar estas pessoas. Desde logo em coisas básicas como a habitação, mas também em algo que nos preocupa bastante, que são os menores que vêm com os seus pais e que nós não podemos deixar de fazer com que vão à escola pública. Por isso, há um trabalho que está a ser feito em termos sociais de acompanhamento destas pessoas. Mas parece-me que mais que o concelho de Aljustrel, é preciso que a região tenha uma estratégia. Porque este não pode ser um problema de um só município! Terá que haver uma visão integrada a partir do território inter ou supra-municipal. Porque este é um fenómeno que irá ter até a sua “mobilidade” entre freguesias dos vários concelhos. Por isso, não vale a pena estarmos a colocá-lo confinado a um só concelho. Parece-me que isso não é estratégico nem correcto!
Aljustrel surgiu recentemente no 83º lugar do mapa do poder compra. Este é o efeito prático daquela que tem sido a vossa estratégia no domínio do desenvolvimento económico?
É um indicador de uma estratégia que não envolve só a Câmara. Hoje há um conjunto de visões neste município, entre o sector público e o sector privado, que trabalham todos os dias nesse sentido. Por parte do Município, temos a visão que a empregabilidade é um factor de qualidade de vida de que não prescindimos e que para nós tem sido uma prioridade bem delineada desde o início do nosso mandato autárquico. Porque entendemos que é através da empregabilidade, da sustentabilidade familiar, do “ganha pão”, que as pessoas criam garantias de qualidade de vida e boas condições. Por isso, a questão económica da empregabilidade sempre assumiu, na nossa perspectiva, grande importância, no sentido que está aqui o garante daquilo que é um percurso de progresso que se quer para o território do concelho.
Nesse plano da economia, e já olhando para 2020, quais são as prioridades previstas no vosso Orçamento e GOP?
Há duas visões nesse orçamento. Uma é a visão material, com a requalificação de áreas como a Área Empresarial e a envolvência do Parque de Feiras de Montes Velhos, a execução do Centro de Negócios [de Aljustrel] numa lógica de um futuro centro de start-ups – que queremos ligar a uma rede de start-ups do país, nomeadamente a partir da Start-up Lisboa –, a expansão de Aljustrel e a implementação de Ervidel enquanto núcleos empresariais no concelho. Mas por outro lado, também é para nós importante esta visão surgir agregada a uma outra, de inovação, de ciência, de investigação e de empreendedorismo, associada àquilo que temos no território hoje. Há hoje um conjunto de actores no terreno que fazem com que haja um investimento imaterial nesta nova visão tecnológica, de ciência, de investigação e de empreendedorismo que queremos no território. E isto é um pilar importante dentro do conceito de economia e da nossa visão económica. A região tem que dar um pulo tecnológico e temos que perceber isso!
Ao nível do Parque Mineiro, que avanços estão previstos para 2020?
Os avanços que estão previstos são a musealização que irá ocorrer. E há uma intervenção de fundo que irá começar no primeiro trimestre, estando apenas dependente do parecer do Tribunal de Contas, que é o Centro de Recepção e Acolhimento. São dois passos que irão desenvolver-se, a par da conclusão da própria instalação da visitação do Chapéu de Ferro, cuja última fase está a decorrer. E o próximo ano será essencial para o parceiro privado que queremos comece aqui a fazer caminho.
Que parceiro privado?
Através dos órgãos municipais queremos colocar essa possibilidade, através de um concurso público para a concessão deste espaço, para podermos fazer caminho com um parceiro estratégico, com know how nesta área da visitação e da própria promoção. Para que o próximo ano seja o ano do impulso principal e para que o Parque Mineiro, nessa vertente de visitação e de património de arqueologia mineira, venha a ganhar um novo “élan”.
O futuro Centro de Documentação Local e Museu da Tipografia é para abrir em 2020?
No primeiro trimestre estará seguramente feito! O Museu da Tipografia irá estar ligado às artes gráficas e àquilo que sempre teve uma grande implantação em Aljustrel. Por outro lado, no Centro de Documentação Local iremos tentar que o seu acervo documental seja de dimensão universal em termos do território. Ou seja, das áreas económicas à actividade sindical, assim como toda a actividade autárquica e associativa, é para nós relevante que venham a ganhar ali espaço.
Ou seja, será um Arquivo Municipal no sentido literal do termo e não um mero arquivo do Município?
Exactamente! Não iremos ali fazer o arquivo da Câmara, mas sim o arquivo documental de toda a vida pública do concelho de Aljustrel. Queremos que seja um arquivo vivo, interactivo, onde seja permitido o máximo de consulta. Esperamos que a história colectiva de Aljustrel, de alguma forma, fique ali imortalizada. Será, se quiser, a “Torre do Tombo” à escala do concelho.
Está prevista a ampliação do Centro Escolar Vipasca. Pode haver obras já em 2020?
É uma obra que está também em avaliação pelo Tribunal de Contas e esperamos pelo parecer positivo para podermos fazer a consignação. É uma obra que terá de ser articulada com o Agrupamento de Escolas, para causar o mínimo de problemas à comunidade escolar. Mas é uma obra que nos parece muito importante, dotando de mais salas de pré-escolar e primeiro ciclo este espaço – que como se sabe, está com três salas de primeiro ciclo fora do espaço escolar. Por isso – e é importante que se frise – aquilo que estamos a fazer é corresponder apenas ao excedente que o Centro Escolar actual tem e não a uma lógica de criar mais salas para podermos encerrar escolas [nas aldeias]. Somos os primeiros a tudo fazer para que essas escolas se mantenham em funcionamento, para manter o território equilibrado. Onde não há crianças perde-se vida. Que diga Rio de Moinhos aquela que foi a batalha intransigente que mantivemos há cinco, seis anos, e que não foi ganha apenas momentaneamente. O que aconteceu depois a essa escola? Manteve-se aberta estes anos todos! […] [Com estas obras] o espaço social do CAIM – Centro de Animação Infantil Municipal irá ganhar novas valências. E depois, além de um espaço social com maior envergadura e capacidade para 150 ou 200 pessoas, e de novas salas para os profissionais, aquilo que para nós é fulcral é que este Centro Escolar irá ficar dotado de mais salas de experimentação, de mais salas de actividade musical, informática… Os nossos filhos têm direito a uma aprendizagem formal, mas também têm que ser preenchidos como mulheres e homens completos enquanto futuros profissionais em áreas como a informática, a música ou a actividade física.