Segurando uma chávena de café forte, ainda com o dia envolto em neblina, Peter Knight não é nada brando nas palavras. “Isto é uma loucura”, diz este inglês de 58 anos sobre o “Brexit”, alcunha dada ao processo de saída do Reino Unido da União Europeia, concretizado no passado dia 31 de Janeiro, depois de três longos anos de avanços e recuos.
Desde essa data a Europa unida passou de 28 a 27 países, num processo que aconteceu pela primeira vez desde que em 1957 foram criadas a Comunidade Económica Europeia e a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço. Mas este é um “divórcio” que está longe de ser consensual entre os cidadãos britânicos, seja em Londres seja no Baixo Alentejo.
Para Peter Knight, empresário ligado ao sector agro-industrial e que está no concelho desde 1983, o “Brexit” é uma “loucura” que, na sua opinião, pode ser justificada em dois planos: “o medo que eles [ingleses] têm de ver o país ‘inundado’ com imigrantes e o desperdício de dinheiro” associado à União Europeia.
“É difícil que qualquer pessoa da Europa tenha o mesmo pensamento de uma pessoa que vive numa ilha, em que para de lá sair tem de apanhar um barco ou um avião. É uma mentalidade completamente diferente! E esta coisa do ‘Brexit’ foi claramente influenciada pelo voto das pessoas com mais de 45 anos, que temem os imigrantes e essas coisas”, afirma este inglês nascido em Warwick, no centro, esperando que o “Brexit” acabe por ser “uma chamada de atenção” para Bruxelas.
Opinião semelhante tem Susan Fletcher, 66 anos, natural de Southampton e radicada no concelho de Ourique há 22 anos. “Não tenho palavras em português para descrever esta situação… É terrível! É terrível para Inglaterra e é incompreensível… É muito triste, sem dúvida”, diz de voz embargada.
Para Susan, o “Brexit” vai deixar a Inglaterra “totalmente sozinha e isolada” na Europa. “É estúpido e isto vai ficar muito complicado para os britânicos que estão na Europa. Mas graças a Deus que o Governo de Portugal é muito generoso e dá-nos acesso aos cuidados de saúde e a esse tipo de coisas, até a votar”, observa.
Mas nem todos os britânicos a viver no Baixo Alentejo são tão críticos como Susan e Peter relativamente ao “Brexit”. É o caso de John Ashton, Mike Murphy e Susan Heath, todos eles radicados na vila de Entradas (Castro Verde), que elogiam com fervor a saída do Reino Unido da União Europeia.
“Há anos que defendo o ‘Brexit’, pois a Inglaterra estava a ser governada a partir de Bruxelas. Esta é a melhor solução”, afirma John Ashton, 71 anos, natural de Manchester, que não antevê problemas para os cidadãos ingleses a residir em Portugal (ou vice-versa). “Temos a aliança política mais antiga do mundo”, advoga.
Susan Heath, 66 anos, de Stoke-on-Trent, partilha esta ideia. “Antes as pessoas também iam trabalhar para outros países e iam de férias… Não vejo porque será um problema”. Além do mais, “se Portugal mandar todos os ingleses embora, então terão problemas no Algarve. O mesmo em Inglaterra: se mandarmos todos os enfermeiros portugueses embora, teremos problemas graves”, observa.
Ao lado, o marido Mike Murphy, 68 anos, acrescenta que com o “Brexit” o Reino Unido vai “ter a indústria de regresso, mais emprego, mais pessoas a trabalhar e uma vida melhor”. “Vamos ficar melhores e mais fortes”, conclui este inglês de 68 anos… que também defende saída de Portugal da União Europeia.
