A professora Conceição Lopes escolheu a Praça da República, em Beja, para gravar esta conversa, porque é um sítio central na memória dos tempos, mas também porque foi aqui que Conceição Lopes se cruzou com arquitetos, arqueólogos, pintores e muita gente anónima que a ajudou a construir uma memória da cidade, que conhece como a palma das suas mãos, quer o que os olhos vêem, quer a que está subterrâneo. Uma Praça que guarda as memórias de outros tempos, como os que conta na nossa conversa.
Conceição Lopes é uma daquelas mulheres que precisávamos de ter em dobro no Baixo Alentejo, preocupa-se com a oralidade, com o conhecimento popular e mistura isso tudo com uma disciplina como a arqueologia que hoje em dia é vista como uma empecilho por muitos, mas que permite um efetivo desenvolvimento do território a nível social, cultural e económico. O exemplo do Campo Arqueológico de Mértola, com Cláudio Torres, é a prova disso mesmo.
Com trabalhos em vários cantos do mundo, Conceição Lopes chegou ao Alentejo para escavar São Cucufate e foi na Vidigueira, com o antigo autarca Carlos Goes, que começou a trabalhar, tendo sido a primeira arqueóloga municipal do país. Irrequieta e sempre ansiosa por conhecer e descobrir mais, teve um choque amigável com João Rocha, em Serpa, um choque que acabou por permitir um trabalho de base que ainda hoje é referência, a Carta Arqueológica do concelho.
Conceição Lopes é uma pessoa que “procura conhecimento à procura de si mesmo”, como se define a si mesma, e que vê na terra e na arqueologia o grande arquivo da nossa história e é nesse arquivo que nota -com mágoa- o que está a acontecer no Alentejo, uma profunda alteração social, que recorre até à escravatura humana, estando a transformar-se num espaço que não acolhe estas novas pessoas, quando soube acolher (e ganhar) com os novos povos de outros tempos, como os romanos e os islâmicos.
Uma conversa boa, com alguém que atua no território há 30 anos e a quem o Baixo Alentejo muito deve para ver aqui.