Senadores da desgraça

Quinta-feira, 25 Maio, 2017

Carlos Pinto

director do correio alentejo

Os últimos tempos têm sido bastante agradáveis para os portugueses. Da conquista do Euro 2016 à vitória no Festival da Eurovisão, do reconhecimento de Portugal como local perfeito para a instalação de empresas de base tecnológica ao crescimento do número de turistas a visitar o país, tudo serviu para afagar o nosso orgulho nacional. E depois, ainda mais importante, há os números da economia: o défice está baixo como nunca, nos primeiros três meses de 2017 o PIB cresceu incrivelmente e até a Comissão Europeia recomendou aos Estados-membro tirar Portugal do procedimento por défice excessivo.
Os portugueses estão, de facto, de parabéns por aquilo que têm conseguido. Mas mesmo assim, continuamos a ter de levar diariamente nas televisões, rádios e jornais com alguns “senadores da desgraça”, que não escondem o terrível incómodo que sentem diante do caminho que o país tem vindo a trilhar nos últimos meses. O melhor exemplo chegou esta semana, numa entrevista publicada no “Jornal de Negócios” e transmitida pela rádio Antena 1: João Salgueiro, antigo presidente da Associação Portuguesa de Bancos e ministro do PSD, considerou que o crescimento do PIB no primeiro trimestre de 2017 foi fruto do acaso, talvez obra e graça do Espírito Santo.
“Não se fez nada para isso”, disse simplesmente, ignorando por completo o esforço que milhares de portugueses (talvez ele não) tiveram de fazer diariamente para enfrentar as restrições a que foram sujeitos. “Aconteceu”, acrescentou ainda, desvalorizando incompreensivelmente o arrojo de homens e mulheres que, enfrentando ventos e marés e contrariando apelos à emigração, investiram, empreenderam e criaram riqueza. Já na época dos Descobrimentos muitos foram os “velhos do Restelo” que os portugueses tiveram de ouvir e ignorar. Que se continue a fazer… mesmo em pleno século XXI.

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