A entrevista de Jorge Sampaio à SIC Noticias resume, em termos estruturais, aquilo que penso, aquilo que tenho dito e tenho escrito sobre o actual estado de coisas no país.
Para além de tocar no ponto fundamental do que se espera do sistema político e dos partidos neste actual estado de coisas, é de uma clareza assustadora quando se expressa sobre o que pode ser o futuro próximo do nosso país.
Num momento absoluto da entrevista atira com "a democracia tem que responder com ideias, com aberturas partidárias". Dizer o quê sobre a necessidade premente/emergente de os partidos responderem ao que se passa na rua com a abertura e a capacidade de acolhimento (diria paternidade) de que esses movimentos precisam para que se tornem efectivos e organizados (independentemente da enorme capacidade de organização e de efectividade da acção demonstrados, próprio deste momento inicial).
Já chega de falar sobre os movimentos. Queria era falar sobre Jorge Sampaio ter vindo dar uma entrevista. Que bom que é voltar a ouvir o homem sobre o país (infelizmente o contexto não é nada bom) e colocar, com a clareza e legitimidade que lhe reconheço, aquela ala esquerda do PS no centro da opinião.
Neste momento, é importante que o PS possa contar com essa sua ala mais criativa, mais "keynesiana" (do economista John Maynard Keynes, que teve um papel preponderante na saída da crise dos anos 30 do século passado) e mais inclusiva. É a ala com que me identifico e Jorge Sampaio é claramente uma referência para mim. Por isso voltar a ouvi-lo é sentir que os valores e a verticalidade na acção estão de volta à política, diz-se esperança!
No mesmo dia, ou talvez não, leio que o António José Seguro assume que não permitirá, por criação de norma interna, que os "dinossauros" se recandidatem a outras câmaras. Neste domínio é Álvaro Beleza quem refere que "há um princípio de renovação, com raiz republicana, que é caro ao PS. O objectivo é aprofundar a democracia. O sentido da lei não é ‘para ir à câmara ao lado’, é para fazer um intervalo na vida autárquica".
Sinceramente não consigo entender (mesmo sendo pela renovação e sendo republicano) como é que isto contribui para aprofundarmos a democracia quando estamos constantemente a sentir a necessidade de a balizar (criar caminhos mais estreitos). A primeira coisa que transparece é que os autarcas estão danadinhos para se irem candidatar a outras câmaras e que essas populações estão danadinhas para votar neles (que vieram das câmaras ao lado). Será um menorizar do autarca ou da população?! Ou da maturidade democrática da nossa sociedade?
Nem imagino o que o Álvaro Beleza quer dizer com o sentido da lei ser “para fazer um intervalo na vida autárquica”?!
Eu sei que é mais difícil acreditar que as pessoas sabem o que é melhor para a gestão das suas autarquias mas, sou de opinião de que, deveríamos dar esse benefício da dúvida às pessoas. Assumir que o processo democrático é um processo evolutivo do qual as pessoas se vão apropriando e, com isso, vão promovendo mudanças nas estruturas partidárias (representantes máximos da democracia representativa) e estas, tal como Jorge Sampaio refere, devem “apresentar ideias e aberturas”. Julgo que não é isto (cercear um direito constitucional do indivíduo) que está subjacente a essa ideia de abertura, mais a mais quando o PS deu um sinal fantástico ao implementar as eleições internas directas.
Para finalizar o dia dei com um texto do João Quaresma (eleito da CDU na Assembleia Municipal de Odemira) num site local onde ele expressa/destila toda a sua raiva, intolerância e falta de sentido democrático. Nem se pode dizer que é falta de experiência política ou de uma precipitação própria da juventude. Não é!
A política faz-se com frontalidade, com coerência de posicionamentos e de acções, mas não se confunde com o que o João escreveu. O meu lamento, só isso, até porque o que está escrito não merece mais do que um lamento!
O que vale é que o PS Açores ganhou com uma nova maioria absoluta! Talvez assim tenha sido porque o povo sabe muito bem aquilo que quer!
Sejamos autarcas dinossauros (em trânsito para a câmara do lado), sejamos de partidos de protesto (que não querem chegar ao poder) ou sejamos independentes nas listas de um partido político (porque não nos queremos vincular), quando concorremos, felizmente, só ganhamos quando o povo quer!
É a democracia pá!
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