A pandemia teve um forte impacto na economia em 2020, mas mesmo assim a Caixa Agrícola de Aljustrel e Almodôvar fechou o ano com um resultado líquido positivo de quase 640 mil euros. Em entrevista ao “CA”, o presidente do conselho de administração, Orlando Felicíssimo, sublinha que foi um ano “bastante positivo”.
Que balanço se pode fazer do ano de 2020 para a Caixa Agrícola de Aljustrel e Almodôvar (CA)?
No geral, e de uma forma global, os resultados foram bastante animadores quando olhamos para todos os indicadores da CA. Todos os indicadores ficaram bastante confortáveis, sólidos e dentro dos padrões que são recomendados pela Caixa Central para as caixas. Conseguimos inclusivamente cumprir o rácio de eficiência, que é sempre um bocadinho mais difícil dado o contexto que se vive hoje, de baixas taxas de juro e baixa rentabilidade. Em termos de resultados líquidos, e atendendo ao ano que foi, posso dizer que foi bom. Mas estamos a falar de um resultado líquido de cerca de 639 mil euros, bastante inferior ao resultado registado em 2019.
Cerca de metade.
Pouco mais de metade, sim! No entanto, foi um ano muito atípico. Apesar das actividades estarem a funcionar, em Março/ Abril do ano passado – que foi quando pela primeira vez se vivenciou a experiência do estado de emergência e do confinamento – houve muito receio na população em geral. E notou-se nessa altura uma grande quebra em termos comerciais, que deixou marcas na actividade do banco. A recuperação aconteceu, porque depois do confinamento as pessoas começaram novamente a sair e a tentar regressar a uma certa normalidade. Foi isso que fez com que o resultado fosse mais baixo em 2020, Ainda assim, e atendendo a estas vicissitudes todas, estamos satisfeitos pela forma como fechámos o ano de 2020.
Porquê?
Porque conseguimos fechar com resultados positivos perto de 640 mil euros e conseguimos crescer no volume de negócios. A CA cresceu 6,55% em termos de volume de negócios no ano de 2020 e todos os balcões registaram crescimento no volume de negócios. Além de termos crescido em volume de negócios, crescemos também em quota de mercado, o que é positivo.
Qual a vossa quota de mercadoactual?
Em termos de crédito, a quota de mercado global da CA é de mais de 44% nos três concelhos onde operamos. E se nos focarmos só no concelho de Aljustrel, são mais de 64% de quota de mercado no crédito. E em termos de quota de mercado global média, ou seja, recursos e crédito, nos três concelhos superou os 41%, o que é um número bastante simpático. E no caso do concelho de Aljustrel, que é onde temos uma quota maior, supera os 60%. Portanto, no geral, foi um ano bastante positivo para a CA, porque conseguimos crescer, ganhar quota de mercado, ter resultados positivos e manter os indicadores controlados – nomeadamente o crédito vencido, que está abaixo de 1%. 2020 foi um ano difícil e atípico, que a CA conseguiu ultrapassar mantendo o seu caminho e a sua performance.
Um ano que permitiu à Caixa de Aljustrel e Almodôvar afirmar e demonstrar a sua “solidez”.
Penso que só se conseguiram estes resultados precisamente por a CA estar sólida. Porque se tivéssemos indicadores mais frágeis poderia ser mais complicado… É um trabalho que tem vindo a ser feito ao longo dos anos e é nestes anos mais difíceis que conseguimos ter maior noção da necessidade que é termos a Caixa bem consolidada. Foi um ano muito difícil, mas que acabou por ser, para nós, um ano bastante positivo.
Uma das medidas de combate aos efeitos da pandemia na economia por parte do Governo foi a aplicação de moratórias aos créditos. Receberam muitos pedidos desses?
Tal como todas as instituições, tivemos bastantes clientes que recorreram a essa medida. No nosso caso, em termos percentuais, estamos abaixo da média do grupo [Crédito Agrícola], que foi de 20% em termos de carteira de crédito. No nosso caso ficou nos 13%. Analisámos todas as situações à luz da legislação e em todos os casos em que se aplicava foi concedido o acesso à moratória. Todos esses casos estão a ser monitorizados e acompanhados, no sentido de prevenir situações que possam correr menos bem. Mas estamos em crer que não teremos muitas situações dessas aqui na região, até porque continua a haver emprego. E essa é uma questão fundamental! É certo que houve muitas famílias que passaram momentos difíceis, com a questão do layoff ou a redução de salário em algum período, mas não temos notícias de terem havido muitas empresas a fechar portas ou a despedir massivamente. E isso faz-nos acreditar que este é um período difícil, mas que a região vai conseguir ultrapassar e resolver.
Notou-se uma retracção no consumo e nos investimentos?
Bastante! Principalmente no segundo trimestre [de 2020], que apanhou o primeiro estado de emergência e confinamento geral. Nesse trimestre houve uma enorme retracção, tanto no consumo como nos investimentos. Porque as pessoas tinham medo. Mesmo quem não estava com problemas económicos ou de emprego, acabou por ficar com receio de fazer investimentos naquela altura. E isso fez com que houvesse uma travagem a fundo das actividades. A partir do início do Verão as coisas começaram a evoluir, mas nunca foi a mesma actividade que era normal em anos anteriores. E isso teve um grande impacto! É também por isso que o nosso balanço no geral acaba por ser bastante positivo. Porque chegarmos ao final de um ano como este a crescer em volume de negócios e em quota de mercado é muito positivo.
E em termos de produtos não-financeiros, como correu o ano de 2020?
Também aí crescemos e aumentámos as vendas. Por isso, acabo por fazer um resumo global muito bom [de 2020], apesar do resultado líquido do exercício ter sido menor. Mas para a dificuldade que foi o ano de 2020, acho que acabou por ser muito mais gratificante o resultado global alcançado – ainda que inferior ao de 2019 –, dadas as dificuldades que se viveram ao longo do ano.
“Além de termos crescido em volume de negócios, crescemos também em quota de mercado, o que é positivo.”
Apesar das incertezas que subsistem, como é que a Caixa de Aljustrel e Almodôvar perspectiva este ano de 2021?
Com alguma expectativa e alguma esperança. Vai ser mais um ano difícil, mas, pelo que me apercebo, a atitude de todos nós, de uma maneira geral, é diferente neste confinamento do que foi no confinamento de Março [de 2020]. Neste momento estamos em confinamento geral e em estado de emergência e estamos com menos negócio, mas não ao nível do que aconteceu em Março do ano passado. Continua a haver alguma procura de clientes particulares e empresas e parece-me que não está a acontecer aquilo que aconteceu em Março de 2020, em que parou tudo! As pessoas estão a tentar cumprir com as regras de segurança e a respeitar as medidas de confinamento, mas estão a tentar continuar com a sua vida com alguma “normalidade”! Portanto, espero que 2021 não seja um ano tão difícil quanto foi o de 2020.
Qual o grande objectivo da CA para este ano?
A nossa maior meta e desafio é subsistir e mantermos a CA num caminho de crescimento consolidado e consistente. O que, atendendo a todas as vicissitudes actuais, não há-de ser tarefa fácil… Mas não vai ser para ninguém! Portanto, este não é ano para apontarmos a grandes inovações em termos de investimentos, mas sim um ano para tentarmos subsistir e continuar a trabalhar de uma forma sólida e segura.
Sente que esta pandemia vai levar a um retrocesso de muitos anos na economia nacional ou acredita que a crise será mais passageira do que muitos preconizam?
Em termos nacionais não tenho uma visão tão agradável da situação. Os nossos indicadores macro-económicos e a nossa estrutura enquanto país têm algumas fragilidades, o que faz com que quando existam crises transversais tenhamos mais dificuldades e levemos mais tempo a sair da crise. Isso acaba por ser inevitável, porque temos mais fragilidades. Mas tenho alguma esperança que na nossa região, olhando para a zona onde actua a CA, os efeitos não sejam tão graves e a recuperação seja mais rápida.
Porquê?
Porque continua a haver emprego, as empresas continuam a funcionar e os investimentos – embora tenha havido alguma quebra – continuam a existir. Quero acreditar que seremos uma das regiões que vai conseguir mais rapidamente ultrapassar esta fase difícil. Ao contrário de outras regiões, que serão fortemente afectadas, como por exemplo o Algarve, com a questão do turismo. Acredito que nessa zona do país seja muito mais penosa e muito mais difícil a recuperação.
A agricultura continua a ser o sector com mais peso na vossa actividade?
Continua a ter um peso muito relevante na nossa actividade, de mais de 40%. Ainda assim, a CA exerce a sua actividade de uma forma muito transversal e apanha todo o tipo de clientes. Cada vez mais queremos ser o banco da terra e o banco da região de uma forma transversal para todo o tipo de clientes.