No passado fim de semana estive em São Teotónio nos Encontros Literários do Alentejo. Numa das tertúlias onde marquei presença, o meu amigo e escritor maior Fernando Évora, que moderava o debate, abriu as hostilidades com a pergunta: “Porque escrevem os escritores?” A questão foi colocada inicialmente ao painel de escribas, mas logo aberta aos demais presentes, todos eles gente que trata por tu a palavra.
Por vergonha, por falta de conhecimento ou pelo deficit intelectual que em mim reconheço, não intervi. Limitei-me a escutar a opinião abalizada de quem domina o tema, sugando a preciosa informação que os meus pares debitavam.
Das múltiplas explicações que retive, aquela com que mais me identifico é a de que se escreve para memória futura. Houve quem dissesse que o fazia pelo desafio que representa uma página em branco. Outro afirmava por se sentir artista e ser esta a expressão da sua arte. Para logo alguém acrescentar que o fazia por transpiração, esperando que a inspiração o/a visitasse durante esse processo. Houve ainda quem dissesse que o fazia por disciplina e um outro por pressão, nomeadamente no que diz respeito ao prazo limite para entregar o texto; coisa que concordo, porque o sinto no momento em que debito estas linhas.
Eu, que estou para a escrita como o cigano está para o marketing, escutava embevecido aquelas teorias que ali descobria e, se calhar, também se aplicavam a mim. Mas, porque escrevo eu? Escrevo, porque sim! Porque… como toda a gente, aprendi a escrever. E, ao juntar as palavras, estas se transformam em imagens escritas. E eu deslumbro-me com a magia da transfiguração. Como se a criança que em mim persiste, descobrisse as coisas pela primeira vez. Escrevo para aflorar as minhas angústias. Para as partilhar. E assim, deixarem de ser apenas minhas e passarem também a ser de quem mas lê. Escrevo para me espantar e gosto de demorar esse desassossego como se fora um gozo quase sexual. Escrevo para me prolongar. Pra me prolongar no tempo. Como se adquirisse folha a folha uma extensão temporal. Algo que sobrevivesse para lá de mim. No fundo, para me imortalizar. Escrevo para sofrer. Sim, para sofrer!
Porque escrever traz consigo as dores das letras. Esse mal crónico que apenas se cura escrevendo que, quanto mais se escreve mais arde, só se apazigua escrevendo e se paramos morremos. Um pouco como as pragas de Alvor. Não sei mesmo se não será uma delas! Era isto que tinha em mente dizer aos meus pares. Mas, por vergonha, por falta de conhecimento, por notório déficit intelectual… deixei-me ficar calado, mas que agora convosco reparto.
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