Tinha em mente escrever uma crónica de outro teor. Mas, ao tentar alinhavar os pensamentos de modo a que me escorressem pelas pontas dos dedos e se traduzissem em palavras à medida que os teclava, estes, voavam-se-me para as ruas de Paris e para a chacina aí levada a cabo no passado fim-de-semana.
Dou comigo a pensar que a pretérita sexta-feira/treze, mais do que um profético dia de azar, foi o dia em que a liberdade dos parisienses, dos franceses e dos europeus, se viu violentada. Se viu cerceada.
A partir de agora, tudo será diferente!
A partir de agora, passaremos a olhar o nosso semelhante, não como um possível protector, mas sim como uma potencial ameaça à nossa integridade. Passaremos a viver no império do medo. E isso faz toda a diferença!
Bem que gostaria de fazer um exercício mental que me conduzisse a uma explicação plausível, lógica, que me permitisse entender as motivações que levaram aqueles jovens a terminar com as suas próprias vidas, levando consigo naquele acto hediondo, as vidas e os sonhos de largas dezenas de inocentes cidadãos.
Da amálgama de pensamentos retorcidos que me invade, apenas consigo visualizar com nitidez a palavra ÓDIO, como forma de justificar o injustificável.
Ódio puro e duro. Alimentado à custa de décadas de segregação, duma política irracional e exclusiva que empurra para os subúrbios das grandes cidades, como quem varre para debaixo do tapete, uma franja da sociedade sem rumo nem futuro, enquanto os políticos vão assobiando para o lado.
Aí, nesse terreno pantanoso mas fértil, encontram nas apetecíveis e certeiras palavras de certos mercadores de sonhos, o combustível necessário para alimentar o crescente ódio que germina dentro de si.
Embrulhados no verbo do alcorão, campânula onde se acoita esta personalidade colectiva que os acolhe, são-lhes incutidos títulos de heroicidade e recompensas celestiais que os doutrinados aceitam como prémio à sua devoção.
Daí a meterem-lhes um cinto de explosivos à cintura e uma Kalashnikov nas mãos vai apenas um pequeno passo.
Deste caldo de insatisfação. Desta mistela incontrolável e explosiva. Desta ausência de valores racionais, emerge um rancor desmedido cuja única saída resulta na barbárie a que assistimos.
De relembrar que as ordens para esta chacina podem ter vindo da Síria, mas os executantes vagueiam entre nós.

Fernando Colaço, um castrense na China!
Natural de Castro Verde, Fernando Colaço começou a programar aos 12 anos, abdicou do ensino superior, trabalhou na Suíça e percorreu o mundo, antes de