Praxe, IPB e ModaBeja

António Revez

É da praxe falar da praxe nesta altura do ano. A praxe é como a estupidez e a palermice acéfala, ou a cretinice paternalista, ou a canalhice intimidatória, nunca vão acabar. Às vezes florescem até, dissimuladas na fantasmagórica apologia da tradição e do espírito académico, sebastiânicos pretextos e descarados álibis de quem precisa de ofender, insultar, vexar, inferiorizar, humilhar e traumatizar, para se sentir pertencer a uma identidade colectiva qualquer, para experimentarem a presunção da importância e da visibilidade, para se inebriarem de um folclórico poder, para se vingarem do esquecimento e do anonimato, para retribuírem o espezinhamento e a frustração que vem do sistema, ao qual prestam vassalagem de cabeça baixa, mas de esqueleto negramente encapado uma ou duas vezes por ano.
A praxe académica é um miserável festival de rasquice e de violência e qualifica perfeitamente todos os que a impõem e os que a ela se sujeitam. Os primeiros, armados de um anacrónico autoritarismo moral, reminiscência da imagem coimbrã do “doutor”, feita de serenatas sexistas, disciplina sebenteira, e boémia destravada, coagem psicológica e simbolicamente os novatos a quem é apresentada a inevitabilidade da praxe ou então a alternativa da “anormalidade” e da “ghettização”. Os segundos, imersos na fragilidade da sua condição, socializados na e pela obediência, assumem mansamente o seu destino académico: serem gozados e ridicularizados. É este o mandamento dogmático da praxe: receber e integrar os novos alunos pelo recurso ao gozo e à caricatura, quando não à agressão e à imposição forçada.
É claro que a palhaçada da praxe, os seus promotores e as suas cobaias, tem a impunidade institucional na vanguarda e a permissividade cultural e social na retaguarda, e passeia-se pelas ruas das cidades, recebida ou com indiferença ou com o assentimento risonho que autorizamos ao circo. Por isso, seria uma medida a aplaudir, à semelhança de uns poucos estabelecimentos de ensino superior, se se proibisse a praxe no campus do IPB, e, assim, este excluía-se da cumplicidade com os espectáculos vergonhosos ou risíveis que se repetem intramuros.
E por falar em IPB, considero temeroso que a direcção do IPB venha a público declarar que os resultados do acesso ao ensino superior foram “muito positivos” para o IPB. Ora tenho alguma dificuldade em vislumbrar tanta positividade nesses resultados, quando eles mostram que uma das quatro escolas do IPB está literalmente às moscas. E já não é de agora. A Escola Superior Agrária bateu no fundo da atractividade e viabilidade, e é cada vez mais premente discutir uma alternativa estrutural, que podia passar por uma Escola Superior de Artes Plásticas, Artes Performativas e Design. A verdade é que muitos dos cursos que o IPB promove estão saturados ao nível do mercado de trabalho, e não tem havido frontalidade e coragem para desinstalar lobbies internos e repensar radicalmente a oferta.
Muito positiva foi a primeira edição do ModaBeja, que teve lugar no pretérito sábado no castelo de Beja. Entregue aos cuidados da Cocas Produções, que o organizou e produziu, o evento foi um manifesto sucesso de público e envolveu muitos espaços comerciais da cidade, e demonstrou a vitalidade e competência da produtora bejense para produzir espectáculos desta natureza. O ModaBeja proporcionou uma glamourosa noite de beleza e arte, música e animação, e o seu êxito é a promessa de que terá continuidade, e é a certeza do dinamismo da iniciativa privada em Beja.

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