No anúncio, a casa tinha janela viradas para o mar. Já se imaginava sentada numa cadeira de baloiço. O corpo quente e lânguido derramado naquela varanda banhada de azul. Sentia-se já uma maré viva. Um copo cheio de brisa e de gelo. Um silêncio tranquilo.
Mais uma vez a realidade enganara-se. O mar não se via daquelas janelas. Nem havia varanda. Mas eram dois bons quartos com duas camas de casal. Um para ela e para o marido. O outro para os cunhados que o marido tinha convidado. (Não simpatizava com eles. Gostaria de estar sozinha com o marido e os filhos. Mas não se atrevera a discordar. A harmonia familiar é muito importante. Quando se perde isso perde-se tudo!).
Os miúdos dormiam na sala. Dois no sofá e os outros dois num colchão que a senhoria fizera favor de emprestar. Talvez fiquem um bocado apertados, mas com boa vontade tudo se resolve. E que rica cozinha. Não das mais modernas, mas com as condições suficientes para quem lá vai passar a maior parte da segunda quinzena de julho.
Que raios! Porque é que no primeiro dia falta logo o gás? E agora onde é que se compra a bilha? A que horas é que se almoça? Haverá pratos para todos?
Ninguém arruma nada. Já foram ver o mar que ainda fica longe destas janelas.
E de frente para o mar há casas com janelas e varandas. Talvez eles se tivessem enganado no anúncio. A vida tem destes enganos.
Acorda cedo. Tão cedo como nos outros dias em que não é julho. Desce as escadas. Peixe para o almoço. Carne para a noite. Fiambre para as sandes. Vinho para os homens.
Sumo para os miúdos. E se o melão não for bom quem é que cala o marido?
Sobe as escadas. Começa a preparar o pequeno-almoço.
Há já meia hora que a cunhada está na casa de banho. Quando sai não diz bom dia. Diz que dormiu mal. Que o colchão é duro e ela sorri enquanto volta a aquecer a água para o café.
– Ferve a água. Porque ela já não consegue ferver –.
Vão andando que eu já vou. Sal nas sardinhas e nos olhos.
Quem lhe dera a ela poder pôr o dedo na ferida e gritar. Pôr tudo em pratos limpos. Ainda se não tivesse filhos! Assim não. Primeiro estão eles. Meus ricos meninos.
Finalmente de tarde, um pouco de praia porque os bifes já ficaram em vinha de alho. Sentada na areia jogou o olhar ao mar. Deixou-o ir até ao fundo de si. E de lá viu-se, à beira-mar, de mão dada ao marido. Pisando água, pisando mágoa. Depois um abraço. E enquanto o sol se punha, o sol da língua dele punha-se na boca dela.
Houve tempos em que a praia era só deles os dois. A praia era uma quimera.
Agora é um chapéu-de-sol aberto. Uma geleira cheia de comida.
A água está fria? Não faz mal, é outro sacrifício que faço.
O jantar não vai ser à luz da vela. É uma lâmpada fluorescente que está agarrada ao teto da cozinha.
A noite está boa para beber café na esplanada.
Vão andando que eu já vou.
Resialentejo promove “Cafés Reparação” em oito concelhos
A empresa intermunicipal Resialentejo, que gere gerir o sistema de tratamento e valorização de resíduos urbanos de oito concelhos do distrito de Beja, iniciou nesta