António Figueira: “Guadiana estava num vazio completo”

António Figueira:

O vazio directivo que ameaçava a existência do clube levou António Figueira a avançar para a presidência do Guadiana de Mértola, tendo já “linhas orientadoras” bem definidas para o seu projecto.
“Desde logo, a manutenção do futebol sénior só com a ‘prata da casa’ e um orçamento reduzidíssimo. Já a formação vai começar a ser paga. Havia também a questão do investidor privado, que estava a ganhar algum peso, mas dissemos claramente que connosco não havia espaço para investidores. Outra linha orientadora de fundo é que vamos começar a organizar-nos a partir de baixo e não de cima, como sempre tem acontecido”, anuncia em entrevista ao “CA”.

Está de regresso à presidência do Guadiana de Mértola, cargo que desempenhou entre 2014 e 2016. O que o fez voltar ao cargo?
Era presidente da Assembleia Geral e fiquei com a chave na mão… E perante esse cenário de indefinição total não havia outra solução. Entendi que devia viabilizar uma solução directiva para o Guadiana.

Sob risco de o clube fechar portas.
Sim! Já tinha marcado três processos eleitorais e todos ficaram desertos. Portanto, na última assembleia preparei um plano “B”. Ainda tentei até ao último segundo que alguém avançasse com uma comissão administrativa, mas não aconteceu. E o meu plano “B” era reunir um conjunto de pessoas [para formar uma lista liderada por mim] e felizmente consegui.

Na página do clube no Facebook os novos órgãos sociais foram apresentados sob o lema “Renascer”. Porquê?
É como lhe disse, o clube estava num vazio completo! As assembleias eram cada vez menos frequentadas e as pessoas admitiam que o Guadiana podia acabar. Mas eu não quis que assim fosse. A única alternativa era viabilizar uma solução directiva e apresentei logo às pessoas as linhas orientadoras, que, no fundo, são aquilo que nos vai guiar nos próximos dois anos.

Que linhas orientadoras são essas?
Desde logo, a manutenção do futebol sénior só com a “prata da casa” e um orçamento reduzidíssimo. Já a formação vai começar a ser paga. Havia também a questão do investidor privado, que estava a ganhar algum peso, mas dissemos claramente que connosco não havia espaço para investidores. Outra linha orientadora de fundo é que vamos começar a organizar-nos a partir de baixo e não de cima, como sempre tem acontecido. Ou seja, vamos reorganizar o clube de baixo para cima, criando um apoio administrativo e tendo uma sede a funcionar num horário normal para sócios e patrocinadores. É este o nosso projecto e foi por isso que utilizamos a palavra “renascer”, que acho que se adequa perfeitamente.

Relativamente ao interesse de investidores privados no Guadiana, qual era a proposta em concreto?
Era um senhor brasileiro, que tinha por trás um treinador português e um investidor nigeriano. Mas o nosso projecto não contempla nenhum passo nesse sentido… Não queremos construir nada em cima de um monte de areia, que é isso que temos neste momento. Temos de começar a organizar o clube a partir de baixo e isso era dar um tiro nos pés. Era estarmos a começar outra vez a criar uma organização em torno da equipa sénior, o que me parece que, na nossa realidade, não pode ser.

Circulou o rumor de que o Guadiana de Mértola iria desistir da 1ª divisão distrital. Confirma essa informação ou pode dar a garantia que o clube se vai manter neste escalão em 2020-2021?
A garantia é que, neste momento, nós – enquanto direcção – já reunimos com um grupo alargado de pessoas directamente relacionados com o futebol sénior, quer jogadores quer com a equipa técnica do último ano, e há uma base de entendimento comum, em que consideramos que é importante o clube ter uma equipa sénior. A direcção definiu algumas regras, os jogadores também deram algum contributo sobre como isto poderia ser feito e, neste momento, só não se fará [equipa sénior] se de facto não houver número de atletas suficiente ou que estes não caibam no nosso plafond máximo. Mas neste momento penso que é uma ambição possível de concretizar, pois há um conjunto de jogadores identificados no concelho, uns que deixaram de jogar por motivos diversos, outros que têm jogado no INATEL ou na 2ª divisão. Portanto, vamos tentar trazer de volta esses atletas da terra, que passaram todos pela nossa formação e fazer uma equipa em torno deles.

A equipa sénior será baseada na “prata da casa”, reforçando a aposta na formação?
O nosso trabalho na formação já vem de algum tempo e é para manter. Nessa área temos feito um excelente trabalho e se formos verificar os últimos seis anos – pelo menos – tem sido sempre a crescer. Dificilmente conseguiremos fazer melhor do que temos feito nos últimos anos e a ideia é consolidar esse trabalho. Haverá é outras regras, pois os pais vão ter de começar a ter uma comparticipação [financeira] diferente.

Acredita que essa ideia de os pais pagarem para ter os seus filhos a praticar futebol será bem aceite?
Penso que sim… É uma coisa que já vínhamos falando e as pessoas percebem que, de facto, não é fácil manter tanta logística. Por isso, acho que uma comparticipação [financeira] vai ser bem aceite, não tenho grandes dúvidas. Além do mais, não estamos a falar de grandes valores. Penso que vai ser pacífico.

A realidade financeira do clube preocupa-o?
Claro que sim….

Porquê?
Temos uma realidade financeira que não é fácil, mas também nunca foi muito fácil. Agora está um bocadinho difícil, sim, mas não é isso que nos amedronta. A parte financeira é difícil de recuperar, mas acho que é possível recuperar neste mandato. Para isso, vamos ter que fazer uma gestão equilibrada e não começarmos a construir o orçamento pela equipa sénior. Vamos fazer um orçamento, mas é para liquidarmos a dívida que temos.

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Correio Alentejo

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