Global e local

Quinta-feira, 17 Setembro, 2020

Teresa Chaves

presidente da Cáritas de Teja

Estamos a assistir a um redesenhar da arquitectura financeira / económica a nível mundial. A crise financeira que estamos a viver é disso um sintoma. Pensar o futuro com base no passado e no presente não me parece muito adequado. Penso mesmo que seria importante darmos um salto criativo e tentar imaginar uma sociedade totalmente diferente da que conhecemos. Não é fácil, no entanto temos alguns pontos para olharmos como ponto de partida. O Estado Social como o conhecemos dificilmente poderá subsistir, dizem os economistas. Desde logo devido ao problema demográfico. Muito embora se olharmos para a legislação, diríamos que temos excesso de nascimentos. O emprego por conta de outrem também está e irá continuar a diminuir. O que fazer se realmente se vier a concretizar a existência de uma sociedade com desemprego por conta de outrem e com pouco apoio social? Nomeadamente nas grandes cidades? Parece-me que iremos ter de olhar para o local e regional com outra atenção. A nossa região tem muitas potencialidades que necessitam ser desenvolvidas. Desde logo o regadio através das infra-estruturas do Alqueva poderá dar novas possibilidades de auto-emprego. Importa valorizar o que temos e o que somos. Pequenas empresas familiares que se queiram dedicar a produzir e transformar produtos agrícolas – as agro-indústrias. Com o regadio, pequenas parcelas de terra já podem ser viáveis economicamente, se houver estruturas de apoio ao estudo de mercados e à comercialização. Para isso é necessário que a legislação referente ao parcelamento agrícola seja alterada. O problema eterno em Portugal é que a legislação demora a se actualizar às necessidades da sociedade. Em todas as áreas de actuação, seja económica seja na área social. É necessário agir com a rapidez e flexibilidade necessárias para atenuar os efeitos negativos. Sabemos que não há dinheiro, que as carências sociais estão e continuarão a aumentar, até podemos ter algumas soluções para os problemas, mas não temos flexibilidade de legislação para avançarmos ao ritmo que seria necessário. Urge pois que todos nos compenetremos que é necessário uma mentalidade nova, de maior flexibilidade, de maior adaptação às realidades, importa é que cada um contribua para ajudar a criar condições para uma convivência pacífica em que todos e cada um tenham o suficiente para ter uma vida digna. Deixemos de ter como base de raciocínio um Portugal rico com as respectivas exigências. Aprendamos a conviver num Portugal com menos dinheiro, mas com potencialidades para ser um país onde se poderá viver, se todos colaborarem, em harmonia. É possível, se todos se empenharem nesse objectivo.

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