Eleito em julho deste ano, o novo presidente da Entidade Regional de Turismo do Alentejo, José Manuel Santos, assume, em entrevista ao “CA”, que o setor tem vários desafios pela frente, assim como um grande potencial para continuar a crescer.
Foi eleito presidente da Turismo do Alentejo em julho. Qual tem sido a sua prioridade nestes quase três meses que leva de funções?
A primeira grande prioridade foi voltarmos “ao terreno”, contactar a nossa base associativa, os nossos municípios e os nossos empresários. E aproveitando esse regresso ao terreno, começámos a construir o plano de atividades para o próximo ano. Tem sido um processo participativo, exigente para nós, […] mas diria que é um exercício de governação novo no terreno: ouvir para poder fazer melhor. A segundo prioridade foi olhar para aquilo que ainda temos para fazer neste ano, procurar selecionar alguns projetos que para mim são estratégicos – desde logo, organizamos uma campanha promocional para esta época de transição entre o final do verão e o início do inverno. Vamos lançar essa campanha na segunda semana de outubro, que nos vais possibilitar colocar o Alentejo e o Ribatejo num bom patamar de visibilidade no mercado nacional. Também algumas iniciativas que já vinham de trás e que queremos concretizar, como o Festival de Caminhadas do Transalentejo. Queremos ainda começar a “atacar” a questão da falta de recursos humanos [no setor], preparando uma grande feira de turismo e emprego que possa fazer o matching de forma mais eficiente entre a oferta de postos de trabalho pelas empresas de alojamento e a procura. E temos trabalhado non-stop nestes quase 90 dias para procurar apoiar o grande trabalho e esforço que os municípios e as empresas têm feito.
Qual o maior desafio que o turismo no Alentejo tem pela frente?
Alargar a visitação a todo o território! Repare que Évora e o Litoral Alentejano concentram 70% das receitas que o turismo gera no território. E o que queremos é redistribuir os turistas pelo território. Queremos atrair mais turistas portugueses e mais turistas estrangeiros, porque o índice de internacionalização do turismo no Baixo Alentejo, por exemplo, ainda é muito reduzido. Precisamos de incrementar a visitação em geral ao território e, para isso, precisamos de aumentar a oferta de alojamento. Precisamos de mais oferta e de mais qualidade, para alargar a visitação a todo o território.
A falta de recursos humanos, de mão de obra, é a grande “lacuna” do setor na região?
É um problema nacional, até europeu e mundial, que já não se coloca só aos serviços. Mas no que diz respeito ao Alentejo e ao turismo, precisamos, de facto, de captar mais pessoas [para trabalhar na área]. Por isso, vamos atuar em duas linhas. Uma mais de curto prazo, que é organizar a Bolsa de Empregabilidade do Turismo do Alentejo, que vai ser no próximo ano. Será uma primeira grande ação em Évora, em fevereiro [de 2024], à qual depois se vão somar bolsas “satélite”, uma no Baixo Alentejo, uma no Litoral Alentejano, outra no Alto Alentejo e ainda no Ribatejo. E depois, num investimento de médio-longo prazo, queremos criar um plano de atração de talentos para a hotelaria e para o turismo do Alentejo.
A formação será igualmente importante para haver mais oferta de recursos humanos? Sobretudo cursos profissionais orientados para o turismo?
Há um problema estrutural na formação… Temos muitos cursos de formação e muitos operadores de formação! A entidade regional não quer ser um operador de formação, quer é que as respostas de formação sejam consentâneas com as necessidades que o turismo tem. Repare: terei muita dificuldade em ter uma estratégia específica de venda do Alentejo para o mercado alemão se não com seguir incrementar a fluência do alemão nas receções dos hotéis. É apenas um exemplo… Ou seja, temos de formar as pessoas numa lógica mais básica, tendo em conta o que são as aptidões mais padronizadas para a receção, mas depois temos de lhes dar novas competências para responder às exigências dos turistas. Este é um esforço hercúleo e a entidade regional não vai conseguir fazer nada sozinha, é um trabalho da região!
Já falaram com as escolas profissionais, com os politécnicos e as universidades a manifestar essas necessidades de formação?
Ainda não, mas é claramente um trabalho a fazer. Temos de tentar criar uma arquitetura global de formação – e há muitas verbas do Fundo Social Europeu para isso – para que a formação no setor do turismo na região seja mais orientada para aquilo que são os novos desafios da hospitalidade. Vamos tentar dar o nosso contributo, ainda que não tenhamos nenhuma varinha mágica.
O verão já terminou. Foi uma boa época para o turismo no Alentejo?
Tem sido, de facto, um bom ano turístico. Até julho fomos a região de Portugal que mais cresceu no mercado interno, quase 9%. Só no mês de julho fomos a região que cresceu mais no mercado externo, cerca de 11,5%. Temos crescido comparativamente a 2019, que tinha sido o melhor ano de sempre e estamos a crescer em proveitos mais de 50%. Estamos a ganhar quota de mercado no mercado nacional, o que prova que as nossas empresas estão a ser muito competitivas num ano difícil e exigente. E estamos otimistas que vamos ter – muito graças à procura internacional – um bom último trimestre [de 2023].
Qual é, neste momento, a quota de mercado do Alentejo no turismo em Portugal?
O Alentejo anda entre os 4 e os 5%. Mas no indicador da receita por quarto disponível já não estamos em último, pois temos uma receita média por quarto de 40 euros. Mas temos de crescer! O turismo no Alentejo é um fenómeno relativamente recente, desde a década de 90, com a classificação de Évora como património da UNESCO. Não temos grandes ex-libris como outras regiões, mas temos feito um caminho seguro e gradual e queremos crescer em oferta e em procura. E pelos investimentos que sabemos que vão brevemente surgir [na região], acredito que o Alentejo continua a ser o destino com o maior potencial no turismo em Portugal.