O presidente da União das Misericórdias Portuguesas (UMP), Manuel Lemos, afiança que o aumento dos pedidos de apoio de famílias a estas instituições sociais devido à crise “já se começa a notar” em algumas regiões.
O aumento dos pedidos de apoio por famílias “ainda não é generalizado, mas em alguns sítios já começa a haver sinais, como por exemplo o Barreiro ou o Algarve, regiões onde isso se começa a notar”, disse Manuel Lemos ao “CA” em Ourique, durante a visita à Misericórdia de Ourique.
O presidente da UMP está a visitar várias misericórdias do distrito de Beja até esta quarta-feira, 23, e questionado pelo “CA” sobre os impactos da inflação e do aumento dos custos com energia e combustíveis nestas instituições, admitiu que estes “estão a causar muitos, muitos problemas”.
Por isso, Manuel Lemos antevê que este ano se venha a registar “um número recorde de instituições [sociais] com resultados negativos se o Governo, até lá, não tomar medidas”.
O presidente da UMP defendeu que seja concedido “um apoio extraordinário” às instituições sociais, “que são a grande ‘almofada social’ que está no terreno”.
Manuel Lemos elogiou o anúncio do Governo de taxar os lucros excessivos das empresas dos setores da energia e da distribuição alimentar, receita que será destinada à população mais vulnerável, através das entidades do setor social.
“É obviamente uma medida muito boa, que aliás outros países da Europa já tomaram”, afirmou.
Em declarações ao “CA”, o provedor da Santa Casa da Misericórdia de Ourique, José Raul Santos, confirmou que estas entidades atravessam “um período difícil”, devido aos aumentos da inflação e dos custos com combustíveis e energia.
“Até 30 de setembro tivemos um aumento nos custos com energia de 42%, na ordem dos 13 mil euros, e ainda nos falta apurar os meses de outubro, novembro e dezembro. Isto é impensável”, disse.
Um quadro que levou o provedor da Misericórdia de Ourique a pedir “uma resposta muito clara e objetiva” do Governo, para fazer face ao que pode vir a ser “um descalabro”.
No final dos dois dias de visita, o presidente do Secretariado Regional de Beja da UMP, Francisco Ganhão, fez um balanço “muito positivo” da iniciativa que levou Manuel Lemos ao distrito.
“A deslocação aos concelhos e o contacto direto com as Misericórdias é uma maneira muito mais real de, no terreno, aferir das suas dificuldades”, frisou ao “CA”.
O presidente do Secretariado Regional disse ainda que todos os provedores aproveitaram a oportunidade para manifestar as suas preocupações relativamente ao “aumento galopante da inflação, que influencia o preço da alimentação, da energia e do gás”.
“É uma equação e um equilíbrio que não é fácil resolver, pois procuramos manter o apoio social aos mais necessitados, ter equipas motivadas e, ao mesmo tempo, fazer face ao aumento dos custos do que faz funcionar os nossos equipamentos”, notou.
A par disso, continuou Francisco Ganhão, os provedores reconheceram que os funcionários das Misericórdias devem ser, na generalidade, “melhor remunerados”. “Mas para serem melhor remunerados, é necessário que o Estado, através dos acordos [de cooperação], faça a transferência de valores condignos para que possamos ter uma tabela salarial mais aliciante para os nossos colaboradores”, advogou.