O PCP e a insensibilidade social

Paulo Pisco

Membro da Assembleia Municipal de Serpa

O Partido Comunista tem uma forma curiosa de se situar na crise económica que assola todo o mundo, atingindo com maior dureza algumas regiões mais frágeis, como é no nosso país o caso do Alentejo. Neste contexto, esforça-se por fazer crer que os problemas económicos são culpa do Governo e, por isso, só ele tem de encontrar soluções para os resolver. Mas a nível local a situação ganha outro significado, como recentemente aconteceu com a Câmara de Serpa.
Num município governado há trinta anos pelo Partido Comunista, os vereadores da CDU não hesitaram (está em acta) em afirmar que entendem “que a resolução dos problemas que existem na sociedade portuguesa e que têm expressão actual nas difíceis condições de vida que se colocam às famílias, compete ao poder central, e não podem de forma nenhuma ser imputados às autarquias”. Tal e qual, nu e cru.
O Partido Comunista recusa, assim, dar o seu contributo para minorar os efeitos da crise a um dos níveis em que a proximidade com as pessoas é maior, isto é, a nível local. Para um partido que enche a boca com a defesa dos mais fracos da nossa sociedade, convenhamos que se trata de uma posição surpreendentemente fria, porque sacrifica um gesto de solidariedade ao combate político.
Percebe-se, pois, que mais do que resolver problemas, o PCP procura estratégias que lhe permitam explorar o descontentamento e que garantam ganhar capital de queixa. Só que esta atitude, na ânsia de aproveitar a crise para tentar penalizar o Governo, acaba por revelar uma grande insensibilidade social por parte do Partido Comunista. Isso mesmo, uma grande insensibilidade social, por mais estranho que pareça. E, mesmo que possa haver excepções, esta generalização é possível porque o Partido Comunista age como um corpo orgânico, cujos militantes cumprem disciplinadamente as orientações que recebem.
Porém, em tempos de grave crise mundial, a guerrilha política devia dar lugar a alguma solidariedade para com as pessoas temporariamente atingidas, como fizeram muitos municípios um pouco por todo o país, criando ajudas para pagar pequenas reparações, contas de medicamentos, facturas de consumos de água, gás e electricidade, apoio alimentar ou em roupas.
O PS na Câmara e na Assembleia Municipal [de Serpa] propôs que fossem criados programas específicos de solidariedade para com os mais atingidos, mas foram totalmente ignorados. Bastavam cinco ou seis dezenas de milhar de euros para atender a necessidades mais imediatas de pessoas que possam estar em dificuldades em virtude da crise. E no caso de Serpa esta recusa ainda é mais chocante, já que a Câmara decidiu gastar uma fortuna com o Museu do Absurdo e com uma fantasia chamada Musibéria que, em conjunto, vão consumir quase três milhões de euros, sem que se vislumbre sustentabilidade para os projectos.
A crise mundial vem assim revelar mais um dos aspectos peculiares do Partido Comunista, agora mais movido pela frieza dos seus cálculos políticos do que pela solidariedade concreta, desligando-se de problemas humanos que se podem passar dentro das fronteiras dos próprios concelhos, o que é, no mínimo, uma estranha forma de fazer política.

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