Atualmente, as redes sociais funcionam quase como uma «CNN para cidadãos comuns». Amplificam opiniões, críticas e emoções numa escala que era inimaginável há apenas algumas décadas. No entanto, este espaço digital, embora importante para a visibilidade e mobilização, tem um efeito paradoxal. Por um lado, promove a expansão do conceito de cidadania, dando voz a muitos. Por outro lado, tende a simplificar o debate e a criar bolhas de desinformação e polarização.
Na democracia local, isso traduz-se em movimentos massivos de opinião, muitas vezes fora de contexto, nos quais comentários imediatos e emocionais são preferidos à participação efetiva.
Em 12 de outubro de 2025, os portugueses participarão na 13ª eleição municipal desde o estabelecimento da democracia. Eles elegerão 308 presidentes de câmara, os respetivos vereadores e membros das assembleias municipais, bem como 3.259 assembleias de freguesia.
Este universo envolve dezenas de milhares de representantes locais: mais de 300 executivos municipais, cerca de 2.300 membros de assembleias municipais e quase 30.000 representantes eleitos para assembleias de freguesia, cobrindo todo o território nacional.
A par dos inúmeros comentários e opiniões que se multiplicam nas redes sociais, especialmente à medida que o período eleitoral se aproxima, há um facto básico que passa despercebido a muitos cidadãos. Nas eleições locais, não escolhemos apenas quem lidera as câmaras municipais, mas também quem supervisiona, questiona e representa a voz do povo no espaço deliberativo das assembleias.
O foco deste artigo é precisamente esse: as assembleias. Muitas vezes vistas como secundárias, elas são tão importantes quanto os executivos municipais ou paroquiais. É nessas assembleias que as políticas locais são analisadas, as medidas são aprovadas ou rejeitadas e os representantes eleitos trazem à mesa os problemas, as necessidades e as aspirações que ouvem todos os dias nas ruas.
A assembleia municipal, em particular, tem uma relevância única. Além do executivo municipal, inclui todos os presidentes das juntas de freguesia e, acima de tudo, os deputados municipais, que representam diretamente a voz dos cidadãos. São eles que levam as preocupações locais ao conhecimento das autoridades. Desde aqueles que querem saber quando um determinado projeto vai finalmente arrancar até à resistência do bairro que se opõe a medidas que não servem as suas necessidades.
Essas assembleias também são um espaço de participação direta dos próprios residentes. Todas as sessões são públicas e incluem um período para intervenção dos cidadãos. É uma oportunidade que muitas vezes é desperdiçada, mas que deve ser vivida como um momento de cidadania ativa.
Infelizmente, esse capital democrático é muitas vezes transferido para as redes sociais, um terreno fértil para a desinformação e o discurso agressivo. As pessoas criticam em frente a um ecrã, mas esquecem que o local apropriado para questionar, debater e responsabilizar as pessoas é dentro dos órgãos representativos. Assim como se pede aos políticos que sejam mais responsáveis, também é essencial reconhecer a responsabilidade cívica dos cidadãos: questionar onde as perguntas devem ser feitas e participar onde a participação é necessária.
Pode ser mais fácil expressar uma opinião online, mas o verdadeiro exercício da cidadania requer presença e voz onde realmente importa. Só assim é possível fortalecer a saúde cívica do nosso regime democrático, resistir à cultura do ódio e promover uma sociedade mais informada e responsável, especialmente em época de eleições.
«O pior cego é aquele que não quer ver. O pior cidadão é aquele que se recusa a ouvir e a participar.»