Os mais emblemáticos equipamentos sociais da cidade de Beja estão doentes e, se alguns ainda podem aspirar por uma operação miraculosa, outros desde há anos que aguardam eutanásia, de modo a partirem em dignidade, poupando-lhes o sofrimento da morte lenta e dolorosa que temos assistido ao longo dos últimos anos.
Por estes dias, regressei ao Mercado Municipal de Beja e foi com nostalgia recordei a glória do passado, quando na minha meninice acompanhava o meu pai, percorrendo a azáfama dos corredores, onde a melhor fruta namorava o bom queijo e pão, bolinhos ainda quentes, os talhantes na época endinheirados, a zona do peixe fresco! Confesso que me chocou a degradação, o desprezo e a tristeza que encontrei naquele inóspito espaço, esquecido pelos poderes regionais, abandonado pelos munícipes! Desci e passei perto da Biblioteca Municipal, que vítima do seu próprio sucesso é hoje demasiado acanhada para a dinâmica que soube construir, apesar do recente desinvestimento. Olhei de fora a chamada Casa da Cultura, edifício construído com boas intenções mas com um resultado trágico: a sala de espectáculos sempre foi demasiado má, com péssima acústica e inadmissivelmente fria no Inverno, tornando-se um espaço inóspito, que expulsa os espectadores e os convida a ficarem em casa; do lado exterior do edifício, algo que nunca chegou a ser coisa nenhuma, um verdadeiro elefante branco que raramente chegou a ser utilizado, porque a sua finalidade sempre foi coisa nenhuma. Nos recantos da Casa da Cultura podemos encontrar algumas associações e iniciativas com um interessante desiderato, mas tristes ao serem fechadas em locais sem a menor dignidade, castrando algumas iniciativas que poderiam surgir.
Porque a Primavera chegou com calor, dou um pulo à piscina municipal. Apesar de fechada, certifico-me que as autoridades estão ocupadas a multar veículos em qualquer outro local e dou um salto pelo pequeno portão e olho com tristeza que a piscina me recorda um velho relógio abandonado, perdido num tempo passado, sem que os seus responsáveis a tenham conseguido adaptar às necessidades do século XXI. Questiono-me como um espaço daquela dimensão, localizado numa das zonas mais nobres da cidade, seja roubado à cidade por longos dez meses, para que no Verão, quase sempre tarde e a horas tardias, permita alguns sorrisos aos munícipes mais petizes.
Regresso à rua e fico indeciso se viro para a esquerda ou para a direita; se vou regressar ao velhinho “gimnodesportivo” do qual carrego tantas memórias, de tantas e tantas manhãs e tardes – quer no velho piso de tacos, quer nas traseiras do pavilhão –, a gritar por obras de remodelação, impotente de responder às necessidades dos clubes locais ou se vou mais longe até ao Estádio Flávio dos Santos, verdadeiras ruínas de um esplendor que se apagou no tempo, quando a insensibilidade de alguns fez com que o desporto que chamam rei se deslocalizasse para a zona da mata – foi com esta a decisão que se começou que se começou a escrever o fim do Desportivo de Beja –, vetando ao mais triste abandono o velhinho estádio, que temo, seja hoje, um doente terminal de recuperação impossível! Ligeiramente diferente do seu vizinho Parque de Campismo, que desde há muito reclama por uma decisão: ou se mantém no mesmo local e faz-se um investimento que lhe confira dignidade ou encerre-se o mesmo e pondere-se o que fazer com os seus terrenos!
No ano de todas as eleições, exige-se aos candidatos que tomem posição sobre os equipamentos municipais da cidade; porque a morte lenta destes equipamentos carrega consigo parte da nossa história colectiva, mais um pouco da cidade que desaparece.
Mas encontrar uma solução para estes locais, não deve nem pode fazer parte do jogo eleitoral: a cidade não é dos partidos mas dos munícipes e são estes e apenas estes que devem tomar uma decisão sobre os espaços que são de nós todos. Mais interessante que nos prometerem resolver os problemas destes espaços, mais pertinente que escreverem nos programas eleitorais soluções para revitalizar estes espaços – ou dentro destes, os que ainda se podem salvar – seria conseguir encontrar em diálogo com os bejenses construir um caminho para estes espaços, devolver-lhes a dignidade perdida.
Pessoalmente, não tenho dúvidas do que gostava. Começar agora um verdadeiro debate público sobre estes espaços, construir alternativas e depois dar a palavra aos munícipes: um referendo no mesmo dia que as eleições autárquicas sobre o futuro destes espaços, seria um passo importante para devolver a cidade aos bejenses.
<b>Post Scriptum: </b> Declaração de Interesses, na semana passada fui apresentado como um dos coordenadores dos grupos de trabalho da candidatura de Jorge Pulido Valente. Bem ou mal, agi de acordo com aquilo que me ditou a consciência. E é por imperativos de consciência que informo desse facto os meus leitores: apesar de continuar a ser independente e das minhas ideias e convicções apenas me responsabilizarem a mim, reconheço que posso gerar cepticismo a quem me lê. Porque não gosto de equívocos, os leitores ficam o conhecer este facto e farão o juízo que entenderem sobre as minhas crónicas no “Correio Alentejo”!
<p align=’right’><b><i<a href=´http://ireflexoes.blogspot.com/´ target=´_blank´ class=´texto´>http://ireflexoes.blogspot.com/</a></i></b></p>