Tive, recentemente, o privilégio de ir a Cuba (Havana) de férias, numa altura em que Barack Obama tinha acabado de sair do território (após três dias de visita, sendo o único Presidente americano a estar na ilha após 88 anos de ausência…) tendo nós chegado no dia anterior à realização do “histórico” concerto dos Rolling Stones, na “ciudad desportiva” da capital cubana.
Era, pois, este o enquadramento que nos aguardava, isto depois de ter lá estado (faz agora em julho) há 15 anos.
Um dos principais motivos que nos levou a fazer a visita novamente, foi o de que, pegando numa expressão usada por um canadiano lá presente, “Cuba é verdadeiramente uma ´cápsula do tempo”. Conserva (quase) toda a tipicidade de um país entregue a si próprio, obrigado (por vontade de quem o tem governado desde 1960) a depender (quase exclusivamente) de si próprio, convencido da “justeza moral” das suas convicções político-ideológicas, mas ainda assim conservado no “imobilismo forçado” fruto do abandono internacional…
Em 2001, soube-o só agora, visitei o país numa conjuntura extremamente mais gravosa. Estávamos nessa altura quase em pleno nas consequências do chamado “período especial”, isto é, foi um longo período de crise económica que começou como um resultado do colapso da União Soviética em 1991 (e também do agravamento do embargo americano em 1992) em que deixaram de chegar à ilha navios cheios de óleo, cereais, leite em pó, medicamentos, matérias-primas e peças industriais). O produto interno bruto de Cuba caiu 38%, com todas as consequências resultantes para o povo cubano…
Cuba em 2001 era chocante, a todos os níveis. Pela carestia de vida, pela desgraça económica sentida e pela constante presença de segurança nas ruas, visualizando-se o “medo” nas ruas. Havana era, nessa altura, uma cidade abandonada. Havia agressividade no tratamento (seja no controlo de fronteiras, como na cidade em si, onde polícias com cães povoavam a malha urbana). O Malécon (marginal de Havana) cheirava mal (resultante do não tratamento das águas residuais). Decrépita e sem vislumbre de esperança, onde os carros antigos americanos (Chevrolet, Cadillac, Pontic, etc) eram os “utilitários” contrastando com um ou outro Lada, de fabrico soviético…numa amálgama populacional que, efetivamente não mendigava na rua às claras, mas que, de forma disfarçada, constantemente, nos pedia coisas e tentava vender charutos para ganhar alguma coisa…!
A Cuba de 2016 é diferente. Não a essência, porque essa mantém-se, enquanto os irmãos Fidel e Raúl viverem.
Palavras que ouvi na rua (e também nas reportagens das televisões) como “agora já somos amigos do americanos”; “não há temas tabu”; ou ainda as mais radicais “Obama deveria ser presidente de Cuba para termos democracia” e, como uma rececionista de Hotel dizia… “Tudo hay que cambiar, estubimos parados por 50 años” mostram que como Mick Jagger (agora já não considerado antirrevolucionário ou subversivo) disse, parafraseando Bob Dylan, “os tempos estão a mudar”. As bandeiras americanas nalguns carros, “caps” e vestuário ostentando a “stars and stripes” demonstram a proximidade com o “Uncle Sam”, mas também a tolerância do regime para com os “gringos”…
Os carros americanos da década de 50 e arquitetura são, neste caso um pouco como Havana e Cuba em geral: por fora são iguais, como sempre foram, por dentro, estão desvirtuados mas “reconstruídos” sejam com motores Toyota, Hyundai, etc. Já não são “meros utilitários” mas agora de empresas estatais que os alugam à hora aos turistas. Veja-se que até já há descapotáveis a fazer as (nossas) delícias revivalistas…!
Já circulam táxis amarelos (ainda não são da Yellow Cab Company) mas de uma empresa estatal que os adquiriu aos…chineses (os melhores amigos do regime cubano depois do Comandante Hugo Chavez tentar substituir a caída “solidariedade” soviética pelo regime boliavariano da Venezuela).
Os táxis de marca chinesa Geely partilham, agora, as ruas iluminadas de luzes led chinesas, de parte de Havana, com os autocarros e carrinhas de turistas da empresa Transtur (estatal) de marca Yutong (made in China também).
Turistas que, nesta altura, estavam literalmente a “entupir” a capital do país, por causa da euforia americana, dos Stones e também, cremos nós, pela Semana Santa, mas que naturalmente (por via do embargo) por enquanto ainda não contemplam americanos dos Estados Unidos, que só podem visitar o país se forem em “trabalho humanitário”…por enquanto, porque a partir do próximo mês de maio, “vão vir cruzeiros” de Miami (a uns meros 150 km dali…) acordo com Obama oblige…!
Antes disso acontecer, num país onde comer lagosta é mais barato do que comer “Pringles”, aguarda-se com expectativa até onde esta abertura económica pode levar…
Nada ficará como dantes, num país com enormes carências ao nível das infraestruturas, que como dizia uma brasileira: Este é um País errado para ver no Google, porque tudo o que está à vista é bonito e tradicional, o pior é o que está escondido dentro dos magníficos edifícios de art déco…! Ela que tinha sido especialmente defraudada com uma “estadia” num apartamento particular…!
À saída, já no Aeroporto Internacional Jose Marti, inaugurado em 1998, com “ajuda” canadiana, pudemos comprovar isso mesmo: tinha, tão somente, acabado a água, com as consequências…”sanitárias” disso mesmo…!
Até que tudo mude (esperemos que pacificamente) Che Guevara e Camilo Cienfuegos num dos mais emblemáticos espaços da capital cubana, a Praça da Revolução, aguardam pensando que “El Porvenir Es Nuestro”, mas verdadeiramente, nesta altura o que se vislumbra dizer é mais que: os “Yankees Are Coming”!
E quem lá esteve acha, que a maioria do povo cubano, não só não se importa, como deseja que isso aconteça…!
Depois, como é que o regime comunista lidará com isto? A “La Chinesa” ou à “La Soviética”?
De uma maneira ou de outra, já todos vimos que, agora, quer se queira, ou não… que a “cápsula do tempo” vai, muito em breve, deixar de o ser…
Resta saber… quando.

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