Portugal: Um país inclinado

Quinta-feira, 17 Setembro, 2020

Francisco Orelha

presidente da Câmara Municipal de Cuba

Se fosse possível, o país inclinava e todos nós caíamos ao mar, tal é a concentração de pessoas junto ao litoral. Este é um país que cresce a duas velocidades e, em cada dia que passa, aumentam as assimetrias entre o litoral e o interior.
O êxodo populacional do interior para as grandes cidades, junto ao litoral e respectivas periferias, teve o seu início na década de setenta, foi agravado pelo fenómeno da emigração e nunca mais parou. O despovoamento passou a ser notório e agravou, sobremaneira, os custos da interioridade.
No Baixo Alentejo, região que tão bem conheço, a desertificação começou por atingir os montes alentejanos esvaziados de pessoas e foram, depois, votados ao abandono. Igual sina tiveram os pequenos povoados e as aldeias. Tudo isto aconteceu face à inexistência de políticas visionárias, avançadas no tempo.
Passadas quatro décadas parece que ninguém viu, que ninguém quis saber as causas e as razões deste fenómeno, e agora o que fazer…??? Eis que chegou o ingrato momento de nos começarmos a confrontar com questões difíceis de resolver, como é exemplo a falta de crianças nas escolas dos pequenos povoados e aldeias. Por falta de educandos a maneira mais fácil de resolver este problema foi tentar encerrar as escolas com menos de 21 alunos. É definitivamente o caminho mais curto, mas é também, muito convictamente, o mais perigoso!!!
Encerrar escolas foi a solução encontrada quando deveria ter sido feito o oposto, isto é, criar condições para aumentar o número de alunos nas escolas. Provavelmente já é tarde para inverter este destino, contudo podemos afirmar que, até o mais distraído, sabia que isto iria acontecer. Hoje são as escolas que encerram, amanhã passaremos a ficar sem médicos. Este perigoso caminho conduzir-nos-á a aldeias fantasmas, sem qualidade de vida, com casas devolutas, abandonadas, sem qualquer procura.
Interroguemo-nos pois sobre o que fazer para inverter esta situação. É tarde, mas ainda assim, alguma coisa pode e deve ser feita para combater este flagelo da desertificação. Dir-me-ão que o problema é a falta de pessoas. Não é verdade, existem muitos Portugueses no estrangeiro, tantos quantos aqueles que cá estão. Dez milhões cá dentro, outros dez lá fora.
Ao longo de doze anos trabalhámos, dotámos o nosso concelho de condições físicas de excelência, criámos incentivos, mas só isto não é suficiente. Se tivemos o choque fiscal, porque não reflectir sobre a necessidade de um choque demográfico.
Necessitamos de atitudes práticas, incentivos fiscais na aquisição de terrenos e outras medidas que estimulem a fixação na periferia de particulares e empresas, regimes especiais de apoios que façam as pessoas sentir que vale a pena vir para aqui; tudo isto integrado num plano ambicioso a dez anos, com o empenho do governo central, autarquias e demais poderes existentes. Estas medidas terão que ser céleres, a fim de evitarmos que o pior aconteça.
O Baixo Alentejo e Litoral Alentejano, região à qual pertencemos, é actualmente uma das mais promissoras do país para se investir. Beneficia de projectos estruturantes, uns em curso e outros já concluídos, como é o caso do Plano de Rega do Alqueva, do Aeroporto de Beja, do Porto de Sines e das Minas de Neves Corvo; beneficia, ainda, de uma enorme extensão de costa marítima que vai da Comporta a Aljezur. É, também, uma das regiões com mais horas de sol na Europa e este importante recurso deve ser aproveitado, em termos energéticos, na produção agrícola, na promoção turística…
Assim nós e todos aqueles que definem o nosso destino, uns e outros em conjunto, saibamos potencializar estas mais valias para combater o despovoamento.

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