Não, não é verdade que tenhamos de ser todos amigos no local de trabalho ou nas relações institucionais. Não é preciso darmo-nos todos bem para que as coisas corram bem.
Obviamente que não temos de ser meros executores desprovidos de empatia e respeito pelo outro. E também não se trata de autoritarismo, de falta de diálogo ou de ausência de gratidão. Se estas características podem anular ou dificultar o relacionamento entre pessoas e organizações, não é menos verdade afirmar que a mistura emocional entre os âmbitos profissional e social e entre as esferas pública e privada pode diminuir bastante a eficácia do processo e a qualidade dos resultados.
Não é positivo nem salutar quando cidadãos ativos e com responsabilidades se deixam iludir com o pressuposto que o que é bonito é sermos todos amigos. Esta falsa premissa torna-se muitas vezes o oco conteúdo de um debate, de uma reunião, de uma relação institucional. Eu não te confronto, tu não me confrontas, eu não te chateio, tu não me chateias, eu faço que não sei e que não vejo, tu fazes que não sabes e que não vês. Este acordo é um pântano, uma preguiça, uma acomodação, uma falta de coragem. Desse pacto raramente sai algo substancial ou dinâmico, as partes preferem calar-se quando a voz é necessária e abster-se quando o posicionamento é indispensável. Anula-se tudo o que é incómodo e adiam-se todas as decisões difíceis.
É no seio desta aparente paz que vivemos todos, sempre cuidadosos para não ferirmos suscetibilidades, sempre cordatos para que todos gostem de nós e espalhem a notícia da nossa bondade e da nossa constante ausência de perguntas ou opiniões, sempre disponíveis para concordarmos com tudo ainda que não tenhamos analisado nada do que nos foi solicitado, sempre compreensivos para com a inobservância das leis, a ultrapassagem de prazos e o incumprimento do projetado e prometido. É neste registo de fantasia que passamos muitos dos nossos dias, sem duvidarmos, sem nos inquietarmos, sem questionarmos, sem confrontarmos, sem pedirmos contas.
Frise-se que uma postura afoita não existe para gáudio pessoal. Esse comportamento ousado torna-se absolutamente necessário, porque só através do debate, da argumentação e da contenda se conseguem verdadeiras mudanças.
As pessoas conhecem-se, as pessoas são amigas, as pessoas vivem na mesma terra, as pessoas conhecem a família, as pessoas frequentam os mesmos locais, as pessoas almoçam ou jantam juntas. Mas depois as pessoas assumem certos cargos, desempenham determinadas funções e as outras com quem elas almoçam ou jantam assumem outros cargos, desempenham outras funções. E aqui começa a verdadeira prova de fogo, aqui começa a encruzilhada, aqui começa a escolha do caminho a seguir.
Discordo porque assumo os meus deveres e afirmo a minha convicção ou concordo apenas porque almoçamos juntos? Aponto alternativas porque é melhor para um empreendimento global ou calo-me porque conheço a família? Exijo esclarecimento cabal ou fico em silêncio, porque calado não me comprometo? Intervenho ou faço-me de morto, porque ninguém sabe o dia de amanhã?
Não é fácil este equilíbrio entre o trabalho e o conhaque, melhor dizendo, entre a função e as minis.
As profícuas relações institucionais implicam uma certa dose de formalidade, um terreno limpo onde a assertividade, a mãe da transparência e da firmeza, possa exercer o seu mister de maneira eficaz, atempada e justa.
Mas a assertividade, a filha da clareza e da frontalidade, tem vários inimigos.
O mais comum é o amuo, a resposta preferida daqueles que não conseguem olhar de frente, a reação daqueles que, instalados nas suas mordomias e acomodados nas suas rotinas, se sentem atingidos pelas decisões tomadas ou pelas avaliações feitas por alguém no estrito cumprimento das suas competências hierárquicas ou funcionais. Esquecem-se, ou não aceitam, que a competência de cada peça é fundamental para o bom funcionamento de toda a estrutura.
Veem sempre nesse ato decisório e nessa avaliação uma perseguição e um ataque pessoal.
O amuo tem duas variantes principais: o enfado e a irritação.
E a vitimização e a má-língua são as traves-mestras desse estranho mundo sensorial.
Às vezes, confesso, espanta-me como é que algumas coisas ainda funcionam.
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