Guerras de alecrim e manjerona

Mário Simões

António José da Silva, mais conhecido por o “Judeu” representou em 1737 uma peça satírica que foca a rivalidade entre ranchos carnavalescos, o “Alecrim” e a “Manjerona”. A história tem muito mais, mas quero situar-me apenas no cerne do enredo teatral para o colar à realidade presente.
É de “guerras de alecrim e manjerona” que se está a estruturar o combate político regional. É de não factos, de não notícias, na falta de assunto que vive a oposição socialista ao actual Governo e, consequentemente à liderança regional do PSD.
Penso ser oportuno focar casos diferenciados e marcados por um discurso político com substância.
O exemplo de Francisco Assis, enquanto presidente do grupo parlamentar socialista que intervinha na Assembleia da República, tomei-o como uma referência na forma de fazer e viver a política. Muitas vezes estava em desacordo com as suas interpretações e posicionamentos, mas era patente a sua capacidade em expressar ideias. Pensava diferente, mas não era trauliteiro, nem se perdia em banalidades. Era (é) clarividente.
Foco na minha crónica uma figura cimeira do Partido Socialista, para vincar a indiferença que me merecem as posições marcadas com um forte pendor para o ridículo da liderança socialista do Baixo Alentejo, mais os seus “muchachos” que congeminam a agenda do combate político, apenas para dar sinal de vida ou para apostar nos registos sem justificação nem sentido.
A tarefa reside apenas para aproveitar as vantagens dos canais por onde veiculam as suas diatribes, conceitos e abstracções sempre com o propósito de menorizar o valor e a capacidade e até a visibilidade dos seus adversários políticos. As suas análises estão sistematicamente marcadas pela sobranceria, a auto-suficiência.
A fórmula é velha e como tal está gasta e desacreditada. Vive apenas dos conceitos em tudo semelhantes aos que foram trabalhados por António José da Silva, ou seja: procurar realçar com uma forte carga irónica, o que não merece ou não tem peso ou significado. Dar importância ao que não a tem. Enfim, fazer da vacuidade o fundamento do seu discurso pretensamente político, que na realidade não passa do que podemos definir como “peixeirada”.
Outro contraponto: a postura do PCP de Beja e do seu representante na Assembleia da República.
Não concordo com a forma e muitas vezes com o conteúdo do seu ideário político. Mas com os deputados do PCP é possível estabelecer bases de trabalho. São directos e frontais.
A liderança socialista do Baixo Alentejo esquece, ainda por cima, os seus telhados de vidro, já cobertos pelas pedras acumuladas ao longo dos últimos 15 anos.
Pretender falar de ética política acusando os outros de aproveitamento que as tão famigeradas cunhas proporcionam é tentar fazer esquecer que em Portugal, na realidade, temos o que podemos designar sem qualquer excesso verbal um “partido de cunhados”.
A história recente revela-nos isso mesmo: como o aparelho de Estado foi apropriado até ao tutano por uma clique que agora pretende arvorar-se defensora de princípios republicanos e socialistas.
Um eufemismo apenas, mas que dá conta de uma realidade que desconforta. Reduziram a coisa pública a um estado de alma depressivo, sem horizontes nem perspectivas.
Mas de uma coisa não se podem livrar, nem sequer contornar: serão sempre os cidadãos a definir o que é o trigo e o que é o joio. É uma questão de dar tempo ao tempo.
E termino com um parágrafo da prosa de alguém que não sendo de hoje antecipou premonitório, uma herança desgraçada. Falo de Guerra Junqueiro em 1896.
“Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai…”
Um povo assim não pode existir no Portugal de hoje.
Um povo assim, não será nunca o povo alentejano!

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