Deixem-me começar por dar os meus parabéns ao “Correio Alentejo” pelo seu primeiro aniversário e a minha satisfação por nele poder exprimir algumas opiniões que apenas nos deixam satisfeitos quando elas vão de encontro ao que pensam muitos dos leitores.
E em tempo de aniversário, muitos são os assuntos que gostaria de versar pela sua actualidade.
<b>1 – </b>O mais grave e importante tem a ver com a situação de escravatura forçada de vários trabalhadores portugueses em Espanha, explorados por outros portugueses de uma forma ignóbil. Os intermediários recebiam o salário dos trabalhadores, a quem davam 10 euros mensais, uns cigarros e umas meninas, ficando alojados e aprisionados em condições sub-humanas. Isto passa-se no séc. XXI, em países de uma Europa que agora festeja 50 anos de união, presidida pelo premiado dr. Barroso, depois do seu patrocínio à Cimeira dos Açores. Num país que se deleita com as pedofilias e os crimes de faca e alguidar, vamos esperar que a opinião pública e a justiça não deixem passar em claro esta monstruosidade e os culpados sejam exemplarmente penalizados e condenados.
<b>2 – </b>Depois tivemos conhecimento das acumulações e vencimentos ilegais de vários munícipes em muitas empresas municipais. Aqui não poderemos dizer que se trata de uma novidade. De facto, algo vai mal num país em que continuam a ser muitos gestores, e não só, a definir as suas próprias regalias salariais, subsídios e acumulações imorais e tantas vezes contrárias à lei. Quando se pedem sacrifícios aos funcionários públicos, se congelam carreiras e salários, é intolerável que alguns passem ao lado desses sacrifícios e se auto-atribuam salários e regalias superiores ao Presidente da República e sabe-se lá que mais. Nestes casos, não chegam as denúncias do Tribunal de Contas. O Governo deveria remeter para a justiça quem faz batota e demitir sumariamente quem não mostra dignidade para os cargos públicos que ocupa. Aos poucos, vamos percebendo como é que num país pobre de recursos se vendem primeiro os apartamentos mais caros e não faltam os iates nas marinas.
<b>3 – </b>Na televisão, o sr. José Eduardo Moniz continua alegremente a fomentar a estupidificação do pessoal, conseguindo inventar sempre um programa mais imbecil que os anteriores, mas que naturalmente dão <i>share</i>! Agora arranjou umas “belas”, que não sabem quem foi Luís de Camões nem conhecem o Fidel Castro. Eu não sei este “senhor televisão”, como engraçadamente lhe chamam, já foi agraciado com uma medalhita no 10 de Junho. Naturalmente que pelos serviços relevantes prestados ao país no campo da cultura…
<b>4 – </b>E ainda na televisão, que me dizem à entrevista do impagável sr. Major Valentim, na televisão pública, a propósito de ir a julgamento no Apito Dourado? Que critérios jornalísticos justificam tal convite? É só o <i>share</i>? Então porque não o levam a sério na sua pretensão de ser julgado publicamente na televisão? Eu acho que era bestial. Até porque já ninguém liga ao prof. Marcelo, o Herman está a ter o fim triste que merecia, o dr. Santana Lopes anda por aí e antes que apareça eu punha lá o sr. Major. Pela elegância e oportunidade do seu pedido, e até porque na questão do aborto o Valentim foi pelo “sim” (!). E se fosse legal, que não é, eu deixava lá ficar um daqueles júris com a d. Clara Pinto Correia, o João Baião, o Toy e um daqueles senhores que falam estrangeiro e que são muito entendidos em tudo. Podem crer que estava o baile armado.
<b>5 – </b>E sobre a nossa selecção de futebol, de que falei aqui há pouco tempo. Adorei ouvir um daqueles fabulosos e barulhentos locutores desportivos, dizer antes do jogo com a Bélgica, que a grande ausência da selecção portuguesa ia ser o brasileiro Deco. Que como vimos fez uma falta enorme. Os tais miúdos que são suplentes do Deco, formados nas escolas dos nossos clubes, fizeram um jogão de encher o olho a quem gosta realmente de futebol e vestiram e honraram de direito próprio a camisola das quinas, aplaudidos pelos 50.000 portugueses que foram a Alvalade. Os jornalistas do sr. Deco foram todos ao aeroporto da Portela numa missão oportuna e de boa vontade a propósito de umas declarações que o guarda-redes belga teria feito para atingir fisicamente o nosso Cristiano Ronaldo. Claro que a nossa TV e os medíocres jornalistas que conseguem alimentar neste pobre país três jornais desportivos diários (é obra) não perderam o filão e no dia da chegada da selecção belga lá estavam eles, de microfone em punho, com aquelas perguntas amenizadoras, que lhes valeram uns sopapos dos gorilas belgas que protegiam os jogadores. Será que os srs. jornalistas, depois das suas perguntas provocatórias, estariam à espera de receber uns chupa-chupas? Não sei se repararam no abraço que o tal guarda-redes e o Ronaldo deram no fim do jogo. Penso que só tinham a aprender com eles e não contribuírem, como o sr. Eduardo Moniz, para a estupidificação dos portugueses.
<b>6 – </b>Também pensei em comentar as últimas aventuras do menino P.P. ( Paulo Portas), que o país rejeitou há bem pouco tempo. A ele e ao Santana. Parece que chegou à conclusão que lhe faz falta ser ministro. O pior é que o país concluiu muito mais cedo, e claramente, que não o quer para coisa nenhuma. Talvez por isso, nem as cenas de violência que os CDS e os PP’s ensaiaram no Conselho Nacional despertaram qualquer entusiasmo na opinião pública. Porrada por porrada, a dos democratas cristãos não chega nem aos calcanhares da dos sunitas e xiitas. Por isso, estas religiões são diferentes e mostram a violência que define os seus actores. Aliás, o “Paulinho das feiras”, nos tempos da Moderna, pavoneava-se de Jaguar pelas ruas de Lisboa. Eu se fosse a ele não parava.
<b>7 – </b>Por último, o lamentável número dos 10 portugueses mais célebres, que Oliveira Salazar ganhou. Na Inglaterra, ficou em segundo lugar um castiço professor duma Universidade, que os alunos resolveram apoiar. Pegou da mesma maneira que em Portugal a Floribela tem sucesso. Mas a vitória de Salazar neste medíocre concurso que a reformada Maria Elisa trouxe para Portugal tem infelizmente várias lições a tirar. Sendo que a primeira esquece no tempo que todos saímos à rua espontaneamente no 25 de Abril, a rejeitar a falta de liberdade, a guerra colonial, as injustiças sociais, a polícia política e o despotismo dos senhores do regime. Mas Salazar também deixou o rigor das Finanças Públicas, as reservas de ouro do Banco de Portugal e grandes investimentos como a Siderurgia Nacional, os cimentos, a indústria metalo-mecânica e a indústria naval. Como exemplo que poucos recordarão, antes do 25 de Abril, os deputados da Assembleia Nacional só ganhavam nos dias em que efectivamente iam à Assembleia. Era impensável nessa altura haver o regabofe das viagens e subsídios auto-atribuídos dos actuais deputados da República e da pouca vergonha de roubalheiras que todos os dias vemos nalguns políticos e gestores de empresas públicas, como vimos agora nas empresas municipais, nos ordenados imorais, nas regalias obscenas e nas acumulações escandalosas de muitos dos políticos que nos governam, enquanto se pedem os habituais sacrifícios ao “Zé Povinho”. E o povo português que não é tão estúpido como os que julgam enganá-lo, rejeitou, apesar da tenebrosa pressão dos <i>media </i>de então, a eleição do candidato Soares Carneiro, como agora, em condições necessariamente diferentes e com outro significado, votou num ditador como Salazar, rejeitando à sua maneira um país real de sacrifícios dum país imoral de regalias.
<b>8 – </b>Às vezes é bom parar para pensar e ver se conseguimos, de facto, oferecer mais e melhor em factos e menos em verborreia, que têm escondido tanta imoralidade tapada pela pseudo-democracia e agravamento das injustiças sociais.