Ela traz a Primavera toda no corpo. É uma luminosa madrugada de Abril que nos invade saborosamente. É terra e adubo. Carne e fruto. Um campo arredondado que apetece percorrer à mão e sem descanso. Ou um morango por apanhar, dizem os lábios gulosos dos homens. Os cabelos são ervas perfumadas, ninho de dedos, escadas de subir aos céus. Cordas de nos atarmos ao resto. Cabos de alpinista que desce.
E desço. Para beber a água dos olhos. Porque os há que são poços sem fundo.
E pintá-los de mar ou de limão ou de polpa de melancia até às sobrancelhas. E depois tomar banho na enseada das pupilas. E nadar por dentro de um túnel secreto que os olhos têm.
Os ouvidos são a foz das palavras. É para lá que elas caminham gulosas, como formigas com patinhas de veludo, levando geleia nos dorsos para oferecerem ao cérebro que as gosta de comer.
Os lábios são cerejas antes de tempo. A boca é um cabaz para um piquenique de beijos. Os dentes gomos de laranjas doces. A língua o pão fresco. Que é como quem diz quente.
O pescoço é o caule que suporta esta flor de carne. Ou o altar que sustenta a fé no desejo. Amarro duas cordas aos ombros dela e faço um baloiço entre mim e o decote.
Deve ser em lugares destes que os rouxinóis repenicam o cante. E onde os olhos se deitam em almofadas de espanto.
A barriga é já o mar alto e o umbigo o farol para eu me perder. Ou se regressarmos à terra, um campo todo, todo verde com uma papoila no meio.
As ancas vertem mel dos movimentos. São uma colmeia de abelhas doces guardando uma maçã. Os braços são as hélices deste delírio e as mãos têm gelados de pêssego nas pontas dos dedos.
Desço pelas ervas. Escorrego pelos troncos das pernas e sinto medo. É este o caminho das serpentes. O pântano por debaixo dos nenúfares.
Acabo esta crónica a seus pés.
Que foi sobre uma borboleta colorida.

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