A inevitabilidade na governação

Quinta-feira, 17 Setembro, 2020

Jorge Barnabé

O Governo orienta a sua actividade pela inevitabilidade na governação, indicando aos cidadãos, às empresas, aos parceiros sociais, às instituições e à oposição a política do facto consumado, que resulta da inevitabilidade das medidas que apresenta, retira, revê, falha e corrige.
Ou seja o Governo PSD-CDS limita a sua acção política ao cenário inevitável das propostas sem alternativa, muito próximo da máxima dogmática e manipuladora do Estado Novo: “quem não está comigo está contra o país”.
O Governo falha regularmente nos resultados das políticas porque as quer impor e testar sem quaisquer fundamentos técnicos e reais. E sente a necessidade de assumir a inevitabilidade da vida económica e social porque pretende impor à sociedade o que a sociedade não quer aceitar. Porque desconhece a realidade da vivência social dos cidadãos…
E em ciência política é básica a noção de que não se podem implementar medidas que não sejam aceites pela maioria da sociedade. Porque quando assim é, e no mundo há muitos exemplos e em Portugal também já os tivemos, trata-se de ditadura e não de democracia.
O que se pode ler da inevitabilidade na governação actual é também a falta de compromisso, a fraqueza do pensamento e das competências e a preocupante ausência de estratégia política.
Quando um governo não tem ideias e soluções, nem força e credibilidade para gerar compromissos com a sociedade, não é um governo acabado é um governo inexistente. E esta inevitabilidade das circunstâncias não pode ser aceite pelos portugueses, sobretudo quando se percebe a ineficácia e se ferem de morte os direitos e valores fundamentais do Estado de Direito.
A perigosidade do conceito político de inevitabilidade, que o Governo está a introduzir como única linha de acção governativa, reside na fraqueza das instituições, nomeadamente as dos órgãos de soberania e do sistema político, perante os olhos do povo.
Não deve ser ligeira nem tão pouco primária a interpretação a fazer dos movimentos de cidadãos e das manifestações de centenas de milhares de pessoas. As motivações são muitas, mas a questão de fundo é só uma: os portugueses não aceitam mais o facto consumado, a demagogia e o engano que nasce da fraqueza de quem governa.
Os portugueses desejam somente poder recuperar o respeito de quem governa, sem que a inevitabilidade do empobrecimento e do retrocesso no progresso sejam as únicas condições de sobrevivência. Fatal e absoluta.
E a inevitabilidade na governação PSD-CDS dará espaço inevitável para uma nova e fresca alternativa, bem mais cedo do que o esperado e desejado. Porque esta inevitabilidade serve apenas para disfarçar incompetências e alimentar a teorização dos egos.

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