Em entrevista ao “CA”, o coordenador do Observatório do Baixo Alentejo (OBA) para o aeroporto de Beja lembra que este é o único do país com uma zona industrial anexa, “o que lhe dá uma especificidade própria”.
Dez anos depois da inauguração, o que tem faltado para a afirmação do aeroporto de Beja?
Demorou demasiado tempo a surgir um privado que investisse com coragem e com uma capacidade de resiliência assinalável para conseguir ultrapassar as barreiras que foram surgindo, mesmo que previamente identificadas. O facto de não ter existido uma unicidade regional sobre a estratégia a adotar e as suas prioridades permitiu que o país e os decisores olhassem para o projeto como mais complexo do que na verdade é, assustaram-se e não se empenharam a desatar os nós górdios, normais num projeto que nasce não por uma exigência de mercado, mas por um aproveitamento económico.
Que estratégia defende o Observatório do Baixo Alentejo para o aeroporto?
Temos uma proposta muito clara sobre este projeto. Com pragmatismo e sem estratégias megalómanas – e não é uma estratégia minorante, pois até defendemos a ampliação muito urgente da zona industrial e placa de estacionamento. Defendemos que a estrutura deverá ter disponíveis todas as potencialidades que o mercado exigir. Mas devemos focalizar-nos em criar condições, em primeiro lugar, na vertente industrial, depois de logística e, por último, de passageiros.
Considera, portanto, que a afirmação desta infraestrutura tem de passar pelas valências da manutenção e industrial?
Sim, por muitas e várias razões. Porque implica muitíssimo menos investimento público – até quase nenhum –, porque é o único aeroporto do país com uma zona industrial anexa o que lhe dá uma especificidade própria. E porque permite criar melhores empregos, maior riqueza regional, empregos mais estáveis e a fixação de pessoas diferenciadas.
“O facto de não ter existido uma unicidade regional sobre a estratégia a adotar e as suas prioridades permitiu que o país e os decisores olhassem para o projeto [do aeroporto de Beja] como mais complexo do que na verdade é.”
Pensar na hipótese Lisboa + Beja é, neste momento, irreal?
Totalmente! E reafirmamos a convicção que essa estratégia, embora populista e fácil de vender na opinião pública, bloqueia a discussão politica de quem decide, pelo elevadíssimo custo que envolve, pela incompatibilidade de contratos assinados, com outras soluções, etc. E querendo tudo, acabamos por não ter nada. Mas defendemos a alternativa imediata a Faro na vertente dos passageiros. Depois, no futuro, logo se verá. Mas entretanto devemos desenvolver o que está perfeitamente ao alcance.
O aeroporto, juntamente com o Porto de Sines e Alqueva, formavam o “triângulo estratégico” da região. Sente que estes vértices não estão devidamente ligados?
Não estão. Porém, podem e devem estar, não numa lógica de que o Porto de Sines é a solução para o aeroporto ou o aeroporto é o “ovo de Colombo” para Sines, pois serão muito poucas as mercadorias que veem de barco e complementam o seu percurso de avião, ou vice-versa. Mas numa lógica em que podemos “vender” a região internacionalmente de modo a que as empresas que aqui se instalarem contem que têm duas infraestruturas extraordinárias que podem utilizar, em simultâneo ou alternativo. Complementado com zonas industriais e zonas francas em termos de atratibilidade de impostos.