Partidos e clima eleitoral

Quinta-feira, 28 Maio, 2015

D. António Vitalino Dantas

Bispo de Beja

Embora as eleições para a Assembleia da República e constituição de um novo governo só devam acontecer para fins de Setembro ou início de Outubro, no entanto os partidos já começaram a lançar propostas de solução dos problemas, mais na linha da economia que do desenvolvimento social do país. Sem me poder pronunciar sobre a realidade dessas propostas, quero apenas tocar em alguns pontos essenciais para o aprofundamento democrático da nossa sociedade, como muitos o desejaram há 41 anos com a revolução de 25 de Abril.
Nota-se hoje um certo individualismo, alheio aos ideais democráticos, que leva a uma atitude de indiferença em relação ao bem comum e ao aumento da abstenção nos actos eleitorais. Os partidos fariam bem em estudar as causas desse abstencionismo e procurar envolver as pessoas na elaboração dos seus programas, em vez de pensarem apenas em impressos, grupos de propaganda, artistas para os comícios, encontros de maledicência e, por vezes, até mesmo de difamação, querendo quase obrigar a comunicação social a transmitir o que não interessa ao povo.
A doutrina social da Igreja tem princípios que, tidos em conta, poderão ajudar a ultrapassar o desinteresse reinante pelos actos eleitorais. Um deles, que quero abordar com algumas considerações, é o da participação em todos os aspectos da vida das pessoas e das suas relações sociais, familiares, religiosas, laborais e políticas. Esta dimensão da pessoa humana, essencial para a realização da sua dignidade, de que a liberdade é elemento constituinte, precisa de ser educada e exercitada, logo desde a infância. Uma educação passiva, em que tudo é dado sem exigências, sem esforço e sem mérito, leva ao desinteresse e abstencionismo na construção da sociedade. Como diz o nosso povo, “de pequenino é que se torce o pepino”. Não admira que vivamos de costas voltadas para tudo o que exige participação e procura de consensos na realização do bem comum.
Precisamos de desenvolver métodos de participação em todas as dimensões do desenvolvimento da pessoa humana e das suas múltiplas relações. Nisto todos os partidos se deveriam pôr de acordo, antes de começarem a divergir, parecendo que é mais o que nos separa que aquilo que nos une. Muitos começam logo a prometer mundos e fundos, sem dizer como pensam realizar isso, tendo em conta as possibilidades reais do país. Nos sucessivos governos que se foram formando ao longo dos 41 anos de democracia constatamos a desilusão de promessas não cumpridas. Como é costume dizer-se, numa qualquer um cai, em duas apenas cai quem quer… Embora saibamos que a política não é uma ciência exacta, por isso mesmo os candidatos deveriam ter mais respeito pelo povo e não prometerem o que não sabem.
Ainda temos alguns meses para repensarmos os nossos ideais e as possibilidades reais das nossas políticas, para não criarmos mais desilusões e aumentarmos o desinteresse e o abstencionismo.

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