Houve em tempos um dragão dourado lá para as bandas de Santa Bárbara de Padrões, cujas chamas de fogo acabaram por dar origem ao minério que hoje existe no subsolo do Campo Branco. Uma lenda com séculos de história que muitos ainda contam nos dias de hoje e que acaba de ser apresentada nos palcos de Almodôvar, Castro Verde e Ourique pelo grupo “CoAttitude”, dinamizado pela Cercicoa e que pretende fazer das artes um “palco” para a inclusão.
“O que pretendemos com esta actividade é, utilizando este vertente da expressão dramática, trabalharmos várias vertentes do comportamento humano, também a parte da mobilidade, da concentração, da motivação, da memória… Há uma série de aspectos que são trabalhados nesta actividade e o resultado final é bastante interessante”, sublinha com entusiasmo o presidente da Cercicoa, António Matias.
A peça “A Lenda do Dragão Dourado” foi apresentada, entre o final de Novembro e o início de Dezembro, nos três concelhos abrangidos pela Cercicoa ao abrigo do projecto “Palcos”, co-financiado pelo Instituto Nacional de Reabilitação. A produção, apoiada pela empresa mineira Somincor, envolveu cerca de 40 pessoas, entre utentes, técnicos e outros colaboradores da Cooperativa de Educação e Reabilitação de Crianças Inadaptadas e Solidariedade Social dos Concelhos de Castro Verde, Ourique e Almodôvar, onde tem sede.
“Quisemos mostrar aquilo que é a actividade mineira e a valentia das pessoas que todos os dias trabalham naquela actividade. E a grandiosidade da exploração nesta região e o impacto que ela também tem nas comunidades deste território”, explica António Matias, reforçando, mais uma vez, a ideia que a grande mais-valia da iniciativa “é o processo em si e não tanto o resultado final”.
“A grande mais-valia deste projecto é o aumento da auto-estima e a melhoria da qualidade de vida dos elementos do grupo por questões de ordem diversa, nomeadamente inclusão social, valorização pessoal, e sobretudo pela igualdade de oportunidades”, complementa Paulo Maurício, coordenador deste projecto.
O grupo “CoAttitude” nasceu há cerca de três anos como proposta de expressão artística na Cercicoa e o balanço é mais que positivo.
“As artes performativas têm despertado interesse em muitos utentes desta instituição e têm contribuído para desenvolver nos participantes o gosto pela cultura e pela arte, o que aumenta significativamente o leque de oportunidades de participação em novas actividades, permitindo assim desenvolver o potencial artístico de todos os envolvidos no processo”, explica Paulo Maurício.
De acordo com este responsável, os elementos do grupo “desenvolveram um grande interesse e paixão pelas artes performativas e têm desencadeado nos seus pares também um enorme interesse por esta actividade”. “Temos verificado que à medida que o processo vai crescendo, têm também surgido sucessivos pedidos de pessoas para integrarem o grupo. E ao nível da receptividade por parte da comunidade podemos afirmar que a resposta tem sido extraordinária”, acrescenta.
Além da tremenda aceitação no exterior, também no interior da Cercicoa o trabalho do grupo “CoAttitude” é um caso de sucesso. “Temos um grupo muito heterogéneo, de pessoas com dificuldades diversas, mas ao participarem neste processo cria-se alguma homogeneidade comportamental e todos colaboram para o mesmo. E muitas vezes, sem se aperceberem, estão a fazer ginástica, estão a treinar o discurso, estão a melhorar a sua capacidade de oralidade”, diz o presidente da cooperativa.
Ou seja, conclui António Matias, “os técnicos estão a fazer intervenção terapêutica de uma forma mais lúdica, sem aquele peso da intervenção técnica e do cumprimento de determinadas normas”. “É uma espécie de tudo em um e essa é a grande mais-valia deste processo de expressão dramática”, remata.
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