Nunca fui especialmente boa a matemática, aliás sempre tendi para as letras, ainda que também neste campo não seja especialmente boa. E agora que penso nisso, não há nada em que seja realmente competente (talvez a auto-análise seja a excepção) o que me enche de profunda dor e desespero, mas isso será tema para outro dia.
Ainda que a economia me aborreça e até hoje use os dedos para somar (o que não se tem revelado problema, porque as contas que mais faço são de subtrair e dividir), nada tenho contra a matemática.
Mas… cultura e números, porque estão os dois sempre tão ligados? Ou haverá quem despenda energia e esforço no sentido de as tornar inseparáveis?
É impossível falar de cultura nesta cidade sem que venha à baila o dinheiro. Os eurinhos. Lápis atrás da orelha e aqui vamos nós. Uns números mais certos que outros, umas informações mais correctas que outras, factos nublados e temos de avançar para a Casio.
E ideias, minha gente?! Onde andam elas? Se é verdade que não nos alimentamos de ar, também é verdade que a alma precisa de alimento, e pode haver um quadro, um poema ou uma música que nos saiba melhor que uma mousse de chocolate.
O engenheiro começa pelas fundações do mamarracho que vai construir. Esta lei aplica-se a tudo o que queiramos pôr de pé. Se não há ideias, fundamentos, regras, objectivos a cumprir, vamos erguer o quê?
É público e sabido que estamos em crise (oh meu deus! A crise!): não há dinheiro, pilim, verbas, carcanhol. Se este é um factor fundamental para levar projectos adiante? Claro, não o nego. Mas que projectos queremos levar a cabo? O que é que estamos a construir? Há uma construção? Não deveríamos falar das ideias antes, assentá-las e só depois pensar nos meios para o conseguir?
Qual crise financeira!… A crise de ideias, de objectivos e de capacidade de planear, essa sim é grave. Se é verdade que os efeitos negativos causados por esta crise não são tão visíveis no imediato, as suas consequências a médio-longo prazo serão, sem dúvida alguma, mais gravosas, porque atarracam os espíritos e nada pior pode existir para o futuro de uma nação.
E porque é que confundimos cultura com dinheiro? Não confundimos, mas a táctica de mudar de assunto resulta. A malta esquece-se da pergunta que fez, fascinada com a quantidade de números memorizados, porque somos todos pessoas para nos deixarmos levar facilmente pelas enormes capacidades de memorização alheia, especialmente com números.
O 25 de Abril está aí e é preciso celebrar. Sejamos honestos: não era isto que se sonhava em 1974. Estamos todos desiludidos e zangados, à espera de uma revolução, mas desta vez “a sério”. É óbvio que muito ficou por fazer, que houve e há boas intenções que nunca saíram do papel e que urge pôr em prática, mas pensemos no que foi realmente concretizado. Como diria o outro: “Valeu a pena? Valeu pois!”. Falta ainda muito para que o Abril sonhado se cumpra, ainda não estamos habituados a esta coisa que nasceu nesse dia que é a “liberdade”, mesmo (talvez principalmente) aquela mais apregoada e falada: a de expressão. Diz-se que é a educação democrática que nos falta. Parece-me que sim.
Espanta-me que haja gente que não concorda comigo! Fico furiosa!