Um beijo para o casal Brito Lança

Carlos Monteverde

O dr. Brito Lança deixou-nos fisicamente no dia 25 de Novembro. Numa cama do Hospital de Beja, onde ele foi mestre em Medicina durante cerca de 30 anos. Rodeado pela esposa e pelos filhos.
Nos anos de 70, vindos de Lisboa, deram nome e suporte científico ao Hospital de Beja, três prestigiados médicos. O dr. Brito Lança, o dr. Covas e Lima e o dr. Horácio Flores. Conjuntamente com muitos outros médicos, cujo contributo também foi indispensável e que eu significaria no dr. Escoval Lopes. Todos conferiram ao nosso hospital um prestígio na formação médica que se estendeu a todo o país.
Nas enfermarias de medicina, o mestre formou vários internos, tratou milhares de doentes deste Alentejo onde também nasceu, fez os seus “diagnósticos difíceis”, diagnosticou as hemoglobinas sem precisar do laboratório e falava de Medicina de manhã à noite, porque a Medicina era o seu mundo e a sua paixão.
O dr. Brito Lança era um apaixonado da Espanha, das suas gentes e da sua cultura. Nos anos 80 e durante vários anos seguidos, levou-nos a vários congressos científicos ao país vizinho, onde a par da formação científica se cimentou uma amizade, que naturalmente vai perdurar para além do seu desaparecimento físico.
As viagens na carrinha do casal Lam, aos congressos de Huelva, de Sevilha, de Madrid e tantos outros, serão para sempre uma saudade para a D. Anita e para todos os médicos mais novos, que tiveram o privilégio de partilhar na participação nos congressos, com piqueniques inesquecíveis e outros momentos de lazer que agora nos obrigam a dizer à nossa cidade de Beja, que há pessoas que partem fisicamente, mas que continuam sempre perto de nós, pelo que fizeram por tantos doentes, pela sua sabedoria, pela dedicação, pela amizade, e porque, de facto, no caso do dr. Brito Lança, se trata de um cidadão que foi um orgulho para esta cidade e para o seu hospital.
E toda a cidade lhe foi dizer Adeus, e todos os funcionários do hospital, actuais e já reformados, com todo o conselho de administração presente.
O dr. Brito Lança foi ter lá cima com o dr. Semedo, com o dr. Serrano, com o dr. João Lam. E outros mais que também partiram, mas ficaram connosco. Talvez um dia o hospital e a cidade se aproximem num jantar com os que ainda estão presentes e fizeram o nosso hospital. Para que lhes possamos dizer a eles, cá de baixo, que os ideais e as obras não morrem. E que os temos sempre presentes na saudade, na gratidão e na amizade.
Uma última palavra de apreço e admiração para a D. Anita Brito Lança. Está para nascer um poeta que consiga traduzir em palavras o amor, a dedicação e o carinho que a D. Anita sempre dedicou ao seu marido. Nestes últimos anos de doença do dr. Brito Lança, esta Mulher com maiúscula, lutou pela vida do seu marido, como nenhuma outra esposa faria. Não dormiu quando era necessário estar atenta. Não comeu quando era mais importante acudir aos males da doença. Nada para ela tinha importância que não fosse estar ao lado do seu marido. Em casa e no hospital. E quando na última noite de vida do dr. Brito Lança me preocupei com o seu cansaço, respondeu-me que teria muito tempo “depois” para descansar. E sentou-se numa cadeira ao lado da cama de onde o dr. Brito Lança lhe estendeu a mão, que certamente ainda hoje mantém unida. Na manhã seguinte presenciei o adeus sereno e digno que a esposa e filhos lhe deram no último momento. Um Homem Grande e uma Grande Família.
Todos fizemos dentro das nossas limitações, até de sabedoria, o que podíamos pelo nosso mestre. Como dever e gratidão de discípulos, a quem nos deu tantas lições médicas. A D. Anita deu-nos uma lição de vida. Por isso o título desta minha homenagem é, para sempre, “ Um beijo para o casal Brito Lança”.

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