É estranho um funcionário de uma repartição pública dizê-lo, mas confesso que gosto do fim das férias.
Durante o ano anseio pela chegada desses dias de redenção, dessas noites quentes e barulhentas das esplanadas algarvias, dos restaurantes apinhados e do suplício para arranjar um lugar de estacionamento.
Sonho com esse mar que se levanta a meus pés, sublime, morno e soberbo, como se eu me vingasse do chefe de repartição, do inspetor com cara de gozo e de todos os utentes mal-humorados e impertinentes que me inundam a vida no resto do ano e me deixam à beira de um ataque de nervos.
Pego no carro e parto sem olhar para trás.
Descubro dois metros quadrados de areia vagos. Espeto o chapéu-de-sol como quem crava no chão o seu estandarte, arrumo os chinelos, estendo a toalha, ponho a geleira à sombra, desdobro o jornal, enxoto o cão, levo uma bolada, como uma bola de Berlim e anseio não encontrar alguém conhecido.
E nas primeiras manhãs – as piores, as da vergonha – tenho de me untar de protetor fator cinquenta para evitar que o sol me calcine a pele macerada pelas luzes da repartição.
Fumo um cigarro e deixo-me ali estar a torrar, ora de um lado, ora de outro, para pôr cor na pele e na vida.
E assim adormeço. Esqueço-me do mundo.
Mas ao fim de uns dias acordo. Sinto-me mal. Cansado. Será do sol? Terá sido do arroz de marisco? De repente fico farto das melgas e dos supermercados cheios de funcionários de repartições públicas!
Os últimos dias são já uma moinha, uma fartação de sal e de sol, uma náusea de tanta gente, uma falta imensa de comer uma açorda e de saber qual é o dia da semana, uma necessidade aflitiva de preencher uns formulários, de conferir uns impressos.
Sabe-me bem regressar à lengalenga dos dias parecidos. De sair e encontrar as caras de sempre, de dizer bom dia e ouvir bom dia, de beber um café e dar dois dedos de conversa.
Quando chega o dia de regresso ao trabalho já estou feliz. Ainda bronzeado, aprumo-me. Lavo-me por fora que por dentro já estou lavado, faço a barba com tempo e precisão, visto uma camisa branca, trago o olhar a direito pelo vinco das calças, pela goma da camisa e recolho-o no espelho. E sorrio. De contente.
Entro até antes da hora. Passo ternamente a mão pela secretária. Toco no agrafador, nas resmas de impressos, na esferográfica atada com um cordel, no teclado, no rato, na impressora. Mergulho o olhar e os dedos nos sítios recônditos das gavetas. Abro as narinas aos cheiros do papel e do pó do tempo.
“Noto-lhe um ar tranquilo”, diz-me uma colega.
E eu, pateticamente, respondo, “ Não faz mal, isto depois passa.”
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