A revolta dos pastéis de nata

Paulo Arsénio

eleito pelo PS - AM Beja

Nunca nas minhas crónicas – e já lá vai década e meia entre rádios e jornais –, repeti o tema de forma consecutiva. Mas face a algo que me deixou boquiaberto lá tive de meter a crónica que se preparava para sair na gaveta, até próxima oportunidade, e dar novo destaque ao nosso super-ministro, Álvaro.
Pode até parecer que tenho algo contra o homem, o que não é o caso. Até agora achava que não tinha jeito para a política, que era um péssimo ministro e que não tinha competência para estar no governo qualquer que fosse. Agora acho também que há por ali mais qualquer coisa fora do lugar. Não acredita? Repare:
A economia portuguesa devia internacionalizar-se mais, segundo o super-ministro, apostando, por exemplo nos pastéis de nata!
Que raio! Os pastéis de nata são de facto um produto de pastelaria ímpar que triunfam onde quer que chegam, mas que mais-valias pode a economia portuguesa retirar da internacionalização dos natas a não ser turística (de pessoas quererem conhecer o país onde se fazem, por exemplo)? Que mais-valias retira a Itália das pizzas e das lasanhas que diariamente se vendem pelo mundo fora? Que mais-valias retira a Alemanha das bolas de Berlim que se vendem na praia de Monte Gordo durante o Verão? Alguém paga royalties ou direitos de autor ao país fundador da iguaria? Obviamente que não!
Eu, na pele de analista político, interpreto a intervenção do nosso super-Álvaro como um sério aviso à senhora Merkel. Ou a Alemanha dá mais tempo aos países em dificuldades na Europa – que são basicamente todos exceto a própria Alemanha –, para que baixem os seus déficits públicos ou Berlim que se prepare para a invasão dos pastéis de nata lusos!
Através de uma eficaz rede de franchising do pastel de nata, apoiada fortemente pelo governo português, vamos espalhar quiosques de pastéis de nata por todas as grandes avenidas das capitais europeias. Na Holanda a distribuição do pastel de nata ficará a cargo do grupo Jerónimo Martins/Pingo Doce, claro. Sendo um bolo pequeno, barato e guloso, em poucos anos Berlim verá a sua famosa bola desaparecer das confeitarias da capital alemã, sendo substituídas pelo nosso pastel de nata, com ou sem canela. A bola de Berlim vergar-se-á à força do pastel de nata e a Alemanha conhecerá o amargo sabor da derrota em sua própria casa. David derrotará Golias e a nossa economia, de vento em popa, retomará enquanto as contas públicas alemãs se afundarão.
Eles que nos mandem BMWs, Mercedes, Porsches , Audis e Volkswagens e nós, heróis do mar, vamos responder-lhes à base de pastéis de nata!
Ora tomem! Embrulhem! Se comprarem embalagens de seis fazemos desconto!
Mas o super-Álvaro também sugeriu que se apostasse noutro produto típico da nação como alavanca para o nosso desenvolvimento sustentado: o Frango no Churrasco! Genial! Na prática, se os alemães não se derem por vencidos só com os pastéis de nata, vamos invadi-los também com frango no churrasco. Eles vendem-nos electrodomésticos AEG, Bosch, Miele e Krups e levam com o troco em frango no churrasco! Temos frango com e sem picante. À escolha do freguês. Vamos pôr um cheirinho a churrasco na roupa de cada berlinense.
Ah grande Álvaro, o que seria de nós sem ti? Estaríamos aqui perdidos, sem esperança. Resignados e sem rumo, guardando, de forma egoísta, os natas e o frango só para nós.
Então, face a isto, ajuda-nos ou não, senhora Merkel?
Se o super-Álvaro me permite, também gostaria de fazer parte desta gigantesca onda de desenvolvimento que está em marcha e de sugerir outro produto típico que poderia constituir mais uma grande aposta para a exportação: a sardinha assada!
Quiosques de sardinha assada espalhados por Berlim, abrilhantados pela presença regular de ranchos de folclore nacionais, iriam criar um ambiente de arraial na capital germânica e deixar o ar da cidade com um odor a sardinha assada muito mais intenso que o pestilento cheiro a azeite que invade ultimamente a cidade de Beja e arredores.
Este é o caminho! Esta é a estratégia! Finalmente vê-se luz!
Eu alinho.
Comecemos já, sem demoras, a espalhar os “nossos” natas, os “nossos” frangos no churrasco e as “nossas” sardinhas assadas pelos quatro cantos do mundo!
E para dar um empurrão a esta visionária estratégia, e como estou a acabar a redação desta crónica perto da hora de jantar, vai já marchar meio frango seguido dum… pastelinho de nata!
Força Portugal! Segurem-nos se conseguirem.

<i>Paulo Arsénio escreve segundo o novo acordo ortográfico.</i>

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