Percebo muito pouco de futebol. Melhor dizendo, não percebo quase nada. Logo, não faz muito sentido opinar sobre esse fenómeno de massas que movimenta milhões mesmo em tempos de crise, gera paixões avassaladoras e faz com que o mais pacato e introvertido cidadão abrace e beije um ilustre desconhecido, apenas porque, em pleno estádio, ambos usam cachecóis iguais e gritam “Gooooollloooo!!!” ao mesmo tempo.
Mas mesmo percebendo muito pouco, há algumas coisas que sei. Sei, por exemplo, que o Cristiano Ronaldo é o melhor e mais bem pago jogador do mundo. Pronto, é verdade que a última votação ditou a atribuição do primeiro lugar ao Leonel Messi, mas acho que já ninguém se lembra disso e toda a gente fala é do Ronaldo. E também sei que José Mourinho é o melhor treinador e ascendeu a essa categoria porque nos últimos dez anos foi ganhando tudo o que havia para ganhar e o tudo inclui, também, muito dinheiro. E prestígio. Saiu da Liga Portuguesa, onde treinou o Benfica e o FC Porto, para a Liga Italiana e, agora, depois de levar o Inter de Milão a sagrar-se campeão da Europa, após 40 longos anos de jejum, mudou-se para o Real Madrid com a mesma ambição de sempre. Vencer.
Os noticiários abrem com a notícia. Os jornais fazem primeiras páginas com a mesma notícia. Falam dos êxitos, sem precedentes, e dos milhões que Mourinho vai ganhar, mas já não insinuam que é muito dinheiro, dinheiro a mais e muito menos que é imoral, face aos tempos que se vivem, como fizeram noutras alturas. Comentadores são chamados a comentar e centram-se, sobretudo, nas características do homem que não é apenas o “special one” da Liga Inglesa, dos tempos do Chelsea, mas é já considerado um fenómeno. Porque além de ganhar tudo o que havia para ganhar, o homem ainda consegue que falem bem dele não apenas os dirigentes e técnicos desportivos por onde tem passado, mas também todos os jogadores. Os que ele põe a jogar e os que ele decide que têm que ficar no banco. Porque é assim que ajudam a equipa. A ganhar. O homem é um líder que puxa todos para o mesmo lado – dizia, hoje, numa estação de televisão, um dos comentadores convidados.
Alguns de nós, plantados neste pedacinho de chão a que pertencemos e se chama Portugal, costumamos ter perante fenómenos como este um sentimento, também ele, pequenino. E mesquinho. Vil. Falo da inveja. Quando vemos alguém singrar, tornar-se gigante aos nossos olhos, em vez de lhe admirar as qualidades, as razões para o seu êxito, procuramos, avidamente, encontrar os defeitos. Que seguramente terá. Todos temos. E ocupados nessa tarefa mesquinha e vil, perdemos o tempo de que necessitamos para tentar ser melhores. Para crescer. Para tentarmos igualá-lo e descobrir que a excelência se atinge com ambição. Perseguindo objectivos, trabalhando.
Mas, desta vez, não atacámos o Mourinho. Nem os milhões que ele vai ganhar. Que são muitos. Por vergonha ou pura constatação da inutilidade dessa perda de tempo, face à couraça e estatura do homem, pusemos de lado invejas e esquecemos defeitos antes atribuídos e largamente difundidos. Qual arrogante?! Qual malcriado?! Qual convencido?! – O homem é o maior e é português. É nosso!
É que no meio do turbilhão duma crise, de dimensões e efeitos ainda não completamente avaliados, precisamos de todos quantos possam prestigiar o nome de Portugal em todas as áreas. Em qualquer área. Também no futebol. Talvez por isso, e mesmo não percebendo muito destas coisas, dei por mim cheia de orgulho por o Cristiano Ronaldo e o José Mourinho serem os melhores do mundo. E serem portugueses.
E de repente, foi como se tivéssemos todos, mas mesmo todos, passado a ser os melhores do mundo. E a atestá-lo, colado à testa, o anúncio: “O que é nacional é bom!”

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