Detesto segundas-feiras! Detesto-as tanto que começo a odiar os domingos só por serem vésperas destas.
À segunda-feira nada me corre bem. Tenho sempre um humor daqueles de rosnar bons dias a quem me saúda. A minha cabeça é uma completa desarrumação, cujas ideias, num exercício de chega p´ra lá, me provocam um tal mau estar, que nem perto de mim consigo chegar.
Se eu mandasse, abolia este fatídico dia. As semanas por mim começavam à terça-feira e de preferência da parte da tarde.
Quando há um tempo atrás ouvi alguém do governo dizer que os feriados iriam passar a ser sempre à segunda-feira, apoiei de imediato esta medida. Mentalmente reivindiquei logo o dobro dos existentes, para que a minha tese da total abolição deste fatídico dia começasse a ser uma realidade.
Se fosse funcionário público e se me dessem a escolher entre o horário total ou a redução de horário, nem hesitaria em retirar do meu calendário laboral esse horrível dia que dá pelo nome de segunda, mas que é a primeira das minhas dores de cabeça semanais.
Rebobinando as segundas-feiras da minha vida de que tenho memória, nenhuma delas me traz grandes recordações e se por acaso o Benfica perdeu durante o fim-de-semana a coisa ainda tem tendência a piorar.
É à segunda-feira que sou chamado ao gerente bancário para me dar conta da minha falta de liquidez, isto na sua linguagem polida e cheia de salamaleques, porque antes dele me avisar já eu sei que ando teso e não é de agora.
Quando vou ao médico é sempre à segunda-feira. Este, num discurso que me parece combinado com o do gerente bancário só que ao contrário fala-me do que tenho a mais: dos excessos de colesterol, triglicerídeos ou ácido úrico, só para falar dos valores que põem em risco a minha saúde física.
Hoje, segunda-feira, entro no carro, faço marcha-atrás e, por uma unha negra ou por protecção divina, não o desfaço contra a camioneta da carreira que deve no mínimo ser dez vezes maior que a minha viatura. Ah, e eu não a vi, o que me faz lembrar que devo marcar consulta no oftalmologista, que também deve estar aborrecido por não aparecer por lá há mais de dois anos, quando combinei lá ir de seis em seis meses, de preferência à segunda-feira.
À imagem dos outros dias também à segunda-feira compro o “Record”, que para meu desalento informa que o Benfica perdeu a liderança do campeonato, bem como a série vitoriosa de jogos que vinha disputando até então.
É à segunda-feira que os trolhas costumam faltar ao trabalho, no caso de haver sobrado, dos alucinantes fins-de-semana, algum para gastar. Às vezes, muitas vezes até, penso que dentro de mim vive um trolha recalcado que por trabalhar às segundas-feiras se sente culpado por não ter nobreza nem sentido de classe.
Enquanto me dou a estes devaneios, ligo o computador e reparo que não tenho mensagens para responder. Sintonizo a rádio numa estação decadente. A música que está prestes a tocar chama-se: “I Don´t Like Mondays”.
Pela primeira vez não me sinto sozinho nesta cruzada contra as segundas-feiras!
Festival “Terras Sem Sombra” no concelho de Odemira
O concerto da harpista austríaca Elizabeth Plank é um dos destaques do programa do festival “Terras Sem Sombra” (TSS), que neste fim de semana, dias