Quando chegou ao Canadá, há quase meio século, a castrense Rosa Contreiras estava longe de imaginar o que lhe iria acontecer a 22 de outubro de 2023. Foi numa noite dedicada ao seu concelho de Castro Verde que foi homenageada na Casa do Alentejo em Toronto, que ajudou a fundar, recebendo do Governo a Medalha de Mérito das Comunidades Portuguesas – Grau Ouro.
“Foi do fundo do meu coração que fiz tudo o que fiz pela Casa do Alentejo em Toronto. E continuarei a fazer enquanto puder”, afirmou Rosa Contreiras durante a homenagem. “Esta medalha que recebi não é só para mim, mas para todos aqueles que trabalharam comigo e para que continuem a dar à Casa do Alentejo o grande nome que merece”, acrescentou antes de ser ovacionada.
A entrega da Medalha de Mérito das Comunidades Portuguesas – Grau Ouro a Rosa Contreiras esteve a cargo do cônsul de Portugal em Toronto, Joaquim do Rosário, também ele natural de Castro Verde.
“Quis o destino que, 50 anos depois, encontrasse Rosa Contreiras aqui em Toronto e tivesse o privilégio de participar neste momento em que vai ter o reconhecimento que lhe era devido há muito tempo”, afirmou o diplomata, reforçando: “Nunca haverá palavras para reconhecer o seu empenho, a sua dedicação e o seu amor à Casa [do Alentejo]. E por isso ficar-lhe-emos eternamente gratos”.
“Esta medalha que recebi não é só para mim, mas para todos aqueles que trabalharam comigo e para que continuem a dar à Casa do Alentejo o grande nome que merece”, disse Rosa Contreiras
Para o presidente da Câmara de Castro Verde, António José Brito, é “uma grande honra” para o concelho “ver uma castrense que ao longo dos anos deu o seu melhor e trabalhou tanto para construir um projeto tão imenso”.
“Para Castro Verde é uma enorme honra ter uma castrense que conseguiu, ao longo destes anos, dar um pouco de nós à comunidade e construir todo este projeto, que representa o Alentejo e que transmite aquilo que é o ser alentejano, a tradição, o conhecimento e tudo aquilo que é o Alentejo de todos nós”, frisou o autarca durante a cerimónia.
Por fim, o presidente da Casa do Alentejo agradeceu os “40 anos de trabalho e dedicação” de Rosa Contreiras em prol da instituição. “É um orgulho muito grande fazer parte da vida desta senhora e ela fazer parte integrante da minha vida”, concluiu Jaime Nascimento.

Rosa Contreiras, de 86 anos e natural de Castro Verde, é sócia-fundadora da Casa do Alentejo em Toronto e recebeu do Governo a Medalha de Mérito das Comunidades Portuguesas – Grau Ouro
Tudo começou durante um almoço, entre finais de 1982 e início de 1983. À mesa estava a castrense Rosa Contreiras e o marido, Francisco Sousa, e mais dois amigos, Manuel Brito Fialho e Júlio Rosado. Conversa puxa conversa e, num repente, estes quatro portugueses emigrados em Toronto resolveram organizar um almoço que juntasse os alentejanos a residir nesta cidade canadiana.
A ideia inicial era juntar “30 ou 40 pessoas” para um pequeno convívio, mas rapidamente as inscrições foram-se avolumando e, a 12 de janeiro de 1983, eram 258 os alentejanos à mesa. E muitos mais na rua, sem lugar para se sentar.
O sucesso da iniciativa foi tanto que dali germinou a ideia de se criar a Casa do Alentejo em Toronto. “As pessoas começaram a vir ter connosco para fundarmos uma Casa do Alentejo e eu, como sou muito entusiasmada nessas coisas, disse logo ‘ruim seja quem se arrepender, vamos para frente’. Juntámo-nos todos e resolvemos fazer uma assembleia geral, de onde saiu a fundação da Casa do Alentejo”, recorda ao “CA” Rosa Contreiras.
“Tenho muito orgulho em ser alentejana, tenho muito orgulho em ser castrense e tenho muito orgulho na Casa do Alentejo, sempre com Castro Verde no coração”, conclui Rosa Contreiras
Nascida em Castro Verde há 86 ano, Rosa Contreiras tem estado ligado, desde a primeira hora, a uma instituição que é hoje um símbolo para todos os alentejanos (e não só) residentes em Toronto.
“A Casa do Alentejo em Toronto tem sido pioneira em tudo nesta cidade. E foi determinante para nós, alentejanos, nos unirmos, porque a maior parte não se conhecia uns aos outros”, frisa.
A viver há 49 anos na cidade canadiana, onde teve uma boutique de roupa para senhora, Rosa Contreiras chegou a presidir à Casa do Alentejo nos primeiros anos da década de 90. Muitas vezes, ainda olha para este espaço como a sua “primeira casa”.
“Aqui está ao meu lado [a filha Nancy] quem foi criada nesta casa, dormindo muitas vezes em cima de quatro cadeiras”, diz.
Apesar dos anos que já leva em solo canadiano, Rosa Contreiras não esquece Castro Verde, a terra onde nasceu.
“Tenho muito orgulho em ser alentejana, tenho muito orgulho em ser castrense e tenho muito orgulho na Casa do Alentejo, sempre com Castro Verde no coração”, conclui de lágrima no olho.
Ao longo desta semana serão publicadas várias reportagens sobre a 38ª Semana Cultural Alentejana da Casa do Alentejo em Toronto, dedicada ao concelho de Castro Verde e onde o “CA” marcou presença a convite do Município de Castro Verde