Asfixias

João Espinho

<b>1. </b>Não se tivesse dado o caso de Manuela Ferreira Leite (MFL), líder do PSD e candidata a primeira-ministra, ter ido em viagem eleitoral até ao arquipélago da Madeira, abençoar o presidente regional, e a expressão “asfixia democrática” teria ficado nos cadernos de apontamentos de alguns estudiosos do fenómeno político português. Porém, a líder da oposição continental decidiu que seria ali, nas ilhas de Alberto Jardim, que iria ressuscitar essa coisa estranha e sufocante da democracia. A asfixia democrática, garantiu a líder do meu Partido, não existe na Madeira.
Seguramente que MFL deve ter recordado, no momento em que o disse, que o Presidente da República não teve direito a sessão solene na Assembleia Regional, recordou a ausência de comemorações parlamentares madeirenses do 25 de Abril, do congresso do PSD local encerrado à comunicação social e o impedimento de um deputado entrar no Parlamento local. Ferreira Leite deve falar na tal asfixia democrática, mas não a deve referir como exclusiva do território continental.

<b>2. </b> As eleições legislativas estão a bater à porta e as campanhas estão nas ruas. Nas ruas e nas rotundas. A cidade de Beja, como outras pelo País, inundou-se de cartazes e propaganda política, havendo sítios onde a osmose legislativas/autárquicas está bem patente. Lado a lado podemos encontrar futuros deputados e candidatos a presidentes de câmara. Poucos virão a saber quanto custam estas campanhas. Poucos alterarão o seu sentido de voto em função da gravata do Jerónimo ou do cabelo grisalho de Sócrates. Também, digo eu, não serão os slogans dos referidos cartazes que irão determinar o voto de cada um de nós. Haverá algum português que se sinta motivado com o apelo socialista “Avançar Portugal”, onde aparece a fotografia do actual primeiro-ministro? O grito “Ruptura e Mudança”, que o PCP ilustrou com a cara de Jerónimo de Sousa, com e sem gravata, convence alguém para além dos submissos eleitores comunistas?
Obviamente que não!
Assim, assistimos a ruas, avenidas e rotundas que nos asfixiam com mensagens e retratos pagos pelos nossos bolsos e que nada nos trazem de valor.

<b>3. </b>Como eleito, pelo PSD, estive na Assembleia Municipal de Beja durante o mandato autárquico 2005/2009 que agora termina. Fui, e ninguém o pode desmentir, uma das vozes mais críticas do actual executivo camarário. Fui, também, dos poucos que questionou o presidente da CMB sobre diversos assuntos. O PSD e a sua bancada municipal terão sido quem mais cumpriu com os seus deveres de fiscalizar as actividades do executivo bejense. Porém, uma lei que teima em não ser revista, cria maiorias que não foram sufragadas pelos munícipes eleitores. Falando claro: com direito a voto, os presidentes das juntas de freguesia têm assento nas assembleias municipais e, no caso de Beja, o PCP/CDU tem uma maioria absoluta que não foi expressa nos votos directos dos eleitores. Quem participou ou assistiu às sessões da Assembleia Municipal sabe como foi asfixiante esta maioria absoluta, onde não faltaram episódios reveladores de um certo espírito absolutista e pouco educado.

<b>4. </b>Aproxima-se um ciclo eleitoral da maior importância para todos nós. Legislativas e autárquicas vão trazer-nos novos rostos às governações do país e das cidades. Apesar do crescente descrédito a que a classe política tem vindo a ser adjectivada, esta é uma boa ocasião para nos manifestarmos contra as várias asfixias. Através do voto e sem gritarias. Ficar em casa à espera que os outros decidam por nós é uma forma de legitimar a asfixia. Depois não se queixem.

[RIGHT]<b><i>(crónica igualmente publicada em
[URL] http://www.pracadarepublicaembeja.net [/URL]http://www.pracadarepublicaembeja.net[FURL])</i></b>[/RIGHT]

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