Estranha palavra a do título deste texto. Estranha, mas bela, aveludada, merecedora de ser ensinada diariamente como quem respira. Devia ser um compromisso familiar, prática de serões, herança genética, conversa que acompanhasse o crescimento de qualquer indivíduo, leitura de cabeceira, cabeça descansada na almofada, talvez até disciplina de escola.
O exercício deste substantivo difícil de pronunciar tornaria incomparavelmente melhor a vida em sociedade.
Vamos então à procura da palavra para a podermos decompor e perceber melhor a sua substância. Na página mil e trinta e quatro do dicionário da língua portuguesa, oitava edição, Porto Editora, lê-se: magnanimidade s.f. qualidade de magnânimo; grandeza de alma; generosidade; clemência; acto de pessoa magnânima.
De todos os seus significados escolho a grandeza de alma por me parecer ser o que melhor reflecte a boa postura de um homem ou de uma mulher na sua relação com os outros: compromisso com a verdade, aceitação da diferença, transparência, respeito pelos valores, respeito pela memória, partilha, desprendimento, crítica construtiva, solidariedade, compreensão, um abraço, um louvor. Coisas básicas, suportes de vida, que raramente praticamos e apenas apregoamos como Frei Tomás.
Não se trata só de acreditar em Deus, benzer-se e dar uma esmola aos pobrezinhos. Não se trata só de debitarmos umas teorias sobre filosofia, ética e boa educação. Não, isso não chega. Essa postura é falsa como Judas, é uma pequenez de espírito, um verniz para parecer que somos pessoas de bem.
Por vezes, por detrás dessa aparência impoluta estão conluios, caciquismo e cães raivosos. Gente que não sabe perder nem tampouco ganhar, gente alarve que vê as atitudes dos outros à luz da sua própria mesquinhez, porque não imagina que há outras formas de vida acima da lama e da maledicência.
Ser magnânimo não é a defesa do nosso quintal, a nossa verdade absoluta, a nossa família, os que votam em nós, os que nos dão palmadinhas nas costas, os que abanam a cabeça, os que se vergam às nossas ideias e assumem formas invertebradas de capachos a sorrir. Ser magnânimo não é ter sede de vingança, aproveitar a conjuntura mais favorável, procurar o interesse pessoal, resolver a vidinha.
Ser magnânimo é uma questão de estrutura, de abrangência, de horizonte límpido, de rumo, de essência, de nobreza e dignidade. E mais, a magnanimidade até sabe aceitar a hipocrisia, esse substantivo podre, e o cinismo, esse substantivo assanhado, e perdoa-os porque eles não sabem o que fazem.
O uso dos substantivos é uma questão de aprendizagem e de aplicação, mas como tudo na vida nem sempre as coisas mais fáceis são as mais correctas.