Quando uma pessoa chega a uma encruzilhada tem duas opções: ou se senta e apodrece, ou endireita a espinha e segue um caminho, ainda que não saiba de antemão onde esse caminho vai dar.
Apodrecer é por norma menos trabalhoso. Respiramos mas estamos mortos. Estamos de pé mas não temos esqueleto. Temos coração mas não temos sangue. Temos olhos mas não vemos.
Mas mais grave do que decidir apodrecer é não saber que se chegou a uma encruzilhada, é não fazer ideia de que ali se escolhem rumos e se tomam opções, é não saber sequer o que é uma encruzilhada. A isto chama-se não saber ver, não saber ouvir, não saber ler.
E a trágica chegada à encruzilhada é, bastantes vezes, resultado de uma atitude irresponsável, ligeira, sobranceira, vaga, egoísta, oca, desligada, dormente, desinteressante. A pessoa centra-se em si e não se apercebe que a realidade é algo de mais abrangente e envolvente. A realidade é a pessoa a interagir com aquilo que a rodeia, é a pessoa a deixar uma marca, a dar um contributo e a receber o que os outros têm de bom para nos dar. E é essa interacção que dá forma e conteúdo ao ser humano.
Sabe-se que é difícil existir, mas mais difícil e desolador é existir sem ânimo e sem vontade, fechado numa concha confortável, cama, mesa e roupa lavada, sem questionar o mundo, a queixar-se do mundo, sem interpretar o que está sob a superfície da vida, sem perceber a importância de ter horizontes, de crescer por dentro, de lutar contra a inércia. Falta amadurecimento, falta compromisso, falta postura, faltam golpes de asa. Tomar decisões em tempos difíceis tornou-se algo de invulgar.
Há quem, por força de circunstâncias difíceis, amadureça mais precocemente. Mas outros, a maioria, só amadurecem através do abanão, do choque, da perda, da terrível encruzilhada.
Só nas encruzilhadas é que os homens e as mulheres concluem que já perderam demasiado tempo a fazer de conta. E para não ser tarde de mais, sentem que têm de rapidamente apanhar os cacos, pegar nas pontas da vida e seguir um caminho.
A vida de uma pessoa está toda interligada. Aquilo que se é nas pequenas coisas, também se é nas grandes coisas. Apenas a dimensão é diferente, mas a essência é a mesma.
E quem não tem sede de viver, morre ressequido, descansado, folgado, mas ainda assim ressequido.
As encruzilhadas são um sítio e um tempo onde abrimos feridas por dentro, mas é assim que crescemos e é assim que somos.
O ano novo pode ser esse sítio e esse tempo. Sem fogo-de-artifício, sem champanhe e sem passas. Apenas introspecção para conseguir sair da encruzilhada e seguir um caminho.
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