A seca está a ter um impacto “muito negativo” no setor do porco alentejano, cujo efetivo reduziu cerca de “30 a 50%” nos últimos anos, sendo mesmo a raça autóctone mais ameaçada em Portugal, revela ao “CA” o presidente da Associação de Criadores de Porco Alentejano (ACPA), com sede em Ourique.
De acordo com Nuno Faustino, o impacto da seca no setor faz-se sentir, desde logo, na fase de recria, de finais de janeiro a maio, quando a alimentação dos animais é garantida no campo. “Não havendo erva no campo, tivemos de compensar essa falta de pastagem com mais rações, aumentando obviamente os custos de produção”, nota.
A par disso, continua, a seca tem igualmente “uma repercussão direta no montado”, utilizado pelos produtores na chamada “fase de montanheira”, entre outubro e março, para engordar os animais com uma alimentação à base de bolota.
“A seca faz com que a produção de bolota seja sempre uma incerteza muito grande e, regra geral, muito pouca. E também tem influência na saúde do próprio montado, pois a mortalidade do montado, com consecutivos anos secos, tem sido superior àquilo que seria o natural”, afiança Nuno Faustino.
“Houve uma redução grande do efetivo de porco alentejano, na ordem dos 30 a 50%, e não é por acaso que a raça, neste momento, está na categoria de mais ameaçada nas raças autóctones a nível de extinção”, diz o presidente da ACPA, Nuno Faustino.
O presidente da ACPA acrescenta que esta realidade, associada aos maiores custos de produção, “por via do aumento de todas as matérias-primas” no pós-Covid-19, e do facto dos preços de mercado não estarem a crescer, “pressiona negativamente a produção” de porco alentejano.
“O resultado está à vista: houve uma redução grande do efetivo de porco alentejano, na ordem dos 30 a 50%, e não é por acaso que a raça, neste momento, está na categoria de mais ameaçada nas raças autóctones a nível de extinção”, diz.
Na opinião de Nuno Faustino, com esta conjuntura “é o próprio setor que está em risco”, sendo a seca “mais um fator negativo muito pesado que afeta muito o porco alentejano”.
Por isso mesmo, o presidente da ACPA defende que para as regiões a sul do país, sobretudo o Baixo Alentejo e o Algarve, haja uma diferenciação nas ajudas prestadas ao setor agropecuário, “para ser possível a sua continuidade”.
“Obviamente que também terá de haver uma adaptação por parte dos criadores – pois sabemos que vamos ter de reduzir os efetivos –, mas caso não exista alguma diferenciação positiva nos apoios para estas regiões temo que, num horizonte de curto-médio prazo, a pecuária seja residual nesta região”, conclui.