Agricultores do Baixo Alentejo contra possibilidade de água do Alqueva “rumar” a Espanha

O presidente da Federação das Associações de Agricultores do Baixo Alentejo (FAABA) não vê “com bons olhos” a eventual cedência de água do Alqueva a Espanha devido à seca, vaticinando prejuízos para a lavoura da região.

“Não vejo, à partida, essa pretensão com bons olhos. Tem de haver muitas conversas e […] tenho algumas reticências” sobre essa possibilidade, disse ao “CA” Rui Garrido, presidente da FAABA.

O dirigente falava a propósito de notícias publicadas em Portugal que dão conta de que o parlamento regional da Andaluzia, em Espanha, aprovou uma “proposta não legislativa”, ou seja, uma recomendação, solicitando água do Alqueva devido à seca. Essa pretensão de fazer chegar à Andaluzia água do Alqueva, nomeadamente do rio Guadiana a jusante da barragem, também já foi manifestada por agricultores da região espanhola.

Rui Garrido lembra que os agricultores espanhóis “têm mais do dobro das captações na bacia do Guadiana” do que os agricultores portugueses. “Segundo ouvi dizer, eles têm a área regada muito pelas ‘pontas’ e uma área muito grande para a água que têm. Portanto, é preciso que venham sempre anos muito temperados para aquilo dar”, argumenta.

O presidente da FAABA diz ainda que Portugal até podia ser solidário com Espanha nesta matéria, mas não se pode “esquecer que o ano passado ou há dois anos [os espanhóis] queriam cortar a água do caudal ecológico para Portugal no Douro”. “Quem não se sente não é filho de boa gente”, frisa.

“Não vejo, à partida, essa pretensão com bons olhos. Tem de haver muitas conversas e […] tenho algumas reticências” sobre essa possibilidade, disse ao “CA” Rui Garrido, presidente da FAABA

Na opinião de Rui Garrido, a pretensão espanhola poderia igualmente colocar em causa a agricultura alentejana que é beneficiada pelo Alqueva, cuja quota anual é de “590 milhões” de metros cúbicos de água e, este ano, “se não foi ultrapassada, está à beira de ser ultrapassada”.

“Portanto, a água que está disponível para agricultura na nossa região já não chega e temos de renegociar mais água. Ou com a EDP ou fazer mais barragens para captar mais água”, afirma.

Segundo adiantou esta semana a Agência Lusa, o Ministério do Ambiente e da Ação Climática (MAAC) diz não ter recebido, “até à data, qualquer pedido” de Espanha sobre a captação de água do Alqueva.

“Portugal tem em curso com Espanha uma negociação para a definição do regime de caudais na secção de Pomarão no rio Guadiana”, isto é, a jusante da barragem e no troço do rio no concelho de Mértola.

Tudo isto ocorre depois do Parlamento da Andaluzia ter aprovado, em outubro, uma proposta para a transferência dos direitos da água dos utentes do Alqueva para os utentes da bacia hidrográfica Tinto-Odiel-Piedras e Chanza, no âmbito da cooperação entre Portugal e Espanha, devido à situação de seca extrema que enfrenta o setor agrícola na zona de Huelva.

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Correio Alentejo

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