Ecologia integral

D. António Vitalino Dantas

Bispo de Beja

A ecologia estuda as relações entre os organismos vivos e o meio ambiente onde se desenvolvem, lemos na encíclica Louvado sejas (n. 138). O ser humano, dotado de capacidades reflexivas, deve pensar e orientar a sua vida, corpo e espírito, em todas as relações, sem excluir nenhuma. Nos capítulos IV e V da encíclica o Papa Francisco menciona e descreve todas essas relações, mostrando a sua importância para a realização plena e harmónica do ser humano.
A ecologia ambiental, económica e social estão interligadas. Nenhuma pode ser excluída em benefício de alguma delas. A exclusão de alguma dessas relações ou de algum membro da nossa sociedade é um empobrecimento da realidade e tem repercussões no bem integral do todo. Por isso, como seres dotados de inteligência, criados à imagem e semelhança de Deus, foi-nos confiado o cuidado de toda a criação. O nosso próprio bem depende do todo que nos envolve.
O desenvolvimento económico, desligado de todos os outros aspectos, procura apenas o maior lucro, o mercado, sem ter em conta o desenvolvimento humano e social e sem preservar o ambiente. A técnica ao serviço da economia causa muitos estragos ao ambiente e lança muita gente para o desemprego. Como já foi dito nestas considerações sobre esta encíclica, o trabalho faz parte da realização da dignidade humana. Um desenvolvimento sem consideração da dignidade da pessoa torna-se desumano. É preciso saber colocar a técnica ao serviço da pessoa e não ao contrário. Já D. José do Patrocínio Dias, o bispo-soldado de Beja, dizia que uma máquina ceifeira tirava o trabalho a 40 pessoas. O que se fez delas? Muitas ficavam nas praças das aldeias à espera que alguém as contratasse. Outras emigraram. E assim começou a desertificação do Alentejo. Hoje, muitas aldeias estão desertas ou apenas habitadas por idosos. Como rejuvenescer a nossa sociedade? Esta encíclica põe a descoberto muitos dos erros do nosso desenvolvimento desumano. Sem apresentar soluções, pois não é essa a missão da Igreja, no entanto alerta os nossos políticos e empresários a não pensarem apenas no progresso económico e financeiro, depredando e degradando os nossos ecossistemas e tratando muitos seres humanos como descartáveis, lançando-os para as bermas do desenvolvimento tecnológico. A cultura e a justiça intergeracional também devem ser respeitadas.
No capítulo V o Papa apresenta algumas linhas de orientação e ação, como o diálogo sobre o meio ambiente na politica internacional, pensando o mundo como a casa comum de todos. Os acordos internacionais precisam de ser levados à prática, tendo em conta os países mais pobres. É preciso por a politica e a economia ao serviço da vida humana e ter em conta o património das religiões no diálogo com as ciências.

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