Quase a cumprir dois anos de mandato, o presidente da Câmara de Beja apresenta ao “CA” o balanço do trabalho desenvolvido e garante que há ainda muito por fazer até 2021 para que Beja seja, efectivamente, o “centro do Sul”. “Quer do ponto de vista cultural, do ponto de vista económico ou do ponto de vista da importância estratégica de Beja, estamos a tentar reposicionar a cidade numa importância maior do que aquela que tinha antes. E, nesse sentido, vemos que a dinâmica empresarial que Beja está a ter é muito boa, o que nos permite uma grande dose de optimismo”, vinca Paulo Arsénio.
Volvidos dois anos após a vitória do PS nas eleições Autárquicas, Beja está mais próxima de ser o “centro do Sul”, como ambicionam?
Entendemos que sim! Quer do ponto de vista cultural, do ponto de vista económico ou do ponto de vista da importância estratégica de Beja, estamos a tentar reposicionar a cidade numa importância maior do que aquela que tinha antes. E, nesse sentido, vemos que a dinâmica empresarial que Beja está a ter é muito boa, o que nos permite uma grande dose de optimismo. Também as actividades culturais que temos promovido têm chamado à cidade muitos visitantes, assim como a promoção que temos feito da própria cidade. A par disto, há a recuperação do património que temos levado a cabo nestes dois anos – que é algo fundamental na cidade de Beja, que é uma cidade muito antiga –, a recuperação dos caminhos e das estradas municipais – que tem sido uma tarefa muito árdua, muito difícil e que estamos longe de concluir, mas que começámos logo no primeiro ano de mandato a fomentar –, ou a mobilidade em termos de transportes públicos que estamos a conseguir para as pessoas do concelho, aplicando o PART e reduzindo substancialmente o preço dos passes mensais. Portanto, deste ponto de vista – das acessibilidades, dos caminhos, da recuperação do património, da instalação industrial e da importância cultural da cidade de Beja – julgo que temos seguido o caminho correcto para que, a médio prazo, possamos também colher os frutos da nossa acção. Estamos satisfeitos com aquilo que temos vindo a conseguir, até atendendo aos meios financeiros e humanos que temos. Se tivéssemos outros recursos humanos poderíamos, eventualmente, conseguir mais.
Financeiramente, qual a situação actual do Município?
Temos uma situação que está sempre economicamente nos limites, muito apertada. Temos de ter um apertado controlo orçamental, de forma a não entrarmos rapidamente “no vermelho”. Somos uma câmara municipal com um número significativo de trabalhadores, quase 500, e até temos alguns concursos abertos para [assistentes] operacionais em áreas que nos fazem falta. Mas não podemos esquecer que temos edifícios municipais muitíssimo degradados, casos do Mercado, das Piscinas, da Casa da Cultura, da própria Câmara Municipal, e um conjunto de infra-estruturas que temos estado a recuperar, como o Jardim Público. Temos também um parque automóvel muito envelhecido, com uma frota com uma média de idade de 19 anos, que precisa também de uma renovação periódica e que já iniciámos com a aquisição de algumas viaturas – sendo que no mandato anterior não se comprou rigorosamente nenhuma viatura. Portanto, temos de ter sempre alguma atenção, que tem de ser compatível com a modernização da Câmara Municipal nas suas infra-estruturas, nas viaturas e nos recursos humanos.
Agora que, passe a expressão, já conhece “os cantos à casa”, a segunda metade do mandato é para fazer obra?
Já temos posto muitas ideias em execução, nomeadamente na reabilitação do património e de caminhos municipais. Temos feito um esforço grande – e que é notório – no envolvimento da população e na participação da cidade naquilo que queremos fazer para Beja, e temos lançado um conjunto de candidaturas importantes para que tenhamos financiamentos de 75 e 85% para obras estruturantes. Agora os primeiros dois anos têm sido difíceis, até por uma questão de organização interna, que não escondemos. Neste momento, estamos a trabalhar com um presidente e três vereadores e apenas dois chefes de divisão. Por isso a reestruturação orgânica que entrou em vigor a 1 de Junho é absolutamente decisiva, sendo que decorrem os concursos para nove chefias de divisão de segundo grau. Quando tivermos os novos chefes de divisão, temos a percepção que a Câmara poderá funcionar ainda melhor do que actualmente.
Para estes dois próximos anos, que projectos vão avançar e poderão ser marcantes para o concelho?
A nossa linha para estes quatro anos será sempre a mesma: recuperar, valorizar e promover! Aquilo que anunciámos há dois anos é aquilo que se mantém firme no nosso espírito e julgamos que não há espaço para muito mais.
Como assim?
Quando dizemos recuperar, valorizar e promover o concelho de Beja dizemos, por exemplo, dar sequência à candidatura recentemente aprovada de remodelação do Museu Regional Rainha D. Leonor. Passa por um processo muito difícil que temos entre mãos – em que a Câmara foi colocada em tribunal por alguns dos operadores, com toda a legitimidade que lhes assiste – que é a modernização do Mercado Municipal. Não é uma questão de teimosia! O Mercado Municipal atingiu um tal estado de degradação que é muito importante que alguém faça alguma coisa. E esse alguém tem de ser a Câmara Municipal de Beja, não pode ser outra entidade. Queremos valorizar o nosso Mercado Municipal, queremos que seja de novo um grande centro comercial tradicional no centro da cidade, e temos meios para o fazer, assim nos venha a Justiça dar razão. Falamos ainda da recuperação das Piscinas Municipais, pois é também emblemático para nós podermos ter umas piscinas municipais mais funcionais, reabilitadas, que seja um equipamento de excelência. Falamos da continuação da recuperação das estradas municipais e dos caminhos rurais. Nunca ninguém fez em tão pouco tempo a recuperação da quantidade de quilómetros que estamos a fazer. E o que dizemos é que se no passado essa manutenção tivesse sido feita como a estamos a fazer, hoje as necessidades do concelho seriam muito escassas e assim continuam a ser imensas. Portanto, este é o caminho que queremos continuar a seguir. Ou seja, não vamos inventar a pólvora nos últimos dois anos nem tirar nenhum coelho da cartola. Mas vamos continuar a afirmar Beja com iniciativas como o Festival B e vamos ter uma cidade dinâmica e activa, sobretudo do ponto de vista empresarial. Isso é muito importante, assim como é importante que a HiFly/MESA estabeleça o seu primeiro hangar em Beja e tenha cá 150 pessoas a trabalhar. E é importante que as 21 empresas que se vão instalar na primeira fase da ZAE Norte [ver notícia ao lado] comecem a estabelecer os seus negócios. E já agora, é importante que o futuro Governo da República dê um sinal quanto às acessibilidades, nomeadamente quanto à ferrovia e à rodovia.
Em que medida essa questão das acessibilidades condicionam a dinâmica empresarial da cidade?
Sobretudo a questão da acessibilidade rodoviária, pois a ferroviária é mais para passageiros e menos para negócios. É absolutamente importante que haja uma acessibilidade rodoviária em boas condições a Beja. Neste momento, no troço Beja-Beringel, a acessibilidade rodoviária é muito deficiente e estamos a preparar uma exposição exaustiva sobre a mesma ao Governo, seja este ou outro. São 12 quilómetros muito maus… E depois há uma condicionante muito forte que tem de ser ultrapassada em breve e que as empresas da região se queixam: trata-se da ponte de Santa Margarida do Sado, que é muito estreita.
Condicionantes à parte, está satisfeito com a dinâmica económica que o concelho tem vindo a revelar?
Admito que tem superado um pouco as minhas expectativas. Não seria expectável que por mudar o executivo da Câmara de Beja e nós entrarmos houvesse uma bolha que transformasse Beja num grande centro industrial. As coisas não se fazem assim, fazem-se com a confiança progressiva que os agentes vão adquirindo nos políticos que estão à frente de cada uma das autarquias e na confiança que essas entidades políticas transmitem aos empresários. E nós temos tido reuniões muito interessantes, com pessoas que saem daqui satisfeitas por um motivo – quando uma empresa nos consulta dizemos claramente quais são os pontos fracos e fortes do Município, aquilo com que podem ou não contar. As pessoas sentem que são tratadas com muita sinceridade e cortesia, de forma a que possam decidir em consciência para onde querem ir.
De momento, entre o projecto da MESA, o futuro hospital privado e a nova ZAE, há intenções de investimento privado no concelho na ordem dos 100 milhões de euros. É um número significativo, não é?
É de facto um número relevante… E no caso da MESA, tenho que destacar o facto de todas as empresas que têm trabalhado, quer na terraplanagem quer na edificação do hangar, serem da região, o que é absolutamente extraordinário. Quer dizer que esse investimento acaba por ter retorno para trabalhadores da região.
Entrevista publicada na edição de 27 de Setembro do "Correio Alentejo"